É quase inevitável, a nossa comida está “contaminada”.
A produção em massa de alimentos, onde se incluem as frutas e legumes, e a nossa exigência de os ter disponíveis em qualquer altura do ano, fez com que a indústria agroalimentar começasse a usar soluções químicas como primeira opção.
Neste momento, o uso de pesticidas – herbicidas, fungicidas, inseticidas e moluscicidas – é uma prática extensamente difundida e, em grande parte dos casos, é o que garante os níveis de produção atuais de muitas culturas, os preços (ainda) acessíveis de muitas frutas e legumes e a “rentabilidade” de muitos produtores agrícolas.
Numa sociedade em que o preço de venda é o grande fator na decisão de compra, muitos produtores veem os agrotóxicos como a solução mais fácil. Contudo, com ela são muitas as desvantagens que surgem, tanto ao nível da saúde humana como do equilíbrio dos ecossistemas do planeta terra.
Mas estes químicos fazem mal à saúde?
Para além da perda do valor nutricional e sabor original das nossas frutas e vegetais (muito promovidos pelo uso excessivo dos solos e a prática de monoculturas), esta utilização massiva de agrotóxicos traz-nos muitas desvantagens.
Grande parte delas estão relacionadas com a nossa saúde. Hoje sabe-se que um grande número de pesticidas, ainda em uso em várias partes do mundo, está diretamente ligado a doenças do sistema nervoso, desenvolvimento cerebral, alergias, diminuição de fertilidade, alterações no balanço hormonal e incidência de diversos tipos de cancro.
Nos últimos anos foram muitos os estudos que surgiram sobre o assunto e que nos levam a crer que uma dieta biológica (ou parcialmente biológica) é a melhor opção.
Estudos esses, por exemplo, que relacionam o consumo de produtos biológicos com menos casos de cancro, o consumo de alimentos com alto teor agrotóxico a mais problemas de fertilidade, ou que correlacionam uma dieta orgânica de apenas 6 dias a uma redução de 60% nos níveis de pesticidas sintéticos encontrados na urina dos participantes.
E que outras desvantagens têm os agrotóxicos?
Não há outra forma, pensar no ambiente é consumir biológico. Uma produção agrícola baseada em princípios biológicos garante (em média) uma diminuição de 48% a 60% das emissões de CO2.
Só em termos energéticos, metade da energia gasta na indústria agrícola relaciona-se com o transporte de adubos de síntese e produção industrial. A esta desvantagem juntam-se muitas outras, como a poluição e desgaste dos solos, assim como a destruição de habitats e biodiversidade.
O que são os Dirty Dozen?
Os Dirty Dozen – também conhecidos como EWG’s Shopper’s Guide to Pesticides in Produce – são uma lista em ranking, atualizada todos os anos, e que apresenta quais as 12 frutas e legumes mais contaminados por agrotóxicos (de acordo com as análises feitas durante esse ano).
Este guia é baseado em mais de 35 mil amostras de 48 frutas e legumes “populares”, testados e analisados pelo U.S. Department of Agriculture and The Food and Drug Administration.
Esta lista, assim como os Clean 15, é desenvolvida pela EWG – The Environmental Working Group – uma organização não lucrativa dedicada a proteger a saúde humana e ambiente.
Dirty Dozen 2019: quais as frutas e legumes com mais agrotóxicos?
Por ordem de maior taxa de resíduos de pesticidas para menor:
- Morango
- Espinafre
- Couve
- Nectarina
- Maçã
- Uva
- Pêssego
- Cereja
- Pêra
- Tomate
- Aipo
- Batata
Quais as grandes conclusões da edição de 2019 dos Dirty Dozen?
- Mais de 90% das amostras de morango, maçã, cereja, espinafre, nectarina e couve testaram positivo para resíduos de 2 ou mais pesticidas;
- Várias amostras de couve mostraram resíduos de 18 pesticidas diferentes;
- Couve e espinafre mostraram 10% a 80% mais resíduos de pesticidas por peso do que qualquer outra fruta ou legume analisado.
O que se pode fazer diferente?
A primeira dica é consumir alimentos orgânicos e biológicos – especialmente quando falamos dos mencionados na lista acima (Dirty Dozen).
Contudo, e considerando que os produtos biológicos, na sua generalidade, são um pouco menos “acessíveis” a nível financeiro, se não te for possível comprar os mencionados acima em registo biológico, podes sempre optar por substituir: escolhendo frutos e legumes da época e locais (nestes, por norma, são utilizados menos agrotóxicos na sua produção e distribuição).
Outra forma de conseguir frutas e legumes biológicos e mais saudáveis é plantando-os. E acredita, não é nada complicado conseguir produzir alimentos saborosos, saudáveis e biológicos no teu quintal, varanda ou até janela.
Hoje em dia já são várias as formas fáceis de produzir alimentos biológicos em casa (e muitas mais as razões): seja através de mini-jardins, grow boxes, floreiras e vasos ou mesmo um sistema de cultivo inteligente, eficiente e simples de usar.
Se decidires que versões biológicas dos teus frutos e legumes preferidos não é uma opção, podes sempre experimentar outros, bem mais limpos e saudáveis.
A mesma entidade que publica a lista dos Dirty Dozen, divulga também a lista dos Clean 15: os 15 frutos e legumes menos contaminados por agrotóxicos, de acordo com as suas análises anuais.
Estes, por serem “clean”, podem ser comprados sem o rótulo de “biológicos” mantendo a tua saúde inalterada. Eis a lista dos 15 “mais limpos”, de acordo com o The Environmental Working Group:
- Abacate
- Milho Doce
- Ananás
- Ervilhas congeladas
- Cebolas
- Papaia
- Beringela
- Espargos
- Kiwi
- Repolho
- Couve Flor
- Melão
- Brócolo
- Cogumelos
- Melão Doce
Algumas conclusões sobre esta edição da lista Clean 15:
- Menos de 1% das amostras de abacate e milho doce mostraram resíduos de pesticidas;
- Mais de 70% desta lista não apresentou qualquer resíduo de pesticida;
- À exceção do repolho, todos os outros frutos e legumes analisados nos Clean 15 mostraram menos de 4 pesticidas. Contudo, resíduos múltiplos são muito raros nesta lista (apenas 6% dos frutos e legumes desta lista testaram positivo para 2 ou mais pesticidas).
Que cuidados posso ter para minimizar os riscos?
Se te é complicado optar (sempre) por produtos biológicos, há alguns cuidados que podes ter com os legumes comuns e que os tornam menos agrotóxicos e prejudiciais para a tua saúde.
Lava-os bem em água corrente, deixa-os de molho numa solução de água e bicarbonato de sódio (1 colher de sopa para 1 litro de água) ou podes sempre descascá-los – em alguns legumes e frutas, se preferires consumi-los com casca, podes mesmo utilizar uma escova para retirar os possíveis resíduos de pesticidas que estejam presentes nas suas cascas.
Outras formas de lavar a casca podem passar pela utilização de iodo 2% (5 ml para 1 litro de água) ou vinagre (1 parte para 2 de água), deixando-os de molho, em média, durante 30 minutos.
Contudo, apesar da higienização reduzir a quantidade de agrotóxicos que consomes, geralmente não garante a sua total eliminação.
Em resumo, as dicas são simples: opta por legumes e frutos biológicos (principalmente se estes forem um dos Dirty Dozen), da época e locais. No caso de não conseguires optar por alimentos biológicos, sabe que os podes sempre plantar em casa e que deves lavá-los da forma mais adequada possível.