Tudo o que precisa de saber sobre alergias alimentares

Alexandra Bento // Julho 8, 2018
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A alergia alimentar tem assistido a um aumento na última década: estima-se que tenha aumentado 18% e, particularmente, 50% no caso das crianças. As estimativas apontam para que, pelo menos, 8 em cada 100 crianças sofram de alguma alergia alimentar, sendo esta prevalência inferior nos adultos (cerca de 5%).

O que é a alergia alimentar?

A alergia alimentar caracteriza-se por uma resposta excessiva do sistema imunológico quando exposto a um determinado alimento. Os indivíduos com alergias alimentares, quando expostos a um determinado alimento, e em particular ao seu alergénio (substância do alimento responsável pela reação, geralmente uma proteína), sofrem uma reação adversa manifestada de forma variável. Na maior parte das reações de alergia alimentar, em particular nas mais graves, há produção do anticorpo IgE (imunoglobulina E). A primeira exposição ao alimento origina uma elevada produção de IgE pelo sistema imunológico, a chamada sensibilização. Num segundo contacto com o alergénio desencadeia-se uma reação alérgica por parte do sistema imunológico. Há ainda indivíduos que têm alergia a mais do que um alimento, casos que têm vindo a ser cada vez mais frequentes.

Quais as principais alergias alimentares? 

As principais alergias alimentares são às proteínas do leite de vaca, ao ovo, amendoim, frutos gordos e oleaginosos (como a noz, a avelã, entre outros), bem como ao peixe, marisco, trigo e soja, sendo estes alimentos responsáveis por 90% das reações.

A alergia às proteínas do leite de vaca é a mais comum entre as crianças nos primeiros anos de vida. Outros alergénios como o aipo, a mostarda ou o tremoço são menos prevalentes, mas é obrigatório que constem na rotulagem desde dezembro de 2014, uma vez que o Regulamento (UE) no 1169/2011 veio tornar obrigatória a informação sobre a presença de alergénios em alimentos pré-embalados e não pré-embalados.

Qual a diferença entre a alergia alimentar e a intolerância alimentar?

Importa distinguir alergia alimentar de intolerância alimentar, uma vez que os dois conceitos são muitas vezes confundidos: enquanto a alergia pode causar reações potencialmente fatais, a intolerância não envolve o sistema imunológico e é caracterizada pela dificuldade em digerir um determinado alimento. A alergia alimentar pode, assim, causar uma reação anafilática – uma reação alérgica sistémica, que se trata da manifestação mais grave e potencialmente fatal da alergia. A intolerância à lactose, por exemplo, caracteriza-se pela dificuldade em digerir o açúcar naturalmente presente no leite, a lactose, e os seus sintomas podem incluir diarreia, dor abdominal e flatulência, mas não envolve risco de vida.

Como sobreviver às alergias alimentares?

  1. Procurar um acompanhamento médico especializado 

É fundamental consultar um médico especializado – Imunoalergologista – para assegurar um diagnóstico e tratamento adequados.

  1. Procurar um acompanhamento de Nutricionista 

O Nutricionista tem um papel importante na orientação alimentar do doente com alergia alimentar, nomeadamente na prevenção de deficiências nutricionais decorrentes da retirada do(s) alimento(s) responsável(eis) pela(s) alergia(s), sobre os cuidados de consumo e sobre a correta leitura dos rótulos.

  1. Estar atento aos rótulos dos produtos alimentares 

O tratamento convencional da alergia alimentar baseia-se na exclusão do alergénio da alimentação. Esta exclusão pode alargar-se a todos os géneros alimentícios e preparações culinárias que possam conter o alergénio em causa. Por exemplo, no caso de ter alergia ao amendoim não deve consumir alimentos onde no respetivo rótulo se leia “pode conter vestígios de amendoim”. Apesar da sua potencial presença em quantidades vestigiais no alimento, a sua ingestão é desaconselhada. A leitura e interpretação dos rótulos alimentares afiguram-se, assim, como sendo essenciais para prevenir reações adversas decorrentes da ingestão do alergénio.

  1. Ter cuidados na preparação e confeção de alimentos 

Utilizar utensílios de cozinha bem lavados e não utilizar tachos, panelas ou frigideiras que foram utilizadas na confeção de um alimento ao qual se é alérgico na confeção de um prato que se vai consumir.

Quais são os riscos que as pessoas correm se não respeitarem as respetivas indicações?

Os riscos no caso de não se respeitar as indicações relacionam-se com as manifestações clínicas das reações alérgicas. As manifestações são variáveis, podendo ser moderadas a graves, sendo nalguns casos mesmo fatais.

O aparecimento dos sintomas verifica-se entre alguns minutos até duas horas após o contacto com o alergénio. Os sintomas podem surgir de forma isolada ou combinada: erupções cutâneas, edema da glote e da língua, vómito, dores abdominais, diarreia, perda de consciência, entre outros. A alergia alimentar pode ainda manifestar-se por uma reação alérgica grave generalizada, caracterizada pelo aparecimento rápido de dificuldade na respiração, acompanhada ou não de tonturas e geralmente associada a manifestações cutâneas, como a urticária.

Outra manifestação é o Síndrome de Alergia Oral que habitualmente não se trata de uma forma grave de alergia alimentar e ocorre após o contacto entre a mucosa oral do indivíduo alérgico e um fruto fresco ou hortícola ao qual seja alérgico. Os sintomas incluem edema, prurido nos lábios, boca e garganta. A maçã, o pêssego, a ameixa e a pera são alguns dos alimentos mais frequentemente envolvidos neste síndrome.

Em casos de exposição acidental ao alergénio e de ocorrência de uma reação anafilática pode ser necessário recorrer à injeção de adrenalina, medicação dos quais geralmente são portadores os indivíduos com história de alergia alimentar grave, e contactar o número de emergência médica, de modo a assegurar a assistência médica adequada.

Quem deve acompanhar uma pessoa com alergias alimentares? Médico de família ou Nutricionista? 

Em caso de dúvida sobre ser portador de alguma alergia alimentar há que procurar o aconselhamento médico, concretamente uma consulta médica de Imunoalergologia. Cabe ao médico o diagnóstico da alergia alimentar e, nos casos em que se tal se justifique, a prescrição de adrenalina para auto-administração, bem como a orientação do doente relativamente à sua utilização.

No que respeita ao planeamento alimentar deve existir a colaboração estreita entre o médico e o nutricionista, de forma a garantir o aconselhamento nutricional adequado, uma vez que a alimentação deve ser diversificada e, simultaneamente garantir a adequada exclusão do alergénio da dieta, para prevenir possíveis erros alimentares e carências nutricionais.

O nutricionista será ainda o profissional de saúde com competências para providenciar a informação necessária ao indivíduo alérgico e seus familiares, nomeadamente informação que possibilite a correta leitura dos rótulos alimentares e uma preparação e confeção segura das refeições.

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