A importância das relações afectivas nas nossas vidas

Diogo Telles Correia // Fevereiro 17, 2018
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Hoje, os relacionamentos são intensos, fugazes, centrados mais no “eu” que no “nós” e no “outro”, muito sustentados na comodidade virtual e superficiais. Terminar uma relação nunca foi tão fácil… E, a necessidade de cultivar relações duradouras nunca foi tão real!  O ser humano precisa de relações reais, bem alicerçadas, que preencham o nosso sentido de vida e nos alimentem de forma sustentada. Porque o amor que temos por nós também se sustenta da qualidade das relações que vamos estabelecendo desde que nascemos. E, a verdade é que ninguém consegue caminhar sozinho. Estabelecer uma relação inteira, olhos nos olhos, mão na mão, dá trabalho. É preciso sair da nossa zona de conforto. Mas, é real e insubstituível. Permita-se a experimentar os benefícios de uma relação prolongada.

Precisamos de relações reais que preencham de sentido a nossa vida

Muitos discursos superficiais, que prometem paraísos de felicidade através do aumento da autonomia, favorecem uma sociedade individualizada, desvinculada e sem rumo. O homem é convidado a enfrentar sozinho a sua desilusão com os males do mundo moderno. “És capaz, não precisas de nada, nem ninguém!” E, isso aumenta a sua frustração quando percebe que na realidade não consegue, porque ninguém consegue caminhar sozinho.

De acordo com Carlo Strenger, psicoterapeuta existencial e filósofo, existem várias formas de nos defendermos contra os limites desta vida, formas de nos tornarmos eternos de alguma forma. Entre elas destacam-se as ligações que persistem e se aprofundam (com cônjuges, filhos, amigos próximos, restante família).

Para isso é necessário cultivar as relações duradoiras e rumar contra a maré do mundo que estimula o individualismo, o espírito hedonista e faz com que as pessoas nem se permitam experimentar os benefícios de uma relação prolongada (afectiva ou de amizade).

De acordo com Heidegger, o princípio de tudo é “ser-aí” (do alemão dasein), mas “ser-aí” com o outro. Ou seja, temos de partir, sempre, do existir no mundo, tal como somos, e a partir daí fazer as nossas escolhas, que nos podem orientar para a felicidade. Mas, não existe “ser aí” no mundo sem o outro. E, são as relações com os outros, duradoiras, que podem, com os outros valores da Humanidade, dar-nos uma trajetória com sentido.

Novas formas de viver as relações

A era da globalização veio também trazer diferentes formas de comunicação e de relação. Os contactos são mais fáceis, exigem menos tempo e esforço. Por outro lado multiplicam-se de forma exponencial os relacionamentos com o outro que dispensam o seu conhecimento pessoal. A proximidade virtual (por internet, por telefone), deixa de seguir os rígidos preceitos da proximidade real, geográfica, física. E, se por um lado pode ter começado por ser uma extensão das relações baseadas na proximidade física, hoje passa muitas vezes a substituí-la e torna-se a regra de alguns relacionamentos. Quantos casais não passam mais tempo a trocar mensagens virtuais do que a conversar presencialmente? Quantas vezes familiares, amigos ou casais substituem visitas e momentos de comunhão presencial por mensagens nas redes sociais ou SMS?

Crescem também os chamados “namoros virtuais”, que se iniciam e acabam com o pressionar de uma tecla. Terminar uma relação nunca foi tão fácil…

Estas são consequência do homo consumens, que ao mesmo foi criado e alimenta a sociedade de consumo e a economia de mercado. Solitário, individualista, hedonista, autocentrado, facilitista. As relações são intensas, fugazes, centradas mais no “eu” que no “nós” e no “outro”, muito sustentadas na comodidade virtual e superficiais.

Estabelecer uma relação inteira, olhos nos olhos, mão na mão, dá trabalho… É preciso sair da nossa zona de conforto. Mas, é real e insubstituível. As verdadeiras vinculações não se estabelecem nem alimentam pela Internet, nem vivem da idealização de imagens irreais que as redes sociais transmitem.  

Por outro lado, as relações já maduras são todos os dias alvo de ataque por parte de estratagemas que facilitam relações virtuais e que subtilmente vão erodindo o que tanto trabalho deu a construir.

Não é incomum aparecerem-me no consultório pessoas que decidem romper uma ligação com anos de evolução por alguém que conheceram numa rede social e com quem ainda nem estiveram fisicamente (ou com quem estiveram uma ou duas vezes e que parece ser a melhor alternativa).

As pessoas aprenderam a portar-se como consumistas também no mercado das relações. Escolhem aquelas que são mais fáceis, mais apelativas, mais próximas do que acham que precisam, mas geralmente (como tudo nesta sociedade consumista) menos duradoiras. E, claro, vem a solidão real. Porque o ser humano precisa de relações reais, bem alicerçadas, que preencham o nosso sentido de vida e nos alimentem de forma sustentada. Porque o amor que temos por nós também se sustenta da qualidade das relações que vamos estabelecendo desde que nascemos.

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