As férias de Verão representam a oportunidade de parar e recarregar baterias. A maior parte das famílias anseia pela possibilidade de passar tempo de qualidade juntas, estreitar laços e colecionar memórias felizes que ajudem a enfrentar os meses de trabalho seguintes. Mas, para alguns casais, as férias são sinónimo de tensão, frustração e afastamento.
Há muito tempo que sei que as férias trazem um pico de trabalho. Como trabalho muito com casais ou com adultos que me pedem ajuda a propósito dos problemas na relação amorosa, estou habituada a que assim seja. Também é assim com os advogados que trabalham na área do divórcio: há um aumento do número de separações nos períodos imediatamente a seguir às férias – quer no Verão, quer no Natal.
As férias fazem mal aos casais?
As férias, tal como o período de confinamento que vivemos recentemente, obrigam-nos a parar e a desviar a atenção daquilo que nos ocupa a mente no resto do ano – o trabalho, a escola, as atividades extracurriculares dos filhos, a ginástica que é preciso fazer para gerir a agenda. De repente, temos mais tempo para olhar para a nossa realidade familiar, para prestar atenção às nossas necessidades e para fazer balanços. Por outro lado, é comum passarmos algum tempo em que partilhamos o mesmo espaço com a nossa família 24 horas por dia, abdicando de atividades que habitualmente contribuem para que descomprimamos. Em suma, as férias obrigam-nos a ver aquilo que anda “escondido” o resto do ano, com a agravante de não haver tantas distrações e escapes.
Quando paramos com a expectativa de passarmos alguns dias de namoro e descontração e nos deparamos com a indisponibilidade afetiva da pessoa que está ao nosso lado ou, pior, com aquilo que percecionamos como sinais de alarme, como o facto de ele(a) passar demasiado tempo ao telemóvel, inexistência de gestos de afeto ou desejo sexual, as férias podem transformar-se num período de tensão e desgaste.
Nalguns casos, é nesta altura que as relações extraconjugais são reveladas – precisamente porque há mais tempo para reparar naquilo que antes estava camuflado pela rotina exigente do dia-a-dia. Mas não é só nestes casos que as férias podem ser sinónimo de tensão.
Durante o período de confinamento, e a propósito das queixas de algumas famílias sobre as dificuldades que sentiam em conciliar as responsabilidades profissionais com a nova dinâmica familiar, ouvi e li algumas críticas do género: «Como é que é possível que alguém esteja farto de estar em casa com o marido/a mulher e os filhos? Foi a família que escolheram!». A verdade é que é quase sempre mais fácil apontar o dedo em vez de trazer a genuína curiosidade e vontade de perceber uma realidade diferente da nossa.
As famílias não são todas iguais, os recursos e as exigências também não. Quando um casal vai de férias com filhos pequenos, é mesmo muito importante que doseie as expectativas. Não é por acaso que há quem assuma, com graça, que precisa de férias depois das férias. As crianças também anseiam por passar tempo com os pais e podem boicotar, involuntariamente, muitos períodos de namoro – seja porque nos derrubam com o cansaço, seja porque reivindicam a nossa atenção exclusiva.
Se a isso juntarmos as dificuldades de comunicação que se vão avolumando no dia-a-dia, o facto de os membros do casal não terem tempo ou espaço para respirar fundo e descontrair durante algum tempo (porque estão no mesmo espaço 24 horas por dia), as discussões podem ser uma constante.
Como melhorar a comunicação conjugal nas férias?
Quando me refiro à importância da comunicação, não me refiro apenas à possibilidade de verbalizarmos de forma clara aquilo que gostaríamos que acontecesse nas férias. Há casais que planeiam ao milímetro aquilo que querem fazer e que terminam este período com a sensação de desconexão.
Então, o que é que cada um de nós pode fazer para promover uma boa comunicação durante as férias?
5 dicas para melhorar a comunicação conjugal nas férias:
- Dosear as expectativas. Numa viagem a dois, o mais importante não é conseguir fazer tudo aquilo idealiza. Se tem muita vontade de conhecer um determinado destino e há mil coisas que não quer mesmo deixar de fazer, é melhor considerar a hipótese de viajar sozinho(a). Lembre-se de que o(a) seu(sua) companheiro(a) não é uma personagem de um guião criado por si (e os seus filhos também não);
- Ser flexível. Conciliar vontades nem sempre é fácil. No dia-a-dia, alguns casais não chegam a colocar em prática qualquer competência de negociação, acabando por cada um fazer aquilo que quer com outras pessoas. Ceder é uma virtude, sobretudo quando falamos de relações amorosas. A ciência mostra-nos que o altruísmo anda de mãos dadas com a felicidade na relação. Por exemplo, quando escolhemos “perder” alguns dias de férias para que a pessoa que amamos possa estar com familiares de quem gosta, estamos a fazer o que está ao nosso alcance para que ele(a) seja feliz;
- Prestar atenção aos sentimentos. Nas férias ou fora delas, é muito mais fácil criticar, apontar o dedo, em vez de olhar para dentro, para os próprios sentimentos. Se procurarmos manifestar o nosso desagrado seguindo a fórmula «Quando aconteceu A, eu senti-me B, precisava de C», é mais provável que a pessoa de quem gostamos consiga prestar atenção e responder com compreensão. Se, em vez disso, o(a) atacarmos com generalizações do tipo «É sempre a mesma coisa…» ou «Tu nunca…», o mais provável é que demos por nós em braços-de-ferro dolorosos e intermináveis;
- Oferecer bolsas de tempo. Pessoas diferentes têm necessidades diferentes ou, pelo menos, em doses diferentes. Já reparou como algumas pessoas praticamente não bebem água enquanto outras devoram dois ou três litros com facilidade? Também é assim com as necessidades afetivas. Algumas pessoas gostam de passar tempo em família, mas não dispensam alguns períodos em que possam estar sós. Conversar abertamente sobre aquilo de que cada um precisa é meio caminho para que um possa oferecer ao outro algum tempo sozinho sem que isso implique sentimentos de rejeição ou abandono;
- Tentar fazer as pazes rapidamente. Há uma ferramenta que nos ajuda a sentirmo-nos mais felizes e conectados: as tentativas de reparação. Todos os casais saudáveis discutem, normalmente por questões “pequeninas”. Quanto mais remoemos à volta de um assunto, maior é a probabilidade de nos inundarmos de irritabilidade e de o mal-estar se prolongar. Quando tomamos a iniciativa de pedir desculpa e/ou quando aceitamos a tentativa de reaproximação da pessoa que amamos, colocando de lado o nosso orgulho, estamos a dizer «Eu valorizo a minha relação mais do que valorizo a possibilidade de mostrar que tenho razão». Não vamos conseguir resolver todos os pequenos assuntos geradores de tensão conjugal, mas vamos conseguir olhar para eles com maior leveza e mais criatividade se soubermos fazer as pazes rapidamente.
As férias são uma oportunidade para fazermos uma pausa nas nossas obrigações profissionais e dedicarmos mais tempo às pessoas mais importantes da nossa vida. Se partirmos para este período com as nossas intenções bem definidas, é mais provável que nos questionemos, em tempo real, «O que é que eu posso fazer para viver este período da forma que quero?». Mais do que colocar a responsabilidade pela nossa felicidade nas mãos da pessoa que amamos, é essencial que assumamos o nosso poder e que consigamos trazer para estes dias o melhor de nós. No final, é mais provável que regressemos com o mealheiro de afetos recheado, com uma mão cheia de fotografias maravilhosamente imperfeitas e com o coração cheio.