Gosto dos domingos de sol lá na terra. Gosto mesmo quando se diz que é inverno mas o sol numa teimosia com as nuvens decidiu aparecer e abraçar o largo.
Fica a brilhar lá em cima a rir e a ouvir conversas porque o largo se iluminou e avivou memórias antigas. Se calhar as mesmas histórias guardadas pelos homens que frequentam os dois largos das vilas que cresceram em sítios diferentes.
Conheço a “Praça dos Homens” onde em tempos se contratava a força de braços para os trabalhos sazonais que à noite punham o pão em cada mesa. Saíam pela manhã com a sacola de pano a embrulhar o pão meio seco que a navalha afiada havia de saber cortar em nacos… Talvez umas azeitonas bem talhadas ajudassem a quebrar aquele sabor, sempre o mesmo, misturado com o cheiro do torrão de terra a servir de encosto ao corpo cansado.
Regressavam e o banco lá estava, ali com a taberna pronta a aliviar as gargantas queimadas pelo pó da terra.
Mas eu tenho outra terra e nessa o empregador era sempre o mesmo que as terras que a vista alcança ali são cunhadas com o mesmo sinal de pertença. Pela manhã abria-se o portão largo, comia-se “a piqueta” se a havia e dava-se alento ao corpo já moído com o copinho de vinho que “generosamente” era distribuído por aqueles homens mais hábeis que possantes a envelhecer por ali até que os ventos vindos das “franças” os foi levando…um a um.
A terra passou a ser das mulheres e dos catraios a inventar sonhos com um aro guiado a preceito por um galho mais aprumado.
Hoje os dias fizeram-se diferentes mas continuam a ser os homens a ocupar o mesmo largo, contentes no seu fato domingueiro.
As terras, as duas terras ficam longe, nem se conhecem, mas os bancos onde agora descansam o corpo e desfiam memórias continuam a ser iluminados pelo mesmo sol e pelo café mesmo ali em frente de onde sai o cheiro da bica escaldada ou a mini que os domingos são para ser vividos com outra dignidade…