A adoção de hábitos de vida saudáveis não é uma figura de estilo e num estudo recente, publicado em 2018, onde foram analisados dados de mais de 120 mil registos da população dos Estados Unidos da América (EUA), a adesão a cinco fatores relacionados com um estilo de vida associado a baixo risco prolonga a esperança de vida aos 50 anos em 14 e 12,2 anos adicionais respetivamente para mulheres e homens.
Esses cinco fatores são os seguintes:
- nunca fumar;
- manter um peso saudável (índice de massa corporal entre 18,5 e 24,9 Kg/m2);
- dieta saudável;
- consumo moderado de álcool (até 15 gramas por dias para as mulheres e 30 gramas por dia para os homens);
- atividade física (pelo menos 30 minutos diários de atividade moderada a intensa, correspondendo a pelo menos 3 mEq/hora).
O impacto de um estilo de vida saudável ocorre principalmente na prevenção cardiovascular.
O impacto deste estilo de vida saudável ocorre principalmente na prevenção cardiovascular, onde se definem três tipos de prevenção, por ordem decrescente:
- Prevenção secundária – em doentes que já sofreram acidentes cardiovasculares;
- Prevenção primária – em doentes com fatores de risco e ainda sem doença;
- Prevenção primordial – em pessoas ainda sem fatores de risco.
Em todas estas fases um estilo de vida saudável acrescenta valor e mesmo nas fases mais avançadas isso sucede, tal como foi recentemente demonstrado num registo sueco que envolveu quase 65 mil doentes com antecedentes de enfarte do miocárdio. Os doentes que vieram a sofrer mais eventos cardiovasculares no futuro foram os que continuaram a fumar e se mantiveram sedentários.
Os números da Saúde Cardiovascular em Portugal:
A aterosclerose, doença degenerativa das artérias, que está na base de situações como o AVC e o enfarte do miocárdio tem um enorme peso no mundo. Calcula-se que a doença cardiovascular seja responsável por cerca de 20 milhões de mortes anualmente no mundo. Só a doença cardíaca isquémica provocou 8,92 milhões de mortos em 2015, o que faz dela líder das causas de morte no mundo.
Em Portugal, um estudo recentemente apresentado – Custo e carga da aterosclerose em Portugal – onde foram analisados dados de mais de 320 mil doentes mostrou que mais de 15.123 doentes faleceram em 2016 por doença cardiovascular (7592 por AVC e 6887 por enfarte). O universo de doentes afetados pela aterosclerose atinge os 740 mil adultos. A doença representa 50% das mortes por doenças do aparelho circulatório e é uma causa importante de anos de vida perdidos. De acordo com o documento ter-se-ão perdido mais de 196 mil anos de vida por morte prematura por aterosclerose e 64 mil anos de vida pela incapacidade provocada por estas doenças. Contas feitas, são quase 261 mil anos de vida perdidos, ou seja, o equivalente a 10 dias por ano por adulto. Os custos associados à doença são tremendos com impacto no produto interno bruto (1% do PIB), representando mais de 10% das despesas de saúde em Portugal.
7 métricas da Saúde Cardiovascular Ideal:
O conceito de Saúde Cardiovascular Ideal, implica o cumprimento de sete métricas que são as seguintes:
- Peso com IMC (índice de massa corporal) < 25 Kg/m2;
- Nunca fumar ou ter parado de fumar há mais de 12 meses;
- Atividade física intensa ≥ 75 minutos por semana ou atividade moderada ≥ 150 minutos por semana;
- Dieta saudável com pouco sal, açúcar e álcool, rica em vegetais e fibra, com peixe pelo menos duas vezes por semana;
- Colesterol total < 200 mg/dl;
- Pressão arterial < 120/80;
- Glicemia em jejum < 100 mg/dl.
Num estudo francês publicado em 2017 (estudo das três cidades), os doentes que cumpriram pelo menos cinco dos sete critérios, em comparação com os que cumpriram menos de dois, apresentaram menos 29% de mortalidade aos 10 anos e 67% de ocorrência de enfarte ou AVC.
Um estilo de vida saudável é a pedra fundadora de qualquer atitude preventiva.
Em todas as fases, em todas as idades, com ou sem fatores de risco, com ou sem doença cardiovascular ativa ou prévia, um estilo de vida saudável é a pedra fundadora de qualquer atitude preventiva e de qualquer tratamento, com eficácia demonstrada em todas as fases.
A Sociedade Portuguesa de Cardiologia tem vindo a alertar a população, primeiro, para a existência de patologias e a importância do seu reconhecimento, para a possibilidade de encontrar soluções (através da campanha “coração de esperança”). Este ano vamos mais longe e desafiamos toda a população a adotar estilos e hábitos de vida saudáveis. Por isso, para este Dia Mundial do Coração, a “Boa Onda” cardiovascular é o desafio que propomos.
Amanhã, 29 de Setembro, Dia Mundial do Coração, as celebrações ocorrerão em Peniche, conhecida como a “capital da onda”. Poderá também acompanhar o evento online, através da página da Sociedade Portuguesa de Cardiologia.