Atualmente o tema vegetarianismo tem tomado grande parte da atenção dos portugueses. São inúmeras as questões que contornam este tema: o motivo que conduz à adoção deste regime, os efetivos benefícios para a saúde, as implicações para colocar em prática, inclusive o papel que este regime poderá representar na vida de um atleta ou de alguém que pratica exercício físico regular.
Na sequência do texto da colega Maria Santana Lopes, venho complementar este tema com a questão da dieta vegetariana versus performance desportiva. Quando bem planeada, uma dieta vegetariana pode preencher todas as necessidades nutricionais e pode ser adaptada a todas as fases do ciclo de vida, desde a gravidez até à idade adulta, incluindo mesmo atletas.
Estudos revelam que uma dieta vegetariana pode reduzir o risco relativo de doenças crónicas, da mesma forma que a atividade física regular também auxilia na prevenção e redução da gravidade destas condições. Desta forma, muitas pessoas, incluindo atletas, têm vindo a adotar uma dieta vegetariana para melhorar o seu estado de saúde. Além disso, muitos atletas estão a incorporar esta dieta com o objetivo de otimizar o seu desempenho físico.
Mas será que este tipo de regime garante a mesma força, a mesma resistência, a mesma velocidade, a mesma potência, a mesma capacidade de regeneração muscular, recuperação e adaptação aos treinos?
Uma revisão de estudos científicos realizada em 2016, onde foi comparado o efeito de uma dieta vegetariana versus uma dieta omnívora/mista, sobre o desempenho físico, ambas sem recurso a suplementação, concluiu que não há diferenças significativas no desempenho dos atletas. O consumo de uma dieta predominantemente vegetariana não melhorou nem prejudicou o desempenho dos atletas.
Para um ótimo desempenho, a dieta dos atletas vegetarianos deve ser energética e nutricionalmente equilibrada com especial atenção para a ingestão proteica, e especificamente de alguns minerais e vitaminas nomeadamente ferro, zinco, vitamina B12 (cianocobalamina), vitamina D (colecalciferol) e cálcio. As principais fontes destes nutrientes são os produtos de origem animal, no entanto, eles podem ser encontrados em muitas fontes alimentares adequadas para vegetarianos, incluindo sementes de CHIA, brócolos, tofu, tempeh, nozes, leite de soja fortificado, cereais integrais entre outros.
Embora não tenham sido conduzidos muitos estudos a longo prazo que avaliem os efeitos das dietas vegetarianas sobre os atletas, conclui-se que:
- dietas vegetarianas bem planeadas e devidamente complementadas parecem apoiar eficazmente o desempenho atlético;
- desde que a ingestão de proteínas seja adequada para satisfazer as necessidades de nitrogénio total e os aminoácidos essenciais, as fontes de proteína vegetal e animal parecem fornecer suporte equivalente para treino e desempenho atlético;
- os vegetarianos (particularmente mulheres) estão em maior risco de deficiência de ferro não anémico, o que pode limitar o desempenho físico, no que se refere a capacidade de resistência;
- os vegetarianos têm menores concentrações médias de creatina muscular do que os omnívoros, o que pode afetar o desempenho do exercício supra-máximo. Como as concentrações iniciais de creatina muscular são menores, é provável que os vegetarianos experimentem aumentos de desempenho maiores após suplementação de creatina em atividades de curta duração, nomeadamente sprints; saltos; curtas distâncias; remates; lançamentos.
- Os vegetarianos têm maior níveis de antioxidantes nomeadamente vitamina C (ácido ascórbico), vitamina E (tocoferol) e beta-caroteno do que omnívoros, o que pode ajudar a reduzir o stress oxidativo induzido pelo exercício.
- Treinadores devem estar cientes de que alguns atletas podem adotar uma dieta vegetariana como uma estratégia para controlo de peso. Consequentemente, a possibilidade de um padrão alimentar desordenado deve ser investigada se uma dieta vegetariana é acompanhada por perda de peso injustificada.
A popularidade das dietas vegetarianas em atletas tem sido reforçada com os casos de sucesso de atletas que são campeões mundiais.
Em baixo, alguns exemplos de atletas vegetarianos, recordistas, medalhados e internacionalmente reconhecidos.
Venus e Serena Williams, reconhecidas no ténis internacional, tornaram-se vegetarianas em 2012, devido ao estado de saúde de Venus. A tenista foi diagnosticada com a síndrome de Sjogren, que interfere com o sistema imunitário. Para recuperar e enfrentar a doença a campeã eliminou leite, ovos e todos os derivados de origem animal da sua dieta.
Fiona Oakes , campeã internacional na maratona, nasceu na Grã-Bretanha. Parou de comer carne aos 6 anos e tornou-se vegetariana durante a adolescência. Na maratona ganhou inúmeros títulos importantes, no topo de rankings em Amesterdão, Moscovo, Londres e Berlim. Em 2013 ganhou o Pólo Norte Maratona, que foi realizada a uma temperatura de -28 ° C.
Frank Medrano, fisiculturista, vegetariano e um dos maiores especialistas em Calistenia, uma técnica em que o atleta usa apenas o peso do próprio corpo para aumentar sua força e flexibilidade.
Robert Parish, um dos maiores jogadores de basquete da NBA é vegetariano. Reconhecido pela sua força imponente em campo, versatilidade, bem como pelo seu lançamento.
Relembro que a adoção de qualquer regime alimentar deve ser orientado por um Nutricionista/Dietista para garantir um correto aporte energético e nutricional, bem como uma educação acerca das fontes de nutrientes específicos, compra, confecção e preparação de alimentos.
BOA NUTRIÇÃO!!!! BONS TREINOS E BOM DESEMPENHO!!!