Stress Traumático e Eventos de Vida: o Caso do Chapecoense

Ana Bispo Ramires // Dezembro 13, 2016
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Nas últimas semanas o público em geral tem vivido com algum choque e consternação o trágico acidente de avião que vitimou 71 pessoas (à data), nas quais se incluía quase todo o plantel de uma equipa de futebol brasileira.

As imagens de uma equipa de jovens, prontos para disputarem um grande objetivo de vida, com grande alegria e entusiasmo entraram pela vida dentro de cada um de nós, via TV, jornais ou internet.

A dita consternação agigantou-se ainda mais, com a hipótese levantada de que haveria erro humano (no caso, uma péssima decisão de economizar combustível, sem antecipar todas as possíveis implicações e cenários de crise – estratégia esta que, muito frequentemente, usamos em contexto de performance).

Eventos de vida desta natureza, que tive a oportunidade de observar de muito perto no caso da trágica morte de Miklós Fehér, durante a minha colaboração com o SLB, que foi sobejamente e abusivamente exposta pelos media, despoletam na população em geral sentimentos de revolta, angústia, desesperança e de uma enorme perceção de fragilidade, face aos imponderáveis da Vida.

Contudo, não precisamos ser observadores diretos para sofrer os efeitos do stress traumático, na medida em que a exposição excessiva às imagens do cenário do acidente (aqui, muitas vezes com responsabilidade acrescida para os media que, no caso do acidente de avião onde de estava a equipa do Chapecoense, respeitou, e muito bem, o pedido de resguardo que foi feito no sentido de não serem transmitidas imagens), torna-nos “participantes indiretos”, sendo, todos nós, passíveis de sentir o mesmo tipo de sintomatologia – exemplificando, no ano em que o atleta do SLB faleceu, a solicitação de exames cardiológicos em Portugal quintuplicou!

Na realidade, as pessoas não tinham mais episódios ou suspeitas de problemas cardiovasculares… simplesmente, estavam mais ansiosas.

Este tipo de alteração emocional, com marcada sensação de choque, medo e ansiedade ou episódios de raiva, irritabilidade e revolta (ou seja, labilidade emocional), que pode ser amplificada com episódios de insónia e “flashback’s” (sensação de estarmos a reviver tudo de novo), entre outros sintomas, apesar de ser “normal” porque acaba por espelhar a nossa capacidade de empatizar com o que nos é próximo ou alheio, acaba por, pontualmente, comprometer a nossa qualidade de vida e a nossa capacidade em estarmos bem connosco próprios, com o outro e com o mundo (logo, com agravamento do nosso desempenho em contexto profissional).

Muito frequentemente, estes sintomas de “trauma” estendem-se no tempo e, nesse caso, é importante que se procure ajuda especializada de uma equipa multidisciplinar (médico e psicólogo, pelo menos, deverão trabalhar em articulação).

Este tipo de eventos conduz, muitas vezes, a novas promessas de Vida que fazemos a nós próprios, quase sempre no sentido de nos darmos mais a nós e aos outros… também frequentemente e, do ponto de vista do equilíbrio do sujeito, menos interessante, promessas de “viver o agora intensamente porque não sabemos o dia de amanha” que, se não estiverem articuladas com um projeto de vida sólido, resultarão meramente no envolvimento em atividades, relações ou projetos pontuais (onde se possa viver intensamente os afetos positivos) que, a médio-longo prazo, poderão resultar num enorme alheamento da Vida em si, uma vez que, o equilíbrio traduz-se em aceitar que a Vida traz afetos negativos e positivo e, o “segredo” é saber aceitar e usar cada momento como alavanca de crescimento.

Há, contudo, algumas estratégias com que podemos atuar para diminuir este tipo de sintomatologia, tais como:

– Ser mais proativo junto da sua rede de suporte social (família, amigos), principalmente se houver quem, consigo, tenha estado presente ou observado o dito evento;

– Fale do evento com alguém que seja genuinamente empático;

– Chore, grite… dê-se tempo… a atual quase “tirania da positividade” (passando quase uma ideia de que os afetos negativos são “maus”), quase que nos culpabiliza de nos estarmos a sentir mal… este é o seu tempo e o tempo de colocar fora o que magoa dentro…

– Faça exercício vigoroso (ex: corrida), como ferramenta de catarse

– Faça yoga, meditação – ajudará a re-sintonizar com a sua própria Vida

– Abrace quem ama… animais de estimação incluídos!

E, acima de tudo, COMPROMETA-SE COM ALGO VERDADEIRAMENTE SIGNIFICATIVO para a SUA VIDA… com “aquele 1%” de mudança que há tanto tempo anda a querer introduzir na sua vida… e FAÇA-O AGORA!

Ana Ramires

ana.bispo.ramires@anabisporamires.com

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