Ser mãe depois dos 40

Irina Ramilo // Janeiro 25, 2024
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Cada vez existem mais mulheres forçadas a adiar o momento da primeira gravidez, pelo investimento crescente em formação profissional, pela elevada competitividade do mercado de trabalho, mas também porque as relações significativas são difíceis de estabelecer numa era de grandes incertezas. Por outro lado, mulheres já mães, ao aproximarem-se dos 40, ponderam terminar a sua vida reprodutiva. Têm então de tomar a decisão de ter o seu “último bebé”. Mas, quais os riscos associados a uma gravidez tardia? Quais os exames a fazer? O que difere uma gravidez após os 40 de outras gestações?

Os 40 anos já foram considerados uma idade biologicamente demasiado avançada para decidir ter um filho. Hoje, essa ideia dissipou-se!

No entanto, apesar dos avanços da ciência, a idade da mulher continua a ser determinante para o sucesso da gravidez e dos tratamentos disponíveis!!

A mulher nasce com um determinado património de ovócitos, que vai gastando ao longo da vida. É como se fosse um mealheiro do qual só se tiram moedas e nunca se repõem… não há espaço para aforros! Aliás nem vale a pena ver quantas moedas existem aos 40 anos… já sabemos que vão ser poucas! Mas pode ser o suficiente para sair jackpot!

Se, em qualquer idade materna, é fundamental uma alimentação equilibrada, a prática de exercício físico e evitar hábitos tabágicos e alcoólicos, tudo isto ainda se torna mais pertinente neste grupo etário.

É importante preparar uma gravidez aos 40 anos…planear a gravidez, otimizar a sua saúde e ter uma adequada avaliação pré-concepcional. 

Estudos recentes revelam que neste grupo etário as complicações da gravidez são as mesmas que as observadas nas mulheres mais jovens. No entanto, há maiores riscos:

1. Aborto espontâneo – resultante do declínio da qualidade ovocitária e das alterações uterinas e hormonais;

2. Gravidez ectópica – risco 4 a 8 vezes maior nas mulheres > 35 anos, quando comparado com as mulheres com <33 anos; 

3. Anomalias cromossómicas, genéticas e congénitas – secundárias à menor qualidade dos ovócitos;

4. Gestação gemelar – espontânea ou secundária a técnicas de procriação medicamente assistida;

5. Problemas endócrinos – diabetes e hipotiroidismo gestacional (que têm uma enorme influência no crescimento dos bebés in-utero, gerando bebés demasiado grandes ou demasiado pequenos);

6. Pré-eclâmpsia – contribuindo para o risco de recém-nascidos leves para a idade gestacional;

7. Placenta prévia;

8. Parto por cesariana – discutem-se como causas a diminuição da contratilidade do miométrio, a arteriosclerose das artérias uterinas e a função inadequada do receptor de oxitocina. No entanto, o maior risco de pré-eclâmpsia e placenta prévia também contribui para o desfecho em cesariana.

Para além disso, depois dos 40 anos, a prevalência de doenças crónicas é maior, podendo de algum modo interferir na gestação.

A hipertensão arterial, a diabetes ou o excesso de peso típicos do envelhecimento, aumentam o risco de complicações, morbilidade e mortalidade materno-fetal. 

Apesar de todos os riscos, é importante esclarecer que o acompanhamento médico adequado e diferenciado, com monitorizações mais frequentes e intervenção atempada é decisivo.

Felizmente, a evolução da medicina contribui para que a gravidez tardia ou em idade avançada seja cada vez mais bem-sucedida.

Para o risco aumentado de anomalias cromossómicas existem hoje em dia além de testes invasivos como a amniocentese e a biópsia das vilosidades coriónicas, testes não invasivos que incluem o estudo do DNA fetal no sangue materno com elevada sensibilidade e uma baixa taxa de falsos positivos. Apostar numa ecografia morfológica detalhada é muito importante para o despiste de anomalias congénitas.

O acompanhamento multidisciplinar adquire a sua importância maior na vigilância da gravidez associada a patologia que agrava o curso da gravidez e, não raras vezes, a própria doença é agravada pela gravidez obrigando a vigilância frequente, não só pelo obstetra, mas pelo especialista envolvido no seguimento da patologia em questão, seja endocrinologista, internista, hematologista, nefrologista ou cardiologista.

Em 2015, a maternidade tardia representava já quase 30% do total, colocando o nosso país na 5.ª posição da União Europeia.

Apesar disso, a maioria das mulheres que decidem engravidar numa idade mais tardia têm um desfecho favorável da sua gravidez!

De qualquer modo, é um percurso mais incerto e difícil…mas é demasiado bom acreditar nos nossos sonhos!

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