Como promover a autoestima e a autoconfiança das crianças

Inês Afonso Marques // Abril 28, 2020
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A superproteção nasce habitualmente do desejo sincero dos pais proporcionarem o melhor aos seus filhos. Mas a superproteção (ler com ênfase o super, para sublinhar a noção de excesso) traz consigo riscos significativos. Ao tomarem todas as decisões pelos filhos, ao substituírem-se a eles nas mais diversas tarefas, ao protegê-los do contacto com falhas e erros, estão a colocar os filhos numa posição de vulnerabilidade. No futuro terão dificuldade em tomar decisões, em lidar com os desafios da vida, em gerir o tempo, o dinheiro, as emoções e as relações. A superproteção é amiga da autoestima e da autoconfiança das crianças? Nem por isso! Então, se não é pela superproteção como promover a autoestima e a autoconfiança das crianças?

Como promover a autoestima e a autoconfiança das crianças?

A forma como uma criança se vê e valoriza é construída alicerçada em pensamentos, sentimentos e sensações que vai integrando, com base nas suas experiências de vida, sendo um processo dinâmico, que se ajusta ao longo do tempo. A imagem que a criança tem dela própria é uma construção, dependendo em grande medida das relações que ela estabelece com os adultos cuidadores desde o nascimento. Quando uma criança se sente aceite pela família, valorizada pela pessoa que é, com as suas características únicas e especiais, desenvolve sentimentos de auto aceitação, segurança, apreço e valorização pessoal. 

Sabia que também o envolvimento em tarefas domésticas, adequadas à idade, é uma forma do seu filho se sentir valorizado e competente? Consoante a idade, poderá dar de comer ao animal de estimação, ajudar a dobrar e arrumar a sua roupa, pôr e levantar a mesa nas refeições, ajudar na confecção de algumas refeições. Também os momentos em que o abraça, o beija, o acaricia e lhe dirige atenção plena, em que mostra interesse e disponibilidade, fomentam a confiança e uma autoimagem positiva.

Neste momento, creio que não lhe restam dúvidas quanto ao facto das suas ações (e reações) transmitirem importantes mensagens ao seu filho, sobre a forma como o vê, sobre as suas capacidades e as suas forças, e isso influenciará o desenvolvimento do seu autoconceito.

11 frases que promovem a confiança e o desenvolvimento de uma autoimagem positiva:

Deixo aqui algumas frases para usar e abusar enquanto ajuda o seu filho a crescer:

  1. Por onde gostarias de começar?
  2. O que sugeres?
  3. Mostra-me como se faz.
  4. Pareces entusiasmado com a tua ideia.
  5. Gosto da forma como estás a pensar sobre este assunto.
  6. Confia em ti.
  7. Errar faz parte da aprendizagem e é permitido. (Gostava de destacar esta ideia!)
  8. Se precisares de ajuda, estou aqui.
  9. Nem sempre é fácil, mas experimenta.
  10. O teu esforço tem imenso valor.
  11. Já reparaste em tudo o que já conseguiste?

9 Dicas para que consiga contribuir para o desenvolvimento harmonioso da autoestima do seu filho:

Não havendo “fórmulas mágicas” no que à educação diz respeito, partilho mais algumas pistas para contribuir para o desenvolvimento harmonioso da autoestima do seu filho:

  1. Encoraje a assertividade. Ensine o seu filho a expressar as suas necessidades aos adultos e a exprimir os seus pontos de vista junto dos seus pares;
  2. Saliente os esforços do seu filho e a forma como ele se estará a sentir. Seja realista quando elogia. Uma criança tem consciência quando não é uma estrela da ginástica (pelo que oferecer-lhe a medalha olímpica do elogio não faz muito sentido), mas ela ficará satisfeita se reparar e comentar a sua evolução, os progressos que tem realizado;
  3. Encoraje a competência. Não se ofereça para fazer as coisas pela criança, nem se apresse a oferecer ajuda. Quando a criança pede ajuda, mantenha-se por perto, seja como uma claque, e experimente incentivá-la a tentar mais alguns minutos por ela própria, confiando nas suas capacidades, antes de fazer por ela;
  4. Apoie e incentive o seu filho em novos desafios e experiências. Isso diz-lhe que confia nele e nas suas capacidades;
  5. Assuma o papel de modelo, mas simultaneamente de “intérprete” da realidade, apoiando o seu filho na tradução que faz sobre o funcionamento do mundo;
  6. Crie oportunidade para o seu filho realizar tarefas e participar nas dinâmicas do dia a dia da vossa casa;
  7. Incentive o seu filho a assumir a responsabilidade em pequenas escolhas (qual o filme que vão ver, qual o sabor do iogurte que vai comer, qual a camisola que vai vestir…);
  8. Reforce positivamente o seu filho. Os comportamentos, as atitudes e os gestos aos quais damos mais atenção tendem a repetir-se, de forma mais intrinsecamente motivada. O seu filho sentir-se-á mais validado, apoiado e valorizado sempre que o reforça positivamente;
  9. Não assuma que domina todas as forças e fraquezas do seu filho. Procure acompanhar as mensagens que ele transmite, pelo que faz e pelo que lhe diz. Potencie as forças que demonstra e acompanhe-o, como um pilar que não deixa cair a estrutura que suporta, nas dificuldades que manifesta.

Às vezes, tem de dar uns passos atrás, para o seu filho dar alguns à frente…

Imagino que seja uma frase que para alguns pais gere, logo à partida, alguma ansiedade. “Como o protejo?”, poderá ter pensado. Bem, afaste o seu filho dos perigos, mas não se substitua a ele, procurando eliminar todos os riscos inerentes ao crescimento e à aprendizagem. Sair de zonas de conforto e correr alguns riscos que não representem perigos ao bem-estar, são movimentos importantes (e diria que necessários) para um crescimento saudável no geral e para o desenvolvimento de muitas competências sociais, cognitivas, motoras e emocionais, como é o caso da autoconfiança. 

Para promover a autoestima e autoconfiança precisa de dar oportunidades ao seu filho para ele experimentar e se desafiar, e manter-se por perto para o apoiar, caso seja necessário. E isto, pode implicar “dar um passo atrás”, ceder à tentação de se substituir a ele, observar e incentivar, para ele dar muitos passos em frente. Aquilo que acredito pode ser mais desafiante para si, mas que é muito necessário neste processo, é conseguir tranquilizar-se. Converse com os seus próprios medos (que a criança chore, que erre, que se magoe…), fortalecendo a sua própria tolerância, dando tempo, espaço e oportunidade para que o seu filho se descubra a ele próprio, aprenda a resolver problemas e desenvolva o seu autoconceito.

Estas são apenas algumas sementes para ajudar o seu filho a sentir-se valorizado, especial e confiante.

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