Nos dias de hoje a falta de tempo leva a que muitos pais tenham dificuldade em acompanhar os seus filhos de uma forma mais disponível. Aparece o sentimento de culpa. Sentem muitas vezes que “perdem” o crescimento dos filhos e acabam por, erradamente, pensar que se os compensarem com prendas podem colmatar a sua ausência. Não podem, nem os tornam mais felizes.
A importância da relação afectiva
A ausência emocional não tem compensação nos bens materiais. A relação afectiva e o vínculo emocional sólido e profundo dos filhos com os pais traduz-se em desenvolvimento de processos e estruturas cerebrais que permitem à criança desenvolver-se de forma saudável ao nível mental aprendendo, assim, a estar “pronta” para as situações com as quais se vai deparar ao longo da vida. As prendas representam apenas momentos efémeros nos quais muitas vezes as crianças nem dão valor ao que recebem porque, de facto, não é isso que tem valor. A mensagem que passa é de que a prenda é mais importante do que a presença.
O que realmente faz um filho feliz, no real sentido da palavra, não são as prendas, são os momentos de qualidade que passa em relação com os pais, são os sentimentos, o que sente nesses momentos. E, tal relação afectiva não é construída nem compensada de forma alguma com prendas.
A falta de tempo é, em boa verdade, uma desculpa. Cabe aos pais definir as respectivas escolhas quanto à ocupação do tempo disponível das obrigações pessoais e profissionais. Cabe-lhes também definir prioridades. E, não é a quantidade de tempo que define uma relação emocional válida e saudável com os filhos, mas, sim, a qualidade desse tempo. Pode até ser um pequeno momento por dia, mas que seja de qualidade, onde os pais estejam completamente disponíveis emocionalmente para os filhos nesse momento, ajudando-os assim no processo de crescimento.
Por isso, oferecer prendas como forma de compensar a ausência não aumenta nem consolida a relação afectiva entre pais e filhos, e muito menos alimenta o amor entre eles. Só irá prejudicar a sua formação como adulto e o desenvolvimento da sua personalidade.
Compensar ausência com prendas é prejudicial.
A curto e médio prazo as prendas para compensar ausência constroem na criança a ideia de que pode tudo; de que pode ter tudo o que quer. E, é neste ponto que começam a desenvolver-se pequenos tiranos egocêntricos. Esta criança vai tornar-se num adulto que terá muitas dificuldades de relacionamento. Afinal, a vida e os outros nem sempre aceitam as atitudes egocêntricas e narcísicas que se foram desenvolvendo no seu crescimento. Irá sentir-se infeliz em muitas situações. Terá tendência a desenvolver um juízo de valores baseado na posse, como representativo do valor que as pessoas têm. Tal criará um vazio que se vai transformando em angústia que leva a sofrimento, uma vez que será um adulto que espera ser recompensado por tudo o que fizer. Todos sabemos que a vida não é assim.
Ao nível do comportamento, a criança vai associando e interiorizando os pais como mero recurso de bens materiais. Consequentemente, na fase adulta corre sérios riscos de lidar com as relações interpessoais de uma forma meramente material, arrogante e egocêntrica (construindo a ideia de que o dinheiro compra tudo, por exemplo). Daí ser tão importante a relação afectiva, para que a criança aprenda no seu desenvolvimento que a vida irá exigir-lhe prontidão mental na hora de enfrentar momentos mais difíceis e delicados.
O que representam os momentos de qualidade na vida de um filho?
Todos os pais querem que os seus filhos sejam felizes. O tempo de qualidade é a chave. Vai ajudar a desenvolver auto-estima, auto-confiança, segurança, capacidade de lidar com perdas, frustrações e contrariedades, capacidade de lidar com o stress, gerir medos, capacidade de diálogo e argumentação, capacidade de decisão, entre outras. Por isso estar disponível para momentos de qualidade com um filho é de extrema importância: conversar, rir, brincar, conter, partilhar, ensinar, mostrar, dar atenção e compreensão têm de estar incluídos nestes momentos.
Em suma, pais brilhantes dão algo incomparavelmente mais valioso do que prendas. Dão aquilo que o dinheiro não paga, por muito que seja. Dão a sua história, as suas experiências, as suas tristezas, os seus sonhos. Dão estabilidade emocional, regras, limites e o seu tempo, por pouco que seja. Dão a sua humanidade e o seu ser.
Tempo de qualidade, sim!
Fazer do pouco tempo disponível um grande momento de relação afectiva com um filho é o caminho mais acertado. A presença de uma relação afectiva sólida gera momentos de prazer insubstituíveis que ensinam a criança a procurar na sua vida aquilo que dá sentido à sua existência para que venha a ser um adulto feliz e emocionalmente saudável.