Treine o cérebro para solucionar problemas de forma eficaz

Vasco Catarino Soares // Janeiro 22, 2024
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Resolver problemas eficazmente não é uma capacidade cerebral isolada; não há uma função cognitiva exclusiva para resolver problemas. Resolver problemas é possível graças à acção das várias capacidades cognitivas (cerebrais) que possuímos. No interior do nosso cérebro, várias redes neuronais com diferentes funções trabalham em colaboração para que todos os nossos pensamentos, emoções e acções se realizem da forma mais harmoniosa possível. 

Componentes cerebrais envolvidas na solução de problemas

Para resolver um problema, seja ele qual for, com maior ou menor grau de dificuldade, temos de nos socorrer de várias capacidades cerebrais diferentes, tais como capacidade de prestar atenção a todos os detalhes da realidade, recorrer à nossa memória para procurar situações semelhantes, procurar erros praticados em soluções passadas, funções de análise e comparação de informação, previsão de consequências das nossas acções e estabelecer um plano de acção. 

Porém, estas diferentes partes, ainda que com funções específicas, fazem um trabalho coordenado com vista a um objectivo. À frente desta coordenação tem de estar um centro de comando. Caso contrário as diferentes funções cerebrais não poderiam determinar que objectivo iriam perseguir, nem como o fazer. Uma vez que, como já foi referido, têm funções específicas no cérebro e elas servem para diferentes propósitos. E por isso é preciso existir um centro de comando, que determina que acções são necessárias e por que ordem devem ser executadas. Este centro fica situado na parte frontal do cérebro, mais especificamente na parte pré-frontal, ao nível da testa. Foi a última estrutura cerebral a surgir na evolução do cérebro ao longo da existência do Homem na Terra, o que também significa que, no ser humano, é o último a atingir a maturidade (estima-se que pelos 18-19 anos). É considerado o topo do funcionamento executivo e por isso recebe muitas vezes o nome de funções executivas. Organiza respostas a problemas complexos, planeia os passos necessários de uma acção até ao objectivo, procura na memória dados e experiências relevantes, adapta estratégias para integrar informação nova, guia o comportamento com as verbalizações e mantém a informação na memória de trabalho (memória de curto prazo). O circuito orbitofrontal gere os impulsos emocionais em formas adaptadas e socializadas de resposta e transforma-as em respostas de comportamento produtivo, tais como a empatia, o altruísmo, a interpretação das expressões faciais, etc..

Mas, perguntará o leitor, não temos já essas capacidades para enfrentarmos as demandas da vida e resolver problemas? Certamente que temos essas capacidades, mas estas carecem de ser desenvolvidas. Além do mais, não são constantes: ao longo da nossa vida podem estar mais ou menos capazes para enfrentar as exigências que se colocam. Dependem do esforço e do cuidado que lhes dedicamos. Em suma, de treinarmos bem estas capacidades.    

Sabemos hoje que o cérebro humano se altera constantemente desde a infância até ao último dos seus dias. Assim, e naturalmente, as funções cognitivas também se modificam ao longo da vida, umas vezes em nosso benefício e outras em nosso prejuízo. Digamos que se deixássemos a natureza das coisas seguir o seu curso, o que mais facilmente aconteceria seria que as nossas capacidades fossem diminuindo gradualmente com o avançar da idade. Mas ao contrário do que se acreditava antes do surgimento das neurociências, podemos de facto obter um excelente rendimento do nosso cérebro em qualquer idade. Há sempre potencial para melhorar as nossas capacidades cognitivas independentemente do estado em que elas se encontrem na actualidade. E isto pode ser feito através do treino cerebral. Sim! É isso mesmo! Treino das capacidades cerebrais com exercícios estruturados específicos para cada função cerebral. Estes exercícios podem ser encontrados nos livros «Exercite o Seu Cérebro» e «Exercícios para Recarregar o Cérebro», que pode encontrar nas livrarias em Portugal. Se treinarmos todas as funções cerebrais teremos um melhor cérebro, mais capaz de lidar com o mundo (situações e pessoas) e os problemas que este coloca. 

Competências para a solução de problemas

As principais competências para a solução dos problemas, sejam eles simples decisões diárias ou grandes dilemas de vida, são sensivelmente as mesmas, ainda que o grau de implicação possa variar: a) capacidade de análise; b) sensibilidade para observar diferentes perspectivas; c) procurar soluções criativas; d) admitir e aprender com os erros.

a) Capacidade de análise 

Diante de um problema, é comum sermos tentados a adotar uma abordagem superficial. No entanto, aumentar a capacidade de análise implica mergulhar mais fundo, questionar premissas e desmembrar o problema em partes acessíveis. O cérebro, do mesmo modo que um músculo, fortalece-se quando enfrenta desafios complexos. São os exercícios de resolução de problemas, que variam desde simples quebra-cabeças, jogos de estratégia, até questões do dia-a-dia, que desempenham um papel fundamental neste processo de desenvolvimento da capacidade de análise.

A prática regular de quebra-cabeças e problemas lógicos, por exemplo, oferece um terreno fértil para o desenvolvimento da capacidade analítica. Cada peça exige um olhar atento, uma habilidade de reconhecer padrões e uma capacidade de visualizar o todo a partir de partes aparentemente desconexas. Esta prática não apenas aguça o cérebro, como também o prepara para enfrentar os problemas mais complexos da vida.

Os jogos de estratégia, por sua vez, proporcionam um ambiente virtual para a aplicação prática da análise. Ao antecipar movimentos, avaliar possíveis cenários e identificar pontos fracos, o cérebro condiciona-se a pensar de maneira mais crítica e sistemática. Esta abordagem estratégica não só amplia a capacidade analítica, mas também alimenta a capacidade para lidar com as complexidades inesperadas.

Por seu turno, as questões do dia-a-dia oferecem oportunidades valiosas para melhorar a capacidade de análise. Desde a resolução de problemas no trabalho até decisões quotidianas, cada situação é uma oportunidade para aplicar o pensamento analítico. Ao partir um desafio maior em pequenas partes, o seu cérebro torna-se mais eficiente na identificação de soluções eficazes.

b) Observar diferentes perspectivas

Uma mente habituada a diferentes perspectivas é, por natureza, uma mente enriquecida. Uma mente que não se acomoda a padrões familiares de resolver as questões. Exercitar o seu cérebro para abraçar diferentes perspetivas exige uma exposição constante a diferentes culturas, ideias e disciplinas. Participar em debates, explorar obras de autores variados e dialogar com pessoas de origens diversas são métodos eficazes para ampliar o pensamento. Ao abordar um problema sob diferentes ângulos, promove-se o desenvolvimento de uma flexibilidade crucial para lidar com desafios complexos.

A participação em debates e discussões proporciona um ambiente propício para a exposição a diferentes perspetivas. O confronto de ideias e a consideração de pontos de vista opostos não só desafiam o cérebro, mas também afinam a sua capacidade de compreensão e apreciação da diversidade de pensamento. 

A leitura de obras de diferentes autores é uma porta aberta para mundos distintos de pensamento. Cada autor traz consigo uma bagagem única de experiências e visões de mundo, expandindo assim as fronteiras do conhecimento. A diversidade literária alimenta a mente com uma riqueza de perspetivas, fornecendo um arsenal de ideias para abordar problemas sob vários pontos de vista.

O diálogo com pessoas de origens diversas é uma fonte rica de ideias. Ao praticar a empatia e ouvir atentamente, o nosso cérebro abre-se para novas possibilidades. A troca de experiências e perspetivas oferece uma compreensão mais profunda da complexidade humana, enriquecendo a capacidade de enfrentar desafios com sensibilidade e compreensão.

Ao encarar um problema sob diferentes ângulos, a mente torna-se mais versátil e mais bem preparada para a inovação. A flexibilidade mental resultante da exposição a diversas perspectivas é um trunfo valioso na resolução de problemas complexos. Em última análise, a riqueza de pensamento que surge da diversidade é um catalisador para soluções inovadoras e uma mente enriquecida.

c) Procurar soluções criativas

A capacidade de buscar soluções não convencionais é a essência da criatividade. Treinar o cérebro para esta abordagem implica uma prática regular de exercícios de pensamento lateral, nos quais o foco está em encontrar soluções fora dos parâmetros habituais. Ao romper com a convencionalidade, o cérebro encontra-se mais adaptável e propenso a inovações. Isto não significa apenas pensar “fora da caixa”, mas redefinir a própria caixa. A exploração de campos do conhecimento que estão fora da nossa área de especialidade é outro método eficaz para estimular a criatividade.

A prática de exercícios de pensamento lateral é uma jornada pelo terreno do inusitado. Estes exercícios desafiam a mente a abandonar as rotas tradicionais de pensamento e a explorar caminhos menos habituais. Ao confrontarmos o cérebro com situações onde a resposta não é óbvia ou evidente, possibilitamos o desenvolvimento da capacidade de encontrar soluções únicas e inovadoras. Pode encontrar exercícios deste tipo no livro «Exercícios para um cérebro mais inteligente».

Ao estimular a criatividade através da busca de soluções não convencionais, não estamos apenas a resolver problemas de maneira única, mas também cimentando o caminho para descobertas e inovações significativas. A capacidade de desafiar o status quo e explorar novos horizontes é o que impulsiona a criatividade, transformando a mente num terreno fértil para ideias revolucionárias.

d) Lidar com erros

O medo de errar paralisa o nosso pensamento criativo. Entender que o erro é uma parte intrínseca do processo de aprendizagem e que a mudança de planos não é uma derrota, mas uma oportunidade de ajustar o caminho que iniciamos, é vital. Cultivar uma mentalidade de crescimento, onde os erros são encarados como oportunidades para aprender, fortalece a resiliência mental.

Ao enfrentar desafios criativos, a ideia do erro como algo a ser evitado a todo o custo pode provocar um bloqueio significativo. No entanto, ao perceber o erro como uma bússola, que nos indica que há melhorias a fazer, a nossa mente fica liberta da paralisia e abraça uma abordagem mais ousada. Cada erro passa a ser visto como mais um bloco na construção do edifício da mestria.

A mudança de planos é inevitável em qualquer empreendimento criativo. Encará-la não como uma derrota, mas como uma oportunidade para um ajustamento estratégico, é uma perspetiva valiosa. A mente flexível não vê a necessidade de se vincular rigidamente a um plano inicial. Em vez disso, ela adapta-se às circunstâncias, aprende com as experiências e ajusta a sua trajetória para melhor chegar ao objetivo final.

Treinar o cérebro para solucionar problemas eficazmente é uma busca contínua. 

Ao integrar estas práticas na nossa rotina diária, estamos a moldar a forma como abordamos os desafios e a própria estrutura da nossa capacidade mental. A arte de solucionar problemas, assim, torna-se uma jornada fascinante de autodescoberta e melhoramento constante, onde iremos necessitar de toda a nossa capacidade de raciocínio lógico e criatividade.

É precisamente essa capacidade lógica de olhar para o mundo e encontrar uma maneira eficaz de solucionar problemas que quero estimular com os exercícios que estão no livro «Exercícios para um Cérebro Mais Inteligente». 

Os benefícios esperados com a realização destes exercícios são: 

• desenvolver mais a sua competência para resolver problemas; 

• encontrar incoerências nos enunciados que lhe são apresentados e que lhe permitam distinguir o verdadeiro do falso; 

• aumentar a sua capacidade de análise e encarar as diferentes perspectivas da realidade; 

• alterar a sua mentalidade para procurar soluções menos óbvias para os problemas; 

• encarar melhor o erro e a mudança de planos; 

• aumentar a sua capacidade para organizar informação, ideias e pensamentos de modo a encontrar soluções para problemas; 

• aumentar a sua tenacidade e resiliência para completar desafios; 

• aumentar a sua capacidade de observação e atenção ao significado das palavras.

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