Estão a estranhar este título não é? Explico a necessidade de escrever sobre as supostas “imperfeições”.
Hoje há uma ditadura da perfeição em tudo.
Temos de ser resilientes, lutadores, enérgicos, criativos, inteligentes, multi task, surpreendentes, capazes de nos reinventarmos permanentemente e por aí adiante.
Já agora compreensivos, tolerantes, pacientes, flexíveis e generosos. Fisicamente também há um grau de exigência elevadíssimo. Temos de estar sempre lindas, elegantes, jovens, em super forma e com excelente cara.
Pergunto: porquê?
Onde é que está escrito que nós temos de ser tudo isto? Creio que não nascemos com um livro escrito com todas essas exigências e obrigações. Mas querem-nos fazer crer que sim.
Se abrimos uma revista ou mesmo a internet, percebemos que há este culto da perfeição. Isso é esquecer a nossa natureza humana, que é naturalmente (im)perfeita.
Não o faço pelos outros. Faço-o por mim.
Até porque o que é isso da perfeição? Cada um tem a sua personalidade e vivências, virtudes e defeitos. Podemos melhorar enquanto pessoas e isso é tão bom. Para mim é sempre um objetivo maior.
O trabalho que faço com a minha Psicóloga e com a minha orientadora na parte espiritual, permite-me ganhar mais competências e aprender ferramentas que me ajudam a ser uma pessoa mais capaz e também mais feliz.
Repito, faço sobretudo por mim e pelo amor próprio que devemos ter, para que os outros à nossa volta possam também beneficiar com o nosso bem-estar. Mas é claro que os outros vão beneficiar deste meu crescimento.
Não busco a perfeição, porque não só ela não existe, como deve ser uma chatice. Deixávamos de ter desafios. Estaria tudo conquistado. A graça da vida está no trajecto que fazemos até alcançarmos os nossos objectivos.
Quando perante uma situação complexa, já consigo reagir com distanciamento e cabeça fria, fico feliz pela minha microevolução. Se olharmos para a vida assim, ela torna-se bem mais leve e bonita.
O mesmo se passa com a exigência da perfeição física.
Algumas pessoas já tentaram convencer-me a mexer na minha cara. “É para tirar um bocadinho dos papos nos olhos… podíamos preencher esses vincos…” De novo pergunto, porquê? Porque os outros querem? Porque não se encaixam nos padrões de perfeição dos outros? A mim não me incomodam nada.
Aliás, faço cada vez mais fotos desmaquilhada, agora que estou mais velha. Como diz a minha querida Maquilhadora, a Carmela Montero, “és uma mulher linda com papos”. Não imaginam o sentido que esta afirmação me faz.
E na verdade cada marca no meu rosto conta um pedaço de mim e da minha vida. E por isso aceito todas como minhas. São parte da minha história.
É por isso que termino dizendo convictamente, ainda bem que sou naturalmente (im)perfeita.
Nota: Fotografia por Verónica Silva.