Mais de 1 milhão e meio de portugueses sofre ou já sofreu de uma perturbação de ansiedade, a maior epidemia da nossa era.
É provável que muitas vezes se sinta incapaz de lidar com as exigências do dia-a-dia e que este mundo apressado vá imprimindo na sua mente uma velocidade desumana, que lhe provoca inquietação. Frequentemente nestas circunstâncias o seu corpo começa também a dar sinais, o coração começa a bater mais rápido, a respiração mais ofegante, a barriga parece ter vida própria. Os medos – que podem ser do presente, do futuro, de tudo… – começam a surgir. Às vezes estes medos centralizam-se em situações específicas como medo de espaços públicos ou de lugares fechados; E, de repente a ansiedade está instalada.
A ansiedade pode afectar qualquer pessoa
A ansiedade é uma situação que não olha a condições de vida ou escalões do IRS. Pode afetar qualquer um, é muitas vezes vivida em silêncio, às escondidas, e incompreendida pelos que nos são próximos. Contudo, é uma afeção tratável e, no pior cenário, uma situação que se aprende a gerir. No mundo acelerado em que vivemos, as exigências diárias parecem ainda mais propensas a gerar ansiedade, pelo que se impõe entendermo-la e reconhecê-la.
A ansiedade nos nossos dias
Neste livro tenta-se desmistificar e explicar as várias manifestações da ansiedade, discutir os tratamentos e abordagens terapêuticas mais eficazes e dar algumas pistas de como lidar com a ansiedade ou ajudar os que nos são próximos a obter a ajuda necessária e adequada.
Ilustrado com casos reais, os leitores terão a hipótese de esclarecer todas as suas dúvidas sobre ansiedade, de se reconhecerem nos perfis traçados e de se sentirem apoiados e mais capazes de enfrentar a maior epidemia da nossa era.
“A ansiedade é a característica mais destacada da civilização ocidental.”
No primeiro capítulo é abordada a importância da ansiedade não só na população portuguesa onde 16,5% da população sofre de ansiedade, mas também em todo o mundo. Como disse Willoughby, um autor do início do século xx: “A ansiedade é a característica mais destacada da civilização ocidental”. Tenta-se aqui tentar explicar como pode a nossa sociedade estar a contribuir para que a ansiedade não cesse de crescer entre nós.
A ansiedade social ou fobia social
No segundo capítulo é abordada a “ansiedade social” ou “fobia social” que corresponde ao medo ou ansiedade marcados de situações sociais em que o indivíduo interage com o outro. É possível que perante a sociedade em que vivemos – na qual as relações são cada vez mais insuficientes e pouco estimuladas, sendo reforçados estilos de vida individualistas, centrados na autossatisfação e na escassa tolerância às contrariedades os casos de fobia social sejam cada vez mais frequentes.
É relatado o caso da Maria, uma menina que aprendeu a ter medo do outro e que procura ajuda para superar esta situação.
A perturbação de pânico
No terceiro capítulo fala-se sobre a “Perturbação de pânico”. Um ataque ou crise de pânico consiste num período abrupto de medo e desconforto intensos que atinge um pico em poucos minutos. Acompanha-se de vários sintomas físicos: palpitações (sensação do coração a bater muito rápida e intensamente), suores, tremores, sensação de falta de ar, desconforto no peito, náuseas, vómitos, dores abdominais, diarreia, tonturas, etc. Podem ocorrer sintomas psicológicos, como sensação de desrealização (parece que há alguma coisa de diferente no mundo) e despersonalização (parece que não somos a mesma pessoa, algo mudou).
O Álvaro, um rapaz de 30 anos, cheio de sucesso em todos os campos da sua vida, mas que começa a ser perturbado por crises de pânico é o actor principal deste capítulo e fala-nos da sua história.
A ansiedade generalizada
O quarto capítulo debruça-se sobre a ” Ansiedade Generalizada”. Caracteriza-se por um estado contínuo de ansiedade e preocupação, associados a tensão, dificuldades na concentração, cansaço, irritabilidade, perturbações de sono e vários sintomas físicos que acompanham todos os tipos de ansiedade e que podem localizar-se em qualquer parte do corpo: peito (palpitações, dor na zona do esterno), pulmões e sistema respiratório (dificuldade em respirar, tosse irritativa), sistema digestivo (náuseas, sensação de enfartamento, cólicas, gases, diarreia ou obstipação), cabeça (dores de cabeça provocadas por tensão muscular na região) ou outros sintomas mais generalizados (formigueiros em várias partes do corpo, dores musculares generalizadas). Praticamente todos os sistemas do corpo podem ser afetados, sendo frequente referir-se que a ansiedade é “o grande imitador”.
Os casos retratados neste capítulo são o de Joaquim, um homem de 75 anos, que desenvolve um quadro de ansiedade na sequência de uma crise existencial, e o de Pedro, um homem que foi criado pelos pais numa “redoma” e que em adulto passa a temer tudo e todos, e a estar permanentemente em estado de alerta, de ansiedade.
O stresse pós-traumático
No quinto capítulo fala-se de “Stresse Pós-traumático”, conceito que está muito ligado ao efeito psicológico que as situações de guerra têm sobre os soldados, mas que pode ocorrer em todas as situações em que uma pessoa tenha enfrentado ou testemunhado um acontecimento que representasse uma ameaça de morte, uma morte real, uma lesão grave ou uma ameaça à integridade física. A partir deste trauma a pessoa é perturbada por uma vida de ansiedade profunda.
António, um veterano das guerras coloniais, pontua este capítulo com a sua experiência pessoal, num relato da respectiva história e da forma como é ajudado a lidar com o próprio sofrimento.
A perturbação obsessiva-compulsiva
O sexto capítulo debruça-se sobre a “Perturbação Obsessiva-Compulsiva”, que se caracteriza pela presença de ideias persistentes, que ocorrem contra a vontade do paciente, que as sente como intrusivas, parasitas, e lhes resiste. Estas ideias são chamadas obsessivas e acarretam uma elevada carga de ansiedade.
Para ilustrar esta perturbação é relatada a história de Guilherme, um rapaz de 35 anos que vem às consultas há mais de 10 anos, e que gradualmente tem conseguido retomar uma vida de grande sucesso profissional e estabilidade familiar e pessoal.
A perturbação de somatização
No sétimo capítulo é abordado o tema das pessoas para as quais os principais sintomas de ansiedade são físicos (“Perturbação de somatização”). Em muitos dos casos, a ansiedade está de tal forma mascarada nos sintomas físicos que não conseguimos perceber que ela é a sua principal causa. Por outro lado, estes sintomas ganham autonomia, instalam-se no corpo, e se de início podiam ser mais frequentes em reacção a factores de stresse, passam a ser contínuos, perpetuando-se ao longo da vida dos pacientes. As queixas podem ser múltiplas, predominando as alterações gastrointestinais (com períodos de diarreia intercalados com obstipação, por exemplo e/ou náuseas e vómitos recorrentes), tensão e dores musculares generalizadas, dores localizadas (por exemplo, na cabeça, as chamadas cefaleias de tensão), sensações subjetivas (como a sensação de “nó na garganta”), ardor nos órgãos genitais, etc.
O João dá a face neste capítulo com a sua história de luta contra o seu “intestino inquieto”, a “doença do cólon irritável”.
O Homem atual movimenta-se à procura de um sentido.
O último capítulo é de esperança. Numa sociedade que está a mudar, em que o Homem está insatisfeito com o stress que o perturba todos os dias e que se revolta, muda de vida, reorienta o seu sentido de viver. O Homem atual movimenta-se à procura de um sentido. Pode ser que quando o encontrar, consiga superar a ansiedade e os medos que o paralisam.