Confesso que a minha câmara fotográfica pequena e compacta às vezes causa-me algumas surpresas.
Se há objeto que compita comigo nos passos que dou será aquela máquina preta a caber na palma de uma mão. Vive comigo. Conhece-me os segredos sem os revelar.
Com ela a vida é simples, descomplicada. Mas é num momento de sorte que o passo de magia se dá. Que a luz brinca sozinha com aquelas lentes escondidas num corpo que cabe num bolso das calças e num abraço de contentamento se conjugam para guardar o momento. Aquele momento!
Foi sorte. Foi só olhar com os olhos que a fotografia nos acrescenta e ficar naquela espécie de oração com a luz.
O silêncio vivia ali naquele espaço por baixo de uma cidade onde a pressa se transforma num mar de sons a desabar no ruído da rebentação das ondas.
É por isso que o silêncio gosta de se esconder por ali numa brincadeira quase infantil com a luz que se escapa, sorrateira, lá para dentro.
É assim um coração gigante que estende braços por baixo da terra … e nas suas veias correm os silêncios de uma cidade que não pára … a não ser ali!