Sabia que na primeira sexta-feira do mês de Agosto assinala-se o Dia Internacional da Cerveja? Para assinalar esta data, estive à conversa com Fábio Torre, mestre-cervejeiro da Sovina. O tema da nossa conversa foram as cervejas artesanais em Portugal.
Na última década, o mercado de cervejas artesanais tem vindo a crescer, a aprimorar-se e a surpreender. Existem cada mais e melhores cervejas artesanais no nosso País.
6 perguntas e respostas sobre cervejas artesanais:
- O crescimento do mercado das cervejas artesanais em Portugal na última década é surpreendente. O que aconteceu para este boom?
Aconteceu o mesmo fenómeno que aconteceu mais cedo noutros países: o público apercebe-se que existe uma preocupação por trás dos produtos, que não é algo industrial e sem alma, sem coração, feito por máquinas em quantidades astronómicas. É um produto feito com carinho, a partir de ingredientes especiais. Os próprios cervejeiros estão nos eventos e festivais de cerveja artesanal e isso acaba por dar uma cara ao produto, personifica a cerveja. No final de contas, tudo isto se traduz numa experiência de prova muito mais prazerosa e gastronómica. São descobertos outros momentos de consumo.
- Quase que dá a sensação que fazer cerveja artesanal é fácil e está ao alcance de todos. O que está por trás da produção de cerveja artesanal? Que aspectos ter em consideração no fabrico de cerveja artesanal?
São duas coisas separadas. Uma coisa é fazer cerveja em casa. Quem já fez uma tarte ou um bolo alguma vez na vida, é plenamente capaz de fazer cerveja em casa. E há uma beleza neste facto. Poderes fazer a tua própria cerveja é algo mágico, quase como quem já revelou e ampliou filmes fotográficos em casa. Agora, levar isto adiante como meio de ganhar vida já é outra história. Para se ter ideia, um bom livro introdutório para cervejeiros caseiros tem cerca de 250 páginas. O equivalente para mestres-cervejeiros profissionais já passa para 3 volumes de 1500 páginas cada. E isso não cobre nem 10% do caminho todo, que, aliás, é de constante aprendizagem, dado que ainda há uma parte bastante abrangente do processo que a ciência ainda não estudou de forma conclusiva. Há que levar em consideração que as condições sanitárias numa fábrica não raro são iguais às de uma sala cirúrgica, há que atingir consistência nas cervejas lote a lote, há que se negociar com fornecedores de maltes, lúpulos, leveduras, às vezes frutas, às vezes barricas de vinho, saber a legislação de engarrafamento e rotulagem, quais os estilos que são tendência, nichos de mercado, venda interna e exportação. Dá para ficar aqui horas a falar sobre isso.
- Quais são os principais estilos e tipos de cerveja artesanal?
A cerveja classifica-se basicamente em 3 tipos: as de fermentação alta, as de fermentação baixa e as de fermentação espontânea. As cervejas de fermentação baixa normalmente têm sabores muito mais delicados, são cervejas mais descomplicadas, despretensiosas. As cervejas industriais, por exemplo, são normalmente cervejas de fermentação baixa. As cervejas de fermentação alta já têm um caráter mais encorpado, com mais personalidade, permitem uma gama mais alargada e diferentes ocasiões de consumo. As cervejas de fermentação espontânea, por fim, aproximam-se do território dos vinhos, são mais ácidas, com muitas camadas de complexidade.
- Como se podem definir as cervejas artesanais produzidas em Portugal? Qual a identidade das cervejas artesanais portuguesas em comparação com as dos países com longa tradição nesta área?
Existem países com longa tradição de cerveja, como a Alemanha, a Bélgica, R. Checa, etc. E existem países onde a cultura de cerveja é mais recente. Acreditamos que em Portugal a cultura de cerveja ainda se está a desenvolver e queremos ser parte activa desse movimento. As cervejas artesanais em Portugal já são muitas vezes de grande qualidade e com um carácter experimental particularmente interessante. Parece-nos que a aproximação ao universo dos vinhos, através da utilização de barricas ou mesmo uvas, pode ser um factor diferenciador para as cervejas artesanais portuguesas nos mercados internacionais. Itália, por exemplo, tem vindo a fazer percurso nesse sentido.
- Porque devemos optar por uma cerveja artesanal?
Na Sovina costumamos falar em cervejas genuínas, elaboradas apenas com ingredientes naturais. Nas cervejas artesanais existe um cuidado muito grande na selecção de ingredientes e no acompanhamento das várias fases do processo. As cervejas são elaboradas com cuidado e trabalho manual, de forma responsável e inspiradora, por pessoas que podes conhecer pessoalmente. No final do dia, são cervejas com sabor e personalidade, capazes de acompanhar várias ocasiões de consumo.
- O que podemos esperar do futuro das cervejas artesanais em Portugal?
O mercado vai evoluir e nesta fase já podemos ter a certeza que a tendência veio para ficar. Vamos ver, mas o futuro da cerveja em Portugal só pode ser auspicioso.

O que é português é bom, mas lembre-se sempre que moderação é a palavra de ordem no que toca ao consumo de bebidas alcoólicas.