Este tema é muito pensado nas nossas cabeças, mas pouco nas consultas. Em geral os casais sentem vergonha de partilhar as suas dúvidas com o profissional de saúde e muitas vezes até preferem que não falemos disto (é sempre aquele elefante no canto da sala que todos vêem, mas ignoram que está lá). E muitas vezes o profissional não está preparado para falar deste assunto ou coloca-o de parte como não sendo importante para o casal grávido.
A sexualidade durante a gestação é um tema que também abordo no meu novo livro “Estamos grávidos … e agora?”.
O que muda na sexualidade durante a gravidez?
Existe uma alteração do desejo sexual da mulher durante a gravidez. Em geral, as mulheres tendem a estar mais predispostas ao sexo nesta fase, pois sentem-se bem consigo mesmas e confiantes. Mas, não é logo no primeiro trimestre. Só no segundo trimestre é que começa a festa! Porém, cada caso é um caso e a maneira como vivemos a gravidez e a relação com o parceiro influencia a sexualidade da mulher.
Para muitos a sexualidade envolve a penetração, mas não é tão simples quanto isso. É um fenómeno complexo, que envolve desde olhares ao toque. Portanto, na gravidez se em alguns casos a penetração for contra-indicada (já veremos em que situações), existem muitas opções para ajustar a cada caso.
As hormonas femininas estão ao rubro na fase da gravidez e um simples gesto carinhoso pode promover o contacto físico e assim ajudar na conexão sexual. Logo, a dica que eu deixo é que as mulheres comuniquem o que querem e as suas dificuldades aos homens. E vice-versa! Os homens também terão questões importantes para falar com a mulher e exprimir as suas dificuldades ou preocupações.
Por outro lado, a imagem corporal da mulher vai mudar e isso, muitas vezes, é um problema… Aqui necessitamos de um reforço positivo mais frequente do maridão para vos demonstrar o quão bonitas e harmoniosas estão (mesmo que pensem que são uma melancia! Não são! Não deixem que o vosso ego vos diga coisas destrutivas e irreais, prejudicando assim a ligação com o vosso parceiro). Meus senhores esta sensibilidade é agora, então, requerida da vossa parte (sem limites de dosagem, podem e devem abusar da prescrição).
Medos e receios
Muitos casais apresentam mitos e até mesmo receios face à sexualidade na gravidez. Para os homens principalmente tudo isto é assustador e sentem que participam pouco no processo da gravidez, o que leva a insegurança e isso afecta o comportamento sexual.
Os medos mais comuns são:
- “Será o bebé sente dor?”
- “Com a barriga maior certas posições são mais difíceis”
- “A penetração pode provocar contracções?”
Eis a resposta:
- O bebé não sente nada fisicamente, mas sente o bem-estar da mãe que, por sua vez, vai proporcionar bem-estar ao bebé. E a mãe também não vai sentir dor e caso o sinta, pois a mulher está mais sensível, deve ser comunicado para ajustarem estratégias;
- De facto com a barriga mais saliente, é natural que algumas posições não sejam tão favoráveis. Mas, aproveitem e inovem! Comuniquem e abertamente falem do que preferem e gostam mais. Pode ser uma excelente altura para um autoconhecimento nesse sentido e dinamizar um pouco mais os vossos lençóis;
- Durante o acto sexual (não só com a penetração) a mulher liberta a hormona ocitocina (chamada de hormona do prazer). Esta hormona é responsável pelo trabalho de parto, provocando as contracções e pela saída do leite materno (mais à frente). Logo, se têm 40 semanas de gestação (ou mais) podem e devem abusar do acto sexual para começar a estimular de forma natural (e amorosa!) o trabalho de parto.
Sabia que: O esperma do homem ajuda a amolecer o colo do útero, o que é fantástico para quem está no limite da gestação e está ansioso por conhecer o bebé. Esta intervenção natural pode ajudar bastante principalmente nos primeiros filhos, onde o colo do útero em geral é mais rijo.
Existem contra-indicações?
Toda esta parte é fantástica, mas por vezes não pode ser colocada em prática porque existem complicações da gravidez. Quando elas existem muitas vezes recomenda-se abstinência sexual num período delimitado de tempo (em geral a penetração).
Recomenda-se abstinência sexual nas seguintes situações:
- Placenta prévia;
- Ameaça de parto pré-termo (contrações, colo curto, cerclage…).
Dicas:
- Comunicar é fundamental, dizer o que querem e o que não gostam para encontrarem um meio termo agradável aos dois;
- Tranquilize o seu parceiro e peçam para abordar algumas dúvidas até com o vosso profissional de saúde de referência;
- Não levem a mal se algum dos parceiros não tiver vontade de ter relações sexuais, devem respeitar e tentar perceber a causa de forma construtiva. Muitas vezes é necessário acompanhamento do casal a nível psicológico, pois muitas situações vividas na gravidez já vêm de anteriormente e agora têm um peso acrescido. Não tenham medo ou vergonha de pedir ajuda! Até porque a sexualidade é muito importante num casal;
- Não permitir comportamentos abusivos por parte do parceiro, independentemente da relação sexual. É fundamental que o(a) companheiro(a) nos respeite e perceba as nossas opções, estando disposto a negociar e não a impor a sua vontade. Nunca se devem sentir forçados a nada, muito menos a ter relações sexuais sem o vosso consentimento. Muitas relações tornam-se abusivas neste sentido, sendo um grande red alarm!
Acima de tudo namorem! E, como diz o Marvin Gaye: “Let´s get it on!”.