Depressão pós-férias, ou a fase do suspiro continuado

Ana Caetano // Agosto 27, 2019
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O cenário repete-se de Norte a Sul, percorre todos os estratos sociais, transversal a todas as idades. Falamos daquela tristeza que toma conta de nós no último dia de férias, imediatamente antes de voltarmos ao trabalho ou ano letivo, os suspiros do “já-acabou-agora-só-para-o-ano-há-mais”. Às perguntas: “então, essas férias?”, respondemos e suspiramos: “oh pá, parece que nem estive de férias, onde é que elas já vão!” O retomar do trabalho, o ritmo lento, as rotinas que nos são tão familiares… parece que não chegámos a sair! E, solta-se outro suspiro.

Chega Setembro, o decrescer dos dias, o regresso às aulas, onde permanece uma sombra, um desconforto. Ouvimos coisas desagradáveis, como: “no meu tempo não havia cá tempo para estas mariquices de depressão pós-férias, agora é tudo uma florzinha de estufa”, que espeta uma agulha. E, agora para além de tristes, também nos sentimos culpados por sermos flores de estufa… e suspiramos pela enésima vez.

Será esta fase evitável?

A tristeza pós-férias é um bom sinal! Sim, é sinal de que tivemos momentos bons, divertidos e descansados. Não somos tontos ou fraquinhos e quando termina, deixa um vazio. Fico mais preocupada quando me dizem, sem suspirar: “não aguentava mais as férias até porque descanso melhor a trabalhar!”. É indicador de que as férias não preencheram as necessidades de quem está à minha frente: manteve-se a rotina ou uma correria noutro cenário, mas sem a sensação de prazer… ou pior, a pessoa não consegue relaxar o suficiente em férias, e precisa dos seus dias ocupados para não pensar ou sentir.

Por isso, até fico contente quando alguém fala da depressão/melancolia/tristeza pós-férias: foi tão bom que ficou um vazio. E, é bom que não se evite esta tristeza, nem se contorne esta fase.

As emoções como fonte de sabedoria e aprendizagem

Costumo dizer que as emoções são emails e sms que o corpo envia à consciência. Podemos não abrir estes emails, temos esse direito, mas perdemos também informação útil sobre nós. A tristeza é uma das emoções básicas com que nascemos e diz-nos algo do género: “Olá, daqui é o teu corpo, estamos com pouca energia porque perdemos alguma coisa que era boa para nós. Regista na memória o que perdemos de bom para sabermos o que é importante e trata de descansar. Perder qualquer coisa importante cansa e tira energia. Cuida-te! Ass: tristeza”. No momento em que lemos estas mensagens do corpo, aprendemos algo sobre nós e sobre o momento que estamos a viver. É sabedoria em estado puro que precisa ser integrada no nosso auto-conhecimento. E, assim, o estado de depressão pós-férias é um excelente indicador de que passámos umas boas férias, de que somos saudáveis e entristecemos ao perder coisas boas e importantes.

Como lidar com a depressão pós-férias?

Sugiro uma atividade que ajuda a processar esta fase de tristeza: uma celebração! Pode ser uma atividade individual ou em grupo, em família ou no local de trabalho. A reentré pode passar por um jantar, uma ida à praia já em Outubro, ou uma parede coberta com post-its com o tema: os melhores momentos vividos em férias.

Relembrar o bom é como combustível para encontrar os novos momentos bons que estão por acontecer.

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