Dificuldade de concentração e esquecimentos frequentes: PHDA ou hiperestimulação?

Rita Gama Ferreira // Junho 4, 2025
Partilhar

A informação circula a uma velocidade alucinante. Somos constantemente estimulados por notificações, tarefas, conteúdos e expectativas. Naturalmente, o cérebro tenta dar resposta a tudo – e entra em sobrecarga cognitiva. O resultado? Falta de foco, esquecimentos, dificuldade em organizar ideias ou concluir tarefas. Recebo cada vez mais pessoas em consulta que se identificam com conteúdos sobre PHDA – Perturbação de Hiperatividade e Défice de atenção -, sobretudo nas redes sociais. É muito comum ouvir: “Isto acontece a toda a gente!”. Mas será mesmo PHDA? Ou será apenas o efeito de um cérebro hiperestimulado?

Vivemos numa era em que tudo acontece muito depressa! 

A hiperestimulação é um estado mental e físico causado pela exposição constante a estímulos, sem pausas para recuperação. E atenção: não são apenas os ecrãs ou as redes sociais que nos estimulam. Também o excesso de tarefas, decisões, responsabilidades ou expectativas. É como ter o cérebro sempre em modo “urgente”. Espera-se que sejamos pais atentos e disponíveis, companheiros presentes e emocionalmente estáveis, profissionais produtivos e criativos, com carreiras em crescimento e contas em dia. Ao mesmo tempo, temos que manter uma casa minimamente organizada, cultivar amizades, ter tempo de qualidade em família, manter uma vida sexual ativa, ir ao ginásio, comer saudável, dormir bem, acompanhar as notícias, estar atualizados. Para complicar… ter uma vida digital! Este acumular de exigências gera sintomas muito parecidos aos da PHDA: distração, esquecimentos, procrastinação, impulsividade, irritabilidade ou outros. Mas a causa é sobretudo contextual: quando o ritmo abranda, os sintomas tendem a diminuir.

A PHDA, por outro lado, é neurodesenvolvimental

Ou seja, presente desde a formação do cérebro. Não se desenvolve ao longo da vida, ainda que possa ser diagnosticada apenas na idade adulta. No domínio da atenção, é comum haver distração, esquecimentos ou dificuldade em manter o foco – não por falta de interesse, mas por desregulação atencional, que tanto pode levar à distração como ao hiperfoco. Já no eixo da hiperatividade e impulsividade, surge frequentemente uma inquietação ou agitação física e/ou mental, impulsos rápidos e dificuldade em parar ou esperar. Esta diferença de funcionamento está associada a uma desregulação química nos neurotransmissores, como a dopamina e a noradrenalina, e em alterações estruturais no nosso cérebro. Curiosamente, quem tem PHDA pode ter uma maior tendência a expôr-se a ambientes hiperestimulados. Ainda assim, devemos destacar características como a criatividade, pensamento rápido, capacidade de resposta em ambientes exigentes ou facilidade em criar relações ou contatos sociais. 

Utilizando uma analogia com uma empresa: 

Na empresa da hiperestimulação, há pedidos a mais, interrupções constantes, tarefas e notificações a entrar, um ambiente caótico. O sistema não tem tempo para respirar, e a produtividade cai – não por falta de capacidade, mas por excesso de estímulos. Quando o ritmo abranda, tudo volta a fluir.

Já na empresa da PHDA, é como se o CEO fosse excelente a gerar ideias e a resolver problemas, mas tivesse dificuldade na execução – planear, organizar, dar seguimento. Por isso, precisa de trabalho em equipa e de estratégias. A estrutura da empresa é diferente desde o início e, por isso, tem de adaptar e acomodar as suas características ao seu modo próprio de funcionar.

Apesar das semelhanças, há diferenças importantes entre PHDA e hiperestimulação. 

Quando os sintomas aparecem em fases de stress e desaparecem com novos hábitos, é provável que se trate de hiperestimulação. Se, pelo contrário, são persistentes desde a infância e interferem em vários contextos, pode tratar-se de PHDA. 

Estou Sempre a Mil

O livro que escrevi, onde exploro a fundo estas diferenças, com exemplos práticos e exercícios. Sentir sobrecarga não significa, por si só, ter PHDA – e ter PHDA não é uma falha, mas uma forma diferente de funcionar. Mais do que julgar, importa questionar: “Qual é o meu funcionamento e quais as minhas necessidades?”. A resposta certa pode mudar tudo.

Ler mais

Copyright © 2023 Simply Flow. Todos os direitos reservados.

Este site utiliza cookies para melhorar a sua experiência. Aceitar Saber mais