Antigamente aquele terreiro era conhecido pelas “casas velhas”. Era onde os catraios brincavam numa terra preta que lhes deixava os pés escuros como se fossem os sapatos que não tinham. Porque não os havia e havendo eram guardados para fazer o caminho da escola ou ir à missa aos domingos.
Antigamente aquele terreiro era um espaço largo naquela aldeia acanhada onde só tarde chegou o cheiro do alcatrão. Ali se brincava ao “buraquinho” com os feijões surripiados lá de casa “onde se cantava para enganar a fome”, contava-me a minha avó.
Depois chegou o “poder local” e as “juntas de freguesia” a encherem-se de brios e ao terreiro foi emprestada outra dignidade.
Aos domingos, porque as terras são deixadas em descanso, é ali que se juntam para lembranças antigas. O riso da miudagem dá lugar às histórias dos mais velhos quem sabe se lembrando o caminho de terra batida que se fazia ligeiro até à vila.
O silêncio era apenas cortado pelo “toque das misericórdias” que lembravam a hora do regresso a casa de chapéu na mão.
Agora lá em baixo corre uma estrada e os ruídos dos carros ” em viagens onde as pernas já lá não vão”…