Uma visão integrativa na infertilidade

No Teu Ventre // Junho 14, 2023
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infertilidade
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Quando falamos de infertilidade falamos de uma problemática crescente que afeta, em Portugal, cerca de 300 mil casais em idade fértil. Casais estes que vivem, muitas vezes, o caminho de forma solitária, em silêncio, por pudor, por vergonha e por falta de informação que os possa dotar de ferramentas para ultrapassar estas barreiras de forma mais leve. Inversamente à informação social, os avanços tecnológicos na área da Reprodução Medicamente Assistida são notáveis e numa boa percentagem dos casos, aqui reside a solução, um quase-milagre de esperança. É neste quase-milagre que nos vamos debruçar. 

Tendencialmente, num quadro de infertilidade, busca-se uma causa física e tratamento correspondente. No fundo, segue-se um atalho que dê frutos, mas não o caminho necessário para nos debruçarmos na origem do problema – que pode nem estar no sistema reprodutor, no sistema hormonal ou noutro ponto que seja comummente avaliado. Não são raras as vezes em que o diagnóstico é ISCA – Infertilidade Sem Causa Aparente – porque, efetivamente, no estudo possível, não foi detetada nenhuma causa que impossibilite a conceção natural – mas o tempo passa e nada acontece.

E quando a causa não está no corpo físico? E se estivermos a ignorar pontos fundamentais da questão? Somos um todo e isso não pode ser ignorado! 

E quando chega o medo de nunca ser capaz? E quando “tinha tudo para dar certo” e falha uma e outra vez? E quando já desgastados, sem esperança, carregados de frustração, pensamos em desistir? E depois a culpa e as incertezas e o tempo que não espera por outra solução ou milagre.

Quando a doença se manifesta no corpo físico há muito que existe, sem que seja vista, no emocional, no espiritual. 

A infertilidade chega em jeito de alerta, de sinal luminoso e é uma forma de nos obrigar a abrandar, a olhar para nós e para as nossas feridas e recalcular a rota, muitas vezes a redefinir prioridades e perspetivas. 

O tempo que levamos neste processo de regresso a nós, no meio da aceleração que é a vida no dia-a-dia, e o caminho que escolhemos fazer serão determinantes no sucesso.

Então, é fundamental que analisemos todas as vertentes – o corpo físico/nutricional e emocional/espiritual – para que quando e se decidirmos abraçar a ciência, o façamos no melhor momento do nosso todo.

A infertilidade dá-se na quebra da homeostase, na quebra do equilíbrio. É uma consequência e não uma patologia.

Então, porque é que, quase instintivamente a vemos como um problema-meta e não como um caminho que deve ser feito de dentro para fora?

É ao seguirmos uma visão integrativa que estaremos a potenciar as probabilidades de obtenção de uma gravidez saudável e traremos leveza, aceitação, reconexão, ressignificação e melhoria da saúde global na vivência do processo. 

Sabemos que o útero é um centro energético poderoso, relacionado diretamente com o nosso feminino. Um órgão que retém as nossas emoções, os nossos bloqueios e das nossas ancestrais, um centro energético que deve ser cuidado amorosamente, pois é nele que reside a nossa criatividade, a nossa intuição – a nossa fertilidade – na vida e não só na questão reprodutiva. Quando estamos desconectados, nada flui – nem profissionalmente, nem nas relações e, no limite, nem na nossa fertilidade reprodutiva.

Por outro lado, a infertilidade é um processo carregado de stress, de ansiedade, de bloqueios emocionais, de estigmatização, gerando sofrimento pessoal e repercussões sociais. Funciona em espelho e na medida em que nos causa instabilidade emocional, a mesma vai dificultar o sucesso na obtenção de gravidez. 

Alguma vez paramos para pensar que a saúde dos gâmetas, quer na conceção natural, quer na reprodução assistida tem influência direta na viabilidade da gravidez e na saúde do futuro bebé?

A alimentação adequada é imprescindível para o bom funcionamento do corpo (e mente) e para a qualidade da matéria-prima que dará origem ao embrião. Um padrão alimentar desadequado, poderá levar a desequilíbrios hormonais que dificultam ou impossibilitam uma gravidez. 

Para a mulher que quer engravidar existem passos fundamentais no que toca à nutrição – desinflamar o corpo, modular o intestino, investigar e repor carências nutricionais (que, entre outras consequências, diminuem a qualidade e viabilidade dos ovócitos) e desintoxicar. 

Ignorando este passo a passo, estamos a ignorar o equilíbrio hormonal necessário para a produção de óvulos viáveis e a ignorar que devemos preparar o corpo para receber o tão desejado embrião, dando-lhe o ambiente mais propício para que se possa desenvolver em harmonia.  

É fundamental que a mulher procure um especialista em nutrição na saúde da mulher e na fertilidade, no mínimo, 3 meses antes de iniciar as tentativas. 

Na mesma lógica, devemos ter o homem como ativo neste processo, dado que a qualidade espermática é tão importante quanto a qualidade ovocitária. O embrião saudável depende de ambos os gâmetas.

Nutricionalmente falando é possível corrigir alterações na quantidade, movimento e estrutura quando aliamos a correta alimentação ao estilo de vida adequado.

Ao melhorarmos a qualidade espermática, estamos a aumentar as probabilidades de uma gravidez saudável – sendo que, por vezes, estes ajustes são a linha que separa a conceção natural da medicamente assistida.

Neste ponto já conseguimos entender o quanto estamos a ignorar quando acreditamos que a ciência, por si só, é suficiente. A ciência é maravilhosa e tem ajudado tantos e tantos casais a alcançar o seu sonho, mas não retira responsabilidade ao casal do caminho que este vai fazendo, das respetivas escolhas, da forma como se permitem viver. 

Não são raros os casos em que ao longo do caminho de autocuidado, de desenvolvimento pessoal, de reconexão com o nosso eu e o nosso corpo, a gravidez (até em casos destinados à PMA) ocorre de forma natural.

É urgente amparar, informar, dotar de ferramentas e acompanhar quem trilha esta rota ainda tão silenciosa quanto solitária, tantas vezes carregada de sombras e medo.

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