Explicar a morte às crianças é um dos motivos pelos quais me procuram. A forma como as crianças compreendem a morte depende, obviamente, do seu estádio de desenvolvimento.
Em idade pré-escolar (2 aos 5 anos) a criança está numa fase egocêntrica e muito literal na forma como interpreta o mundo. Logo, deverão evitar-se eufemismos e explicações vagas, e baseá-las em factos. Mais, nesta idade, a criança percebe a morte como um estado temporário.
A pessoa morta ainda come, respira e assim que acordar retornará à vida (basta ver nas brincadeiras a quantidade de vezes que a mesma pessoa morre e “desmorre”…). É importante explicar-se à criança que aquela pessoa, ou animal, que morreu não pode andar, respirar, comer…
A morte não é uma forma de dormir e quem morre não volta a acordar. Deverá ser dito à criança que as pessoas e/ou animais morrem quando estão muito, muito, muito velhinhos e enfatizar o muito, muito porque, aos olhos das crianças em idade pré-escolar, os pais e os professores são, muitas vezes, velhos!
Há muitas formas de doença e de estar doente, mas as pessoas só morrem quando estão muito, muito doentes.
Já na idade escolar (6 aos 9 sensivelmente), as crianças distinguem perfeitamente fantasia e realidade. Outro fator importante é que aqui já sentem culpa.
Contrariamente à fase anterior, já não vêem a morte como temporária. O facto de a compreenderem não quer dizer, contudo, que consigam lidar com ela. Um dos pensamentos comuns é: “Se aquele morreu, então aquele também pode morrer”, e é daqui que advém o medo de perder os pais. Outro exemplo é: “Se aconteceu aquele, também me pode acontecer a mim”, e a criança pode vir a desenvolver alguns medos.
Mais, a morte traz mudança e a criança nesta idade receia trato diferente por parte dos pares, amigos, professores, familiares…
Deverão evitar-se eufemismos e não devemos ter medo de dizer “morte” ou “morreu”. “Foi levado” ou “Foi fazer uma grande viagem…”, por exemplo, são eufemismos que poderão alimentar os receios de abandono das crianças e poderão desenvolver ansiedade e confusão. Nunca dizer: “Fechou os olhos” ou “Foi dormir”. Isto poderá desenvolver nas crianças medo de ir para a cama à noite.
Não há mal nenhum no facto de a criança ver o pai ou a mãe chorar. As crianças precisam de aprender como expressam a dor. Quando a mãe ou o pai chora, isto mostra-lhe que é permitido chorar.
Os pré-adolescentes (10 aos 12 anos) reagirão de forma muito diferente face ao grupo anterior. Já estão aptos a compreender o impacto que a morte tem neles próprios e na família.
Os pré-adolescentes poderão ter questões relacionadas com crenças culturais e religiosas, e poderão querer saber mais sobre o céu, o inferno e a vida após a morte. Por outro lado, têm já uma visão de futuro e serão naturais questões de como aquela perda irá refletir-se na sua vida futuramente. Por outro lado, não são incomuns nesta fase comportamentos de negação: “Não sinto nada” ou “Não quero saber”, aos quais será necessário prestar atenção.
A melhor postura será mostrarmo-nos abertos e disponíveis para que possa expressar a sua dor. Quer isto dizer, passar algum tempo a sós com o pré-adolescente ou, por outro lado, deixar que esteja a sós com a sua dor (ver fotografias, ouvir música, etc.). Não obstante, não devemos mostrar tolerância excessiva ou ignorar comportamentos agressivos e acting out. Será, se os houver, altura para procurar ajuda profissional.
Os adolescentes possuem uma abordagem compreensiva idêntica à do adulto. Não possuem, todavia, mecanismos para a elaborar, dado o turbilhão emocional desta fase do desenvolvimento. Devido à convicção da sua imortalidade e omnipotência característica desta fase do desenvolvimento, é-lhes difícil aceitar a morte. A confrontação com a morte pode intensificar a pressão que já sentem à medida que enfrentam o futuro e suas incertezas. A reação poderá variar entre raiva, depressão e, sobretudo, poderá mudar abruptamente e oscilar com frequência.
Aqui será importante prestar atenção a sinais de depressão e mudanças de comportamento. Nesta fase, é particularmente importante a interação com os pares para que o adolescente não se sinta “diferente” por causa da morte e se consolide o sentimento de pertença.
Partilhar emoções com as crianças/adolescentes é mais saudável do que escondê-las. Aprenderão que chorar e mostrar dor são formas naturais de expressar dor e não há mal nenhum em fazê-lo.
– “E se me perguntar ‘porquê’?”
Eu digo que não há mal nenhum em responder:
– “Sabes, eu também me pergunto o mesmo!…”
Lembre-se que existe ajuda especializada para o ajudar a lidar com este acontecimento disruptivo e que afeta não apenas a criança/adolescente, mas toda a dinâmica familiar.