Amar um animal é um privilégio

Fátima Lopes // Junho 24, 2018
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Este é um tema que me é muito querido: o amor aos animais. Sinto necessidade de partilhar convosco, um pouco da minha experiência nesta matéria, desde que me lembro de ser gente. Aos 6 anos, estava eu a brincar na rua enquanto comia um delicioso pãozinho, como fazia tantas vezes, quando apareceu de repente um cão, determinado em roubar-me aquela iguaria. Fui apanhada desprevenida e o facto do cão ter praticamente o meu tamanho, só tornou a situação mais assustadora. Em vez de lançar o pão ao chão, para que o comesse e me largasse, cometi a asneira de desatar a correr com quantas forças tinha. É claro que o cão fez o mesmo e só aí decidi largar o pão e com isto libertar-me do animal.

A partir desse dia fiquei com muito medo de cães.

Jamais fazia festas a um cão, a menos que o pudesse observar durante muito tempo e assegurar-me que era mesmo tranquilo. Mesmo assim sentia-me mais segura, longe ou pelo menos sem investir em afectos. Quando tinha 9 anos, em Moçambique, os meus pais deram-nos, a mim e à minha irmã, uma gatinha. Baptizámo-la de Fifi e era a nossa adoração.

Cuidámos todos dela como se fosse mais um elemento da família.

E, assim foi durante algum tempo, mas a Fifi quando estava com o cio, desaparecia. Lá íamos nós procurá-la desesperadamente e dias depois acabávamos por a encontrar. Houve um dia em que isso não aconteceu. Foi um desgosto enorme. Chorámos muito com o desgosto de não termos a Fifi de volta e a minha mãe prometeu que não voltaríamos a ter animais, porque, como era de esperar, nos afeiçoávamos a eles. Prometeu e cumpriu, mas no último ano em que estivemos em Moçambique, um casal português, que tinha um gato, precisava de o deixar com alguém enquanto vinha um mês de férias a Portugal. Pediram aos meus pais e eles, pensando que era um período curto, aceitaram. A verdade é que surgiram complicações na vida destes amigos e o Gelito, era este o nome que lhe deram, foi ficando e não mais voltou. Quando se aproximou o nosso regresso definitivo a casa, tivemos de encontrar uma nova família para o gatinho e foi isso que fizemos.

Foi muito dolorosa a despedida e aí fui eu que disse a mim mesma, que não voltaria a ter gatos.

Cães, estava fora de questão, porque tinha medo deles. O tema dos animais ficou arrumado durante muitos anos. Quando tinha 20 anos, os meus pais foram viver para uma casa com espaço exterior e arranjaram uma cadelinha, ainda bebé. Era a Nina. Apesar de a ter visto crescer, não criei laços com ela. Mantive aquela relação um pouco distante. Os meus pais não. Mimaram-na muito todos os anos que viveu.

Quando a minha filha fez 3 anos, começou a pedir um cão.

Era sempre o seu pedido número um em qualquer data importante. Eu explicava-lhe que vivíamos num apartamento, que para o cão ser feliz tinha de ser passeado várias vezes ao dia e haver tempo para ele, coisa que eu não me sentia capaz de assegurar. Como ela era pequenina, também não iria ficar com tal responsabilidade. Os anos foram passando e eu relembrando as razões pelas quais não podia ceder, mais a questão das férias e dos fins de semana fora. A verdade é que aos 17 anos a Beatriz fez uma lista de todas as questões que a presença de um cão levanta e as respectivas soluções. Soluções asseguradas exclusivamente por ela. Perante isto, nada podia fazer. “Então e que cão?, perguntei eu. “Já fui a um espaço da Associação Adoro Mimos e apaixonei-me por um rafeiro que estava lá. Queres ver as fotos?”, perguntou ela.

Confesso que assim que vi as imagens do Brownie, principalmente daqueles olhos tão meigos, que senti que seria ele.

Nada disse. Marcámos ir conhecê-lo e foi paixão à primeira vista. Estranhamente não senti medo dele. Pelo contrário. Sentia que lhe podia fazer festas à vontade, porque não seria surpreendida pela negativa.  

Hoje a família lá de casa, sou eu, os meus filhos e o Brownie.

Tudo se pensa e decide respeitando as suas necessidades, tal como para qualquer um de nós. O Brownie fez-nos muito bem aos três. A sua doçura, carinho, generosidade, alegria contagiante e amor incondicional, são uma lição diária.

O Brownie fez de mim uma pessoa mais flexível e tolerante.

Logo uma pessoa melhor. Ter o Brownie é um privilégio. Sermos amados por ele, uma felicidade. E, a cereja no topo do bolo. Deixei de ter medo de cães. Hoje quando conheço um cão novo, a primeira pergunta que faço é, “posso fazer-lhe uma festa?”.

Obrigada Brownie.

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