Todas as artes contribuem para a maior de todas as artes,
a arte de viver.”
Bertol Brecht
O que é o stress?
O stress é uma palavra inglesa que significa “pressão” ou “tensão”. Na Física, o stress explica a elasticidade, propriedade de um corpo que lhe permite recuperar o seu tamanho e forma originais, depois de comprimido ou esticado por uma força exterior (Lei de Hooke – 1658). A quantidade máxima de stress a que um corpo pode resistir, antes de ficar permanentemente deformado, é diferente de corpo para corpo. Em termos psicológicos fala-se em stress para indicar a reação resultante da perceção de incapacidade para lidar com as solicitações e exigências quer de natureza física (mal-estar, dor física, doença, ruído, calor), quer psicológica (prazos, interrupções, conflitos, falta de dinheiro, etc.).
Nem todo o stress é mau, existe o bom stress (eustress) e o mau stress (distress).
Bom stress vs Mau stress
O bom stress (eustress) é esta tensão, agitação q.b. que o faz organizar as suas férias, preparar-se e procurar formas que lhe proporcionem descanso, convívio, aprendizagem e diversão. O bom stress desenvolve-se e nutre-se num ambiente que é considerado seguro: pessoas amigáveis e divertidas, ambientes agradáveis, acolhedores, uma temperatura adequada, desafios que se conseguem alcançar.
O mau stress (distress) cresce perante qualquer intuição ou percepção de ameaça real ou imaginária, que assinala perigo e em que sente ou pressente não ter capacidade ou os meios para lidar com determinada situação (discussões, falta de entendimento, trânsito infindável, calor insuportável, entre outros).
Quais são as maneiras que temos para responder aos sinais de tensão que representam perigo e como podemos sentir segurança?
Stephen Porges desenvolveu a teoria polivagal para explicar a forma como o nosso sistema nervoso reage ao meio ambiente em função de pistas de perigo ou de segurança. Parece que existe uma hierarquia de resposta do seu sistema nervoso autónomo que se traduz em comportamentos que surgem e que podem ajudar a lidar e transformar o mau stress: imobilização, ação e relação social.
O modo de imobilização expressa-se quando perante as situações mais inesperadas, bloqueia, fica sem reação ou em estado de inação. Outras vezes parece que desliga, entra no modo automático e deixa de estar no aqui e agora: entra no modo de “estar na lua”. Estas são respostas instintivas e mais primitivas que se tem quando se sente que não está em segurança física e psicológica. Existem várias formas de lidar com este estado de stress dorsal (pois resulta da ação do sistema parassimpático responsável por todas as ações automáticas do seu organismo).
O agir é um dos modos de funcionamento privilegiados da sobrevivência: fazer, fazer, fazer. Podemos entrar neste estado quando agimos para fazer face ao desconforto de fatores de stress físico: barulho, trânsito, ter muitas coisas para fazer, não se ser considerado, ouvido, etc.. Para sair deste estado cada pessoa reage de forma diferente: ou entra no modo de organização e limpeza, caminha, grita, canta (cantar é um ótimo gestor do stress), escreve, desabafa com alguém. Este modo de ação é da responsabilidade do sistema nervoso simpático.
E, finalmente, o modo de relação social significa que se sente seguro quando está em sintonia com as outras pessoas quer esteja só ou acompanhado. Tudo o que o faz sentir neste estado podem ser atividades tão variadas como jogar, ter um passatempo, sentir o sol na cara, ouvir música, rir-se sem razão, estar atento ao aqui e agora, respirar prestando atenção ao inspirar e expirar, entre outros. Mas quando se encontra com pessoas com quem não se sente seguro, nem em sintonia, quando tem que pensar três vezes antes de dizer algo, então não está no modo de segurança social, mas, sim, de medo.
Nenhuma destas formas é má ou boa em si mesma, o que interessa para que se sinta bem é que diariamente possa experimentar a ação destes mecanismos do seu corpo que se traduzem em comportamentos e sentimentos de bem-estar ou sobrecarga (cansaço, aborrecimento, entre outros).
Porque é tão importante tirar uns dias de férias?
As férias são uma oportunidade para desligar da rotina e de tudo o que lhe está ligado. O que requer afastar-se para outros ambientes, realizar outras atividades, ter entretenimentos que sejam desafiadores, mentalmente absorventes e significativos para si.
No século XIX os médicos recomendavam curas de repouso, sobretudo para mulheres. Ficavam acamadas em quartos escuros com uma dieta sem sal. Outros recomendavam, sobretudo para os homens, ar fresco e exercício vigoroso[1] – um estudo realizado em 2015, apurou que “71 %dos trabalhadores que gozavam férias regulares relatavam estar satisfeitos com o seu trabalho, contra 17% dos trabalhadores que não gozavam”.
Como assegurar que as férias ficam livres de stress?
Para assegurar que as suas férias ficam livres do mau stress desligue da rotina habitual, ria-se, use e abuse dos passatempos, durma e faça sestas e chame os miúdos e graúdos. Todas estas estratégias foram identificadas no meu livro “STOP – 50 Estratégias para Mulheres sem Tempo”.
5 Dicas para conseguir ter umas férias sem stress:
1. Desligue da rotina habitual
As pessoas experimentam maior fluxo, propósito, sentido e satisfação quando os seus tempos livres e férias são ocupadas com tarefas desafiadoras, que permitam uma absorção sem esforço, ao invés de prazeres indolentes, sem propósito. Tudo depende da forma como o faz. Ouvir uma música com atenção, contemplar uma paisagem ou qualquer atividade, torna-se indolente quando não presta atenção plena, quando não usufrui do que faz, quando a tarefa é um fim em si mesma e não um meio. No final, trata-se do sentido que atribui ou não a cada coisa que realiza.
Para experimentar este “desligar do trabalho e/ou da rotina” tem de impedir que os seus tempos livres sejam interrompidos por assuntos laborais (telefone, correio eletrónico, estar permanentemente com pessoa ligadas ou em contextos ligados ao seu trabalho). Estas situações diminuem a recuperação proporcionada pelos tempos livres.[2]
Num estudo sobre pilotos comerciais, o psicólogo da Universidade de Macquarie Bem Searle descobriu que a capacidade de “desligar” dos pilotos aumentava – mas apenas quando ficavam em hotéis bastante afastados dos aeroportos.[3]
2. Ria-se
Rir é a melhor forma de queimar calorias.”
Audrey Hepburn
O riso é a expressão física de uma sensação ou emoção (alegria, tristeza, medo ou ira) alivia a tensão e 90% das vezes que se ri não existe uma razão em particular. Ou seja, não precisa ter motivo para rir. Sempre que se ri estimula, como na ginástica, diferentes partes do corpo.
Ao rir, de acordo com um estudo levado a cabo pela Universidade de Medicina de Maryland, em Baltimore, provoca uma expansão dos vasos sanguíneos, e assim, aumenta a circulação. Rir melhora a oxigenação do cérebro, ajuda na clareza das ideias, dá energia para as funções intelectuais gerais e concentração. Ao pronunciar os sons associados ao riso, precedidas ou sucedidas por alguns minutos de respiração e expiração profunda consegue aliviar a tensão. Os fatores de stress estão lá, mas inesperadamente sente ou começa a ver a situação de modo diferente.
O riso de que aqui falamos não se prende com sentido de humor, anedotas ou outros risos que têm um motivo, para estes, muitas vezes estão presentes aspectos de ironia, sarcasmo que são formas subtis de agressividade (quando atacam a outra pessoa ou um grupo) e que acabam por ser de alguma forma destrutivos[4]. Ria-se e melhore o seu rendimento intelectual, criativo e o seu bem-estar.
3. Tenha passatempos para exercitar a paz de espírito e manter a plasticidade física e mental que necessita no seu dia a dia.
Um passatempo não é um feriado.
Não é apenas um relaxamento momentâneo.
Um passatempo não é meio dia, mas meia vida.
Um passatempo é uma forma de exercitar a paz de espírito.”
G. K. Chesterton
Uma boa forma de descansar e de reduzir o stress a longo prazo é envolver-se num desporto ou hobby divertido e calmo. Se passa o dia todo a competir, beneficia de uma atividade oposta nos seus tempos livres (e vice-versa). Atividades físicas lentas, como, por exemplo, vela ou caminhadas, são aconselhadas a quem passa o seu tempo laboral pressionado pela competição e falta de recursos (tempo necessário, equipamentos adequados, pessoas suficientes) para realizar o que é importante. Ler romances, ver televisão ou conviver pode também ser muito positivo.
Mais importante que tudo, não se esqueça de divertir-se, de manter uma dimensão lúdica na sua vida e que integre qualquer passatempo que faça.
4. Durma e faça sestas
O que nos tranquiliza no sono é a certeza de que dele retornamos.
E ele nos cura temporariamente da fadiga pelo mais radical dos processos,
isto é, arranjando para que cessemos de existir durante algumas horas.”
Marguerite Yourcenar
É de grande importância cuidar deste mecanismo básico de regulação vital que é dormir. O Morfeu é um deus grego que assinala a importância de dormir profundamente para regenerar o seu corpo e a sua mente. Se não dormir, a sua capacidade de concentração e eficácia sofrem.
Sabia que tem um relógio biológico que regula os seus padrões de sono, estado de alerta, regeneração celular e a produção de melatonina (que produz sonolência e baixa a temperatura do corpo)? Quando este relógio funciona corretamente, a libertação da melatonina ocorre em oposição à luz do sol e o sono é mais reparador. Se se habituou a estar sempre cansado, ficará espantado como ficará alerta e cheia de energia quando começar a dormir normalmente. Em média, precisa de cerca de oito horas de sono por noite (embora isto possa variar entre três a onze horas, dependendo da pessoa e da idade).
5. Chame os miúdos e graúdos
Para ser insubstituível, precisa de ser diferente.”
Coco Chanel
Apoie-se e delegue na sua tribo de aliados. Está de férias, não cometa o erro de fazer nada que pode ser feito por outros. A sua tribo de aliados é constituída por todas as pessoas com quem pode dividir o trabalho e delegar. Contratar (uma empregada doméstica), subcontratar (limpeza e passagem da roupa, refeições pré-cozinhadas ou já preparadas), preparar em conjunto (marido, filhos, pais, etc.). Cabe-lhe a si liderar essa tribo: criar entendimento do que é importante e dividir responsabilidades e tarefas. Onde há direitos, há deveres. Porque tem que ficar tudo centrado em si? Isto não significa que deixe de ter atenção, cortesia e ajude, mas liberta-se e fica mais disponível para estar presente e desfrutar. Afinal… está de férias e… stress nas férias…nem pensar!
Se não eu, quem então?
Se não agora, quando então?
E se só para mim, quem sou eu?
Se não sou eu que o faço,
quem o fará por mim?
Se não o fizer agora,
quando poderei fazê-lo?”
Rabino Hillel
[1] Pang, A. S.-K. (2017). Descansar – A razão pela qual conseguimos fazer mais quando trabalhamos menos. Lisboa: Circulo Leitores.
[2] Csikszentmihalyi, M. (1990). Flow: The Psychology of Optimal Experience. New York: Harper & Row.
[3] Pang, A. S.-K. (2017). Descansar – A razão pela qual conseguimos fazer mais quando trabalhamos menos. Lisboa: Circulo Leitores.
[4] Goodheart, A. (1994 ). Laughter Therapy.Stress Press.