Envelhecer com dignidade é um direito humano fundamental, mas é hoje um desafio. Infelizmente, a violência doméstica contra idosos é uma realidade que está a aumentar por parte de filhos, netos e familiares em casa, mas, por vezes, até mesmo por parte de cuidadores em lares. É uma violação dos direitos humanos em que os idosos são sujeitos a abusos psicológicos, verbais, físicos, financeiros, negligência, abandono e falta de cuidados básicos, sendo, em muitos casos, vítimas desta violência e maus-tratos de forma permanente. Destrói um aspecto fundamental da vida: a relação afectiva entre as pessoas, neste caso entre filhos e pais. É crime e é grave, mas é sobretudo um total desrespeito pelo ser humano. E, é triste, muito triste.
Porque não denunciam o agressor?
Frágeis e vulneráveis, são, por isso, um alvo “fácil”. Nem sempre têm a força para reagir, fazer queixa na polícia e levar os filhos a julgamento. Acabam por desistir das queixas e por não denunciar os agressores, por serem os filhos e por terem vergonha de passar por estas situações com os próprios filhos. Remetem-se muitas vezes ao silêncio vivendo anos em sofrimento continuado por vergonha, por medo de represálias ou pela chantagem emocional de que são vítimas. Este silêncio só facilita a continuação da violência. Há casos em que até se sentem culpados pela própria agressão.
Noutros casos os idosos não reconhecem que estão a ser maltratados ou podem ter
perda de memória ou demência, o que os torna dependentes. Muitos vivem socialmente isolados e muitos outros não conhecem os seus direitos. Muitos ainda, dizem ter pena de quem os agride. Ao pensarem desta forma, os idosos destroem-se psicologicamente a si próprios. A vida é demasiado exigente para que percamos tempo a cuidar de quem nos agride. É importante distanciar-se; é um dever proteger-se.
O insulto e a intimidação são crime em Portugal pelo que apresentar queixa destas agressões na GNR, ainda que não seja fácil, é uma forma válida de cuidar de si próprio. Ao fazê-lo o idoso mostra e exige respeito por si próprio, honrando-se a si próprio.
As consequências da agressão aos pais idosos
Em muitos casos o agressor não se reconhece como tal alegando que faz o que faz para proteger o idoso. Mas, na verdade, estas agressões são um abuso, uma violência, uma negligência, um mau-trato e, acima de tudo, um desrespeito. Agressões estas que se expressam pelo uso da força, na palavra, no silêncio, na omissão ou na posse. As consequências são, evidentemente, devastadoras para o idoso, para a sua saúde mental e física, mas também para as suas emoções ferindo o seu “coração”. Tratam-se de danos psicológicos, danos físicos, instabilidade emocional, mas também danos morais que afectam gravemente o idoso. Deixam sequelas profundas e em muitos casos levam à morte. A agressão não é só o acto físico de empurrar ou bater; é também a forma desadequada, insensível e desrespeitosa como se lida com os outros. É não saber respeitar o outro que existe para além de si próprio.
É uma situação dramática para o idoso em que há degradação da relação humana, cuja intensidade psicológica é aumentada pelo facto de ser cometida pelos próprios filhos ou familiares que deveriam proteger o idoso.
O que pode ser feito?
Definir claramente os conceitos é um dos caminhos – agressor vs filho. Tendo em conta que a palavra é organizadora do pensamento e que é o pensamento que regula as nossas emoções, o que sentimos, então, inibir o uso da palavra “filho” e usar a palavra adequada à situação: “agressor” torna o sentir menos sofrido. Porque de facto este “filho” não é um filho no real sentido da palavra; ele é um agressor o que é bem diferente de um “filho”. São conceitos diferentes com significados diferentes.
Ainda mais importante é aprender a dizer “Não!”. É o “Não!” que ajuda na transformação necessária para a construção do cérebro, através da educação. Perceber quem é esta pessoa, este agressor e decidir se queremos ou não queremos uma pessoa assim na nossa vida, que nos agride. Decidir se esta pessoa, este agressor é ou não é bom para nós. E, finalmente ser capaz de lhe dizer “Não!”. Escusado será dizer que isto implica uma aprendizagem, um treino e uma educação que é muito difícil de desenvolver nestas idades e que, infelizmente, não está enraizada na nossa sociedade, nem na nossa cultura.
Desta forma, a violência dos filhos contra os pais idosos é uma questão de educação e de falta de respeito no que é básico na relação entre as pessoas. A relação e o funcionamento entre as pessoas são processos de aprendizagem nem sempre valorizados na educação dada aos filhos. Aprender a dizer “Não!” nas relações com as pessoas e aprender a defender-se daqueles que abusam de nós é fruto da educação e é fundamental para que o desrespeito pelos pais idosos não aconteça.
E, por último, mas não menos importante, se conhece algum caso de violência doméstica contra pais idosos, denuncie! Pode salvar a vida dessa pessoa.