Como sobreviver a um ano desafiante?

Ana Tapia // Janeiro 12, 2024
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vida ano saúde mental
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Revê o ano que passou e ao poisar os olhos no recém-chegado novo ano agita-se perante a instabilidade que atravessa várias áreas da sua vida: social, familiar, pessoal, profissional, financeira…

A insatisfação presente em diversos setores da sociedade dá lugar a paralisações diversas que levam a que esteja continuamente a acomodar-se e a reinventar as suas rotinas: hoje são os transportes em greve, amanhã os serviços de saúde, no dia a seguir mais um imposto indireto, um escândalo político ou financeiro surge e.., entretanto, o governo cai. E o ceticismo que tem, alimentado pela falta de ética dos políticos, diz-lhe que a mudança só servirá para que tudo continue na mesma ou piore.

Entretanto, assiste com perplexidade aos conflitos internacionais que se desenrolam em guerras inesperadas e desumanas, com uma pulverização de ataques terroristas internacionais e desastres ambientais. Nada é constante, credível, previsível e que ofereça uma segurança plena.

E tudo isto se desenrola perante os seus olhos e ouvidos, e, gota a gota afeta, num crescendo, gera na sua vida ondas crescentes de pessimismo, medo, insegurança e mal-estar. STOP, pare… a sua saúde mental e física está em risco! Precisa de um manual de um kit de sobrevivência psicológica para manter a sua saúde mental.

A vida é uma sucessão contínua de oportunidade para sobreviver.”

Gabriel Garcia Marquez

O que é a sobrevivência psicológica e como se relaciona com a saúde mental?

A sobrevivência psicológica resulta da sua capacidade para lidar com as dificuldades, reagir e responder adequadamente aos desafios da sua vida, e resolver problemas e lidar consigo e com os outros, o que se traduz numa saúde mental fruto da sua capacidade de:

  • ultrapassar as crises;
  • lidar com o stress (com tudo aquilo que lhe provoca tensão no presente: trabalho, questões financeiras, tarefas doméstica, família, colegas, chefia);
  • acalmar as preocupações e a ansiedade (medo do futuro: ficar doente, não ter dinheiro, morrer precocemente, perder o trabalho);
  • adaptar-se aos ambientes (modificar o que está ao seu alcance, aceitar o que não pode mudar e saber distinguir entre as duas);
  • reconhecer quando está a ultrapassar os seus limites ou dos outros e identificar sinais de mal-estar;
  • ter sentido crítico e distinguir o que é a realidade da vida da fantasia ou ilusão;
  • manter e ter relações satisfatórias com as outras pessoas;
  • encontrar e desenvolver projeto(s) de vida.

É preciso coragem para crescer e tornar-se em quem realmente é.”

E.E. Cummings

O que significa ter coragem para crescer e tornar-se quem realmente é?

Talvez não saiba, mas tem em si tudo aquilo que precisa para viver bem. Por vezes essa sua capacidade inata está enfraquecida fruto de uma mente entorpecida pela insegurança, medo, ansiedade, crenças que tem sobre si e sobre os outros, pelo stress ou adversidades da vida. O que precisa para se equilibrar e fazer face às dificuldades naturais e/ou inesperadas da vida?

A. Equilibre as bases da sua vida

  1. Cuide habitualmente das horas de sono e dê prioridade às suas necessidades de descanso semanal (p.e. passatempos, atividades diferentes daquelas que realiza habitualmente) que permitam que mantenha a clareza de espírito, a lucidez nas decisões, a calma no lidar com as adversidades;
  2. Preste atenção à sua alimentação mantendo uma alimentação equilibrada e que assegure os nutrientes que precisa para se manter saudável;
  3. Mantenha as suas finanças sobre controlo criando uma lista das suas despesas e receitas, e “não dê um passo maior que a sua perna”, limite os riscos financeiros diminuindo os seus encargos e mantenha controlo sobre as suas despesas;
  4. Mantenha um estilo de vida saudável, faça exercício físico, e planeie os seus exames de rotina para prevenir doenças expectáveis de acordo com a sua idade e estilo de vida;
  5. Aprenda a relaxar para ter a elasticidade que precisa para “esticar” e ir mais além sempre que necessário;
  6. Faça jejum ou dieta dos noticiários repetitivos, alarmantes e pessimistas (em vez de realistas) em que perde  a noção real dos factos, aumenta o seu sentido de impotência e insegurança perante a vida. Procure ler ou ouvir especialistas reconhecidos e busque fontes de informação fidedignas.

B. Procure suporte 

  1. O bem-estar na sua vida depende da qualidade dos relacionamentos que tem, da reciprocidade no dar e receber que experimenta nas suas amizades, do apoio ou aceitação que tem das pessoas que lhe são significativas;
  2. Procure apoio em alguém que possa servir de mentor para o orientar, alguém que o motive a dar o melhor de si ou possa ajudar a resolver conflitos internos, crenças que não ajudam e emoções que levam a entorpecer ou a permanecer num estado de contínua agitação;
  3. Aprenda a ter autocompaixão: tratar-se com cuidado, atenção e compreensão, reconheça os seus próprios limites, perdoe-se pelos seus erros, valorize as suas conquistas. Desta forma irá ter uma relação mais saudável consigo (o que irá transparecer nas relações que tem com os outros).

C. Descubra e alimente um sentido de transcendência na sua vida

  1. Cuide do seu desenvolvimento espiritual e encontre sentido para a sua vida, descubra uma bússola que o(a) guia e orienta, acolhendo o que é intangível não palpável que lhe dá um sentido de ligação com algo maior do que si próprio(a), que lhe trará sentido, conexão e paz.  Um estudo publicado em 2020, que acompanhou diversas pessoas ao longo do tempo, encontrou um efeito positivo entre a espiritualidade ou religiosidade no bem-estar, satisfação e qualidade de vida;
  2. Aprenda a rezar: Benjamim Kimbal em 2013 encontrou em 359 estudos uma influência positiva da oração na capacidade de lidar com limites associados a uma baixa saúde mental (ansiedade, depressão e perturbações da personalidade, entre outras);
  3. Participe em práticas espirituais: a oração mental e vocal, os rituais sagrados, estudo das escrituras ou livros espirituais, participação em comunidades espirituais (todas as práticas religiosas são espirituais, mas nem todas as normas espirituais são religiosas); 
  4. Procure formas de expressão artísticas,  fontes de conhecimento e sabedoria. A arte é uma forma de expressão humana, através da música, pintura, dança, escrita, cinema.., que lhe possibilita recriar o que conhece e muitas vezes contactar com algo que de alguma forma o(a) transcende. Mantenha uma curiosidade sobre  tudo o que lhe acrescente conhecimento e aplicações do mesmo para melhor viver consigo e com os outros;
  5. Pratique o mindfulness. Esta é uma prática importada do oriente e adaptada ao ocidente que mediante a concentração da atenção no momento e práticas de respiração possibilita dar-se conta do que habitualmente escapa à sua consciência diária e onde aprende, progressivamente, a aceita o que lhe acontece; 
  6. Alimente o que lhe ajude a encarar com serenidade e sabedoria os revezes da vida (morte de entes queridos ou outras perdas; crises ou necessidade de encontrar algo que dê sentido ao que acontece na sua vida). Com a razão encontrará a explicação lógica dos acontecimentos, com o seu sentido de transcendência aprenderá a enfrentar com tranquilidade e confiança os percalços da vida;
  7. Mantenha o contacto com a natureza, esta permite-lhe descobrir a beleza das praias, lagos, jardins, florestas, montanhas (e tudo o que nelas habita) ao mesmo tempo que lhe dá uma outra perspectiva do que o(a) rodeia.

Ter uma boa saúde psicológica contribui diretamente para uma maior qualidade de vida.

Quando aprende a viver (fruto da forma como encara e lida com as adversidades), aprende a dar e receber, descobre a transcendência na sua vida, melhora os seus relacionamentos, desfruta mais do seu dia a dia, tem um maior rendimento enquanto vai experimentando oportunidades sucessivas de sobreviver vai-se tornando passo a passo “em quem realmente é”.

Quando o bem-estar acaba

e começa a aflição, 

começa a educação

que a vida nos quer dar.” 

Herman Hesse

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