Será o prazer construído ou inato?

Vera Ribeiro // Fevereiro 23, 2020
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Seremos capazes desde a nascença, de poder desfrutar de algo ou de um momento e ter prazer sem que tal nos seja ensinado? 

Podemos dizer que é meia verdade. Nascemos com a capacidade de responder a estímulos e sentirmos gratificação, mas no curso da nossa vida vão-nos ensinando a gostar e ter prazer numas coisas em detrimento de outras. É assim que vamos construindo os nossos centros de prazer. 

O nosso cérebro é um aliado nesta viagem. É ele que regista cada momento que vivemos e vai guardando numas gavetas aquilo que é bom para nós e o que não nos faz bem em outras. O circuito de prazer dos humanos não é uma tarefa simples, mas é possível aprender a identificar todos os atalhos para que possamos seguir o caminho da felicidade e consecutivamente do prazer.

Já dizia o professor de neurociências David Linden, há coisas que somos “programados para gostar” como, por exemplo, comer, beber água e ter relações sexuais, não é assim tão natural!.

“Porque estou triste se era suposto estar feliz?”

A nossa cultura, experiência individual de vida, vai ditar aquilo que gostamos ou não, mas há momentos na nossa vida que somos confrontadas com a ausência de prazer em simples coisas ou acontecimentos, o que nos deixa com a sensação de vazio imenso e sensação de impotência. Já lhe aconteceu? Estar num momento em que seria suposto explodir de alegria e não ser capaz de corresponder a essa emoção?

Vivemos numa era em que a procura do prazer está acima de todas as coisas. É quase que obrigatório estar presente, mas a capacidade de sentir é que, infelizmente, não é constante.

A nossa sociedade elevou a fasquia e quer nos mostrar a toda hora que devemos estar felizes e contentes, agradecidos, e lutarmos apenas e só por aquilo que nos faz felizes. Ok,  concordo. Mas, querer ser, não é o mesmo de o ser na realidade… Muitas vezes aquilo que nos impede de atingir esses padrões de felicidade e prazer na nossa vida, tem que ver com a forma como a projetamos nos nossos dias. “Vou fazer isto ou aquilo que me vai fazer feliz e realizada”, mas depois chega o momento e dizemos para nós mesmas: “Estou a fazer aquilo que gosto neste momento, mas não sinto prazer nisso”.  

O que é que se passa?

A nossa sociedade ensina-nos a consumir tudo aquilo que nós achamos que nos vai fazer felizes, o que não nos acontece é a sensação de saciedade no final.

Programar situações faz com que muitas vezes esteja a antecipar a fonte de prazer, e é por essa mesma razão que pode acontecer que, no momento de concretização, não sinta o prazer esperado. É mais provável que seja feliz quando é surpreendida do que com as ações que promove para se sentir feliz e com prazer. Por exemplo: na sexualidade/intimidade conjugal, quanto mais programação e rotina sobre o tema, menor será o prazer. O prazer não está onde achamos garantidamente que está, mas, sim, onde descobrimos por improviso, sem instrução.

O prazer está em crise e em decrescente na nossa sociedade. 

Estamos a viver como robots. A obedecer a ordens que vêm nos livros, faça assim e assado para ser feliz ou para ter mais prazer. Só fazemos aquilo que nos programam para fazer. Ou seja, tudo menos sentir! Estamos a tornar-nos máquinas com dificuldade em sentir as suas próprias emoções.

Refletimos sobre a dor e a perda, mas não refletimos sobre o prazer. Estamos numa era que nos diz: “Se gostas faz”, “Se queres compra”, “Se já não estás apaixonada deixa-o”… Vivemos nesta corrida que não nos deixa parar para sentir! Pensar pelas próprias cabeças e tomar a decisão de procurar objetivamente ser e sentir-se feliz.

Como podemos contrariar esta corrente que nos está a levar para um caminho de apatia e vazio emocional?

Refletindo. Pare e pense em si. Pense nos momentos em que se sentiu verdadeiramente feliz. Não naqueles que a sociedade quer que você diga, mas, sim, naqueles que foi mesmo feliz, independentemente de ser esperado ou não.

O que significa para si sentir-se feliz?

A felicidade não tem lugar ou modo. O prazer pode estar em pequenos gestos, coisas, pessoas. Explore. Reflita e sinta porque é isso que nos distingue enquanto raça humana. 

Não há segredos sobre esta descoberta. Seja mais natural. Ponha de parte os manuais de auto-ajuda e arrisque-se a viver a sua vida como ela é e a aproveitar os momentos de prazer que se vão cruzando no seu caminho.

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