Aquele que nunca viu a tristeza,
nunca reconhecerá a alegria.”
Khalil Gibran
Regressa de férias, daquela paragem em que supostamente descansou o corpo e o espírito da rotina habitual. Aproveitou para viver tudo o que pensa não ser possível no seu dia-a-dia habitual, ao realizar “tudo” o que lhe deu na gana (ou que conseguiu). Parou para estar com a família, aproveitou o sol, o mar, o campo, a praia, esteve no local onde sempre passou bons momentos, ou aproveitou para conhecer locais e pessoas que o distraíram; sentiu-se bem e apreciou o desfrutar de tudo o que habitualmente não consegue fazer, no seu dia-a-dia. Tudo isto termina e, como tudo o que se perde e é sentido como importante, deixa uma sensação mais ou menos difusa de tristeza que é como a outra face da moeda: por detrás de um grande alegria, serenidade ou bem-estar, encontra-se a vivência de ter sentido a tristeza, o cansaço, o desgaste.
O que fazer para colmatar esta tristeza face ao finalizar daqueles dias tão felizes que se passaram, daquelas férias maravilhosas em que as “obrigações eram reduzidas” ou inexistentes porque resultavam de escolhas, de decisões e não se sentia encarcerado em obrigações que lhe retiram a liberdade de escolha, a alternativa?
Ocupe-se e concretize os seus propósitos e interesses na sua vida
Ocupe-se com o retomar das atividades do dia-a-dia definindo pequenos objetivos. Por exemplo, hoje vai fazer um plano para todos os dias da semana realizar algo que aprecie e seja importante de acordo com os seus interesses e valores. Identifique e agende passatempos e atividades que lhe permitam estar com pessoas que são importantes para si. Se o seu dia-a-dia deixou de lhe fazer sentido, procure pessoas com quem possa debater e encontrar alternativas e maneiras de transformar a sua vida – entre férias – para melhor.
Nunca imaginei que o amor ao próximo e a agressividade morassem na mesma casa.
Nunca pensei que a paz e a guerra habitavam no mesmo ser humano.”
Augusto Cury in o Vendedor de Sonhos
Fazer face à depressão e ao “stress pós férias”, ocupando-se de maneira a concretizar os seus propósitos e interesses de vida, não responde à sua questão. Afinal, o que sente não é tristeza, mas, sim, uma enorme irritação com tudo e todos. Sente-se frustrado, impotente para poder alterar o que faz parte da sua vida. Qualquer alternativa, que parece inviável e incómoda, causa transtorno e mal-estar: o ruído, as vozes das pessoas, o diminuir o peso acumulado, as mesmas conversas, o mesmo de sempre.
Não consegue conformar-se: a sua frustração leva-o a pressentir que é possível conseguir o que aspira. Mas, tudo o irrita, e sente todos como intratáveis e talvez, sem se aperceber, a sua irritação e agressividade afaste os outros de si: ou lhe respondem na mesma moeda e, quando a sua irritação diz “mata”, os outros respondem “eu esfolo-te”. Começa, então, uma dança interminável de conflitos, noites mal dormidas e enervamentos.
De facto, o stress assinala o sentir de uma incapacidade para fazer face às exigências, desafios, solicitações da sua vida familiar, social, profissional. De volta à sua vida habitual, à sua realidade, confronta-se com algo que lhe escapa. Pode ter feito um esforço de endividamento para ir de férias, ou ter um determinado estilo de vida que o pressiona e desgasta numa tensão permanente de vigilância a gastos, ou de irritação por não ter o que gostaria ou considera merecer. Pode intuir que não tem as competências para realizar com menor esforço e sem sobrecarga de horários o seu trabalho. Experimenta algumas limitações de saúde que não lhe permitem aguentar alguns esforços. As suas finanças não são compatíveis com o estilo de vida que tem, ou confronta-se com uma realidade de trabalho instável, competitiva e com poucas alternativas que lhe permitam ter outro rumo profissional.
O que fazer para sair deste ciclo?
Aprenda a descansar, a parar no dia-a-dia
Para grandes males, grandes remédios. Aprenda a descansar, a parar no dia-a-dia. Se não dormir bem, perde a razão mais facilmente, deixa de poder analisar com objetividade as situações, perde a tolerância para fazer face às inúmeras contrariedades e especificidades dos outros. Se não aprende a relaxar – e o melhor sinal que tem é a calma que sente habitualmente – dificilmente encontrará alternativas para encontrar soluções para a sua falta de competências – por exemplo, estudar, perguntar um parecer, pedir ajuda, reduzir a quantidade de trabalho – ou para expressar de forma clara, direta e com respeito pelo outro e de acordo como os direitos que tem, os seus pontos de vista, restabelecer situações de abuso de autoridade, poder, etc. Portanto, trate da sua higiene de descanso através do dormir, da diminuição do excesso de atividades. Aprenda a relaxar e a organizar-se.
Já pensou que se não respirasse enquanto fala, tudo o que pretende dizer torna-se impossível de entender? São as pausas que permitem dialogar com os outros e que terceiros possam entender o que diz. E, neste caso, é o descanso e as pequenas pausas que faz na sua vida que lhe permitem viver mais e melhor e lidar sem “stress” com a realidade maravilhosa da sua vida, onde a paz e a guerra habitam, para apreciar a paz ou fazer guerra para lutar pelo que deseja.
Tudo isto faz sentido, mas a verdade é que não dá verdadeira resposta nem à tristeza, nem ao stress. O que fazer?
Uns sapatos que ficam bem numa pessoa são pequenos para uma outra;
não existe uma receita para a vida que sirva para todos.”
Carl Jung
Procure ajuda e converse
Muitas vezes o efeito falar sobre o que o apoquenta com pessoas da sua intimidade ou confiança possibilita por si só dissipar a tristeza ao perceber que não se está só, que outras pessoas também sentem o mesmo, se confrontam com o vazio da perda, com a desorientação da falta de sentido, ou com a ansiedade, fruto da insegurança de se pensar que não se é capaz ou não se tem muito valor. Muitas vezes o conversar, sair do isolamento ou fazer alguma atividade que liberte a tensão interna, ajudam a dissipar a “depressão” , “stress pós férias” e a dissipar o que sente.
Se o amor ou a amizade não forem suficientes para ir superando esses estados de alma, hoje em dia já existem respostas de bons profissionais que, feito um diagnóstico, poderão ajudar a liberar-se de alguns estados de mal-estar, ou sofrimento mais permanentes, e a aprender a viver melhor sem depressões nem stresses pós férias ou entre férias. Sem receitas, pois não existe uma receita para a vida que sirva a todas as pessoas. Ouse começar a construir a sua própria receita e diga: olá meu querido Setembro!