Ver um filho nascer é um momento esperado por muitas mulheres, mas também temido por conta da dor associada ao parto. Em parte, estou convencida que a dor pode ser potenciada devido a ideias pré concebidas e pelas tantas histórias sobre o quanto custa parir.
Eu era uma dessas mulheres que morria de medo do parto, mas a minha experiência pessoal foi extraordinária e, por isso, estou aqui para a partilhar e quem sabe com este testemunho encorajar as futuras mamãs.
Parto natural e humanizado
No meu caso tive um parto natural, humanizado e sem epidural, com muito amor e tranquilidade. Tudo isto só foi possível graças a um trabalho terapêutico que começou logo no início da gravidez.
Vivo fora do país há três anos, o acompanhamento da gravidez e parto foram realizados em Inglaterra, apesar de haver muitas portuguesas que preferem ser seguidas e ter os seus bebés em Portugal. Eu confiei no sistema de saúde inglês e posso dizer que em nada estou arrependida.
Porém, antes de começar a descrever a minha experiência, devo dizer que as terapias descritas a longo deste testemunho também podem ser realizadas em Portugal.
Em Inglaterra, os cuidados pré natais são realizados no centro de saúde, mais propriamente, pelo departamento das midwives (a midwife é um género de parteira/enfermeira, mas ao nível de um médico, com formação superior e credenciada para o acompanhamento da grávida, parto e pós parto). Importa dizer que neste país, ao contrário do que acontece em Portugal, a maioria das grávidas são seguidas pelo sistema público de saúde – recorrer ao privado não é muito comum por aqui – por uma questão cultural, mas também porque o sistema público de saúde é eficiente no que toca aos cuidados pré natais.
As consultas, a regularidade e os exames são semelhantes ao que acontece em Portugal, as principais diferenças residem no facto de existir um acompanhamento pós-parto (todas as mamãs têm direito a um apoio em casa, depois do bebé nascer, durante um determinado período de tempo, no mínimo três meses). A outra diferença está no discurso dos profissionais de saúde que prima pela positividade e pelo encorajamento na prática de terapias complementares que promovam o bem-estar da mãe e do bebé.
O papel das terapias complementares na gravidez
No meu caso, a midwife que me acompanhou sugeriu-me algumas terapias complementares que estou convencida que contribuíram para uma gravidez plena, sem problemas e um parto extraordinário. Essas terapias passaram por meditação, Reiki, Hypnobirthing (hipnose vocacionada para o parto) e Yoga.
Meditação
Há alguns anos que pratico meditação transcendental, uma técnica simples de 20 minutos que pressupõe um mantra dado por um mestre. Em Portugal, podem aprender esta técnica na Cooperativa Cultural Maharishi (todas as informações aqui). A meditação pode ser iniciada em qualquer momento da vida, e a gravidez é um ótimo momento para isso, pois dá-nos a paz interior e a tranquilidade necessárias para viver um momento tão feliz, mas também envolto de alguma ansiedade.
Reiki
Para além da meditação diária, aplicava Reiki (uma técnica milenar que pressupõe a imposição das mãos em determinados pontos do corpo – chacras – e assim promover um melhor equilíbrio energético, logo maior bem-estar para a grávida e bebé). Não tem que ser necessariamente praticante de Reiki; Quem tiver interesse em experimentar e conhecer esta técnica deverá procurar um centro alternativo que tenha ao dispor este tratamento, que hoje em dia esta técnica já é bastante vulgar no nosso país.
Yoga e Hypnobirthing
Com o aproximar da data do parto, pratiquei alguns exercícios de Yoga que me ajudaram no treino da respiração e a estar preparada fisicamente e o Hypnobirthing, a hipnose orientada para o trabalho de parto foi a grande novidade e uma grande ajuda na hora de ter o meu bebé.
Em Inglaterra, esta técnica é reconhecida pelo sistema público de saúde, apresentada através de uma aplicação de telemóvel para as futuras mamãs usufruírem dos seus benefícios e, a par disso, existem terapeutas que fazem esse trabalho, um serviço pago, a que eu recorri um mês antes da data prevista do parto.
Foram três sessões de hipnose, onde foram trabalhados o medo e a dor. Sem nunca perder a consciência durante o processo, fui hipnotizada para encarar a dor de forma positiva. Esta técnica quando realizada com sucesso é além de mais extremamente relaxante. Em Portugal pode procurar um psicólogo com a vertente de Hipnoterapeuta ou ainda através do Hypnobirthing Portugal.
No que toca ao local de nascimento, depois de uma visita, optei por uma maternidade cuja missão defendida é o máximo bem-estar da grávida, ou seja, prevalece a vontade da grávida sem imposições médicas. Esta maternidade oferecia a possibilidade de ter um parto com intervenção médica (epidural e cesariana) e um parto natural com parteira, eu escolhi a opção do natural. Claro que poderia mudar de ideias a qualquer momento ou se se justificasse a intervenção médica ser-me-ia concedida.
O meu parto (quase) sem dor
Fiquei instalada numa suite, juntamente com o meu marido e uma amiga que desempenhou o papel de Doula. No quarto tinha uma bola de pilates (uma maravilha para amortecer as contrações) e uma piscina de água quente, para além da cama.
O ambiente estava a meia luz e a música clássica proporcionou a paz que é necessária naquela hora. Foram 18h de parto, entre a primeira contração e a expulsão, posso dizer que tive momentos de muita paz em que desfrutei bastante, tudo porque controlei a dor!
A par disto, ofereceram-me a possibilidade de fazer aromaterapia e foi-me administrada ocitocina (uma hormona presente no corpo humano, conhecida como sendo a hormona do “amor”, no trabalho de parto é responsável por provocar as contrações regulares e ritmadas do útero, permitindo uma mais rápida dilatação). Utilizei também uma máscara de gás (mistura de gás com oxigénio que ajuda no controlo da dor) e pastilhas de glucose que me deram mais energia.
Tudo isto contribuiu para um momento inesquecível, não só pela sua natureza, mas porque estava tranquila, consciente e todo o ambiente à minha volta apelava a uma paz muito grande, posso dizer que é como se tivesse sido em casa. A parteira foi muito atenciosa e transmitia muita paz o que foi decisivo para um desfecho feliz.
O parto não tem que ser aquele filme de terror que tantas vezes ouvimos contar ou mesmo como os filmes nos mostram. O parto dói, mas essa dor pode ser controlada, porque a partir do momento que controlamos a dor, a experiência é vivida de uma forma mais positiva. Não temos que ficar presas apenas ao convencional! O mundo está em constante avanço e, nesta matéria, existem muitas coisas que na altura das nossas mães e avós não existiam, mas se hoje temos essa possibilidade porquê sofrer?
A gravidez é um momento único na vida de qualquer mulher, por isso, deve ser vivido em pleno. Ter um parto feliz e inesquecível é não só um desejo, como um direito que qualquer mulher deveria ter.