Sentir raiva. Sentir revolta. Sentir descontrolo…

Rute Caldeira // Novembro 4, 2018
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Hoje a minha inspiração vai tomar um rumo diferente do que normalmente abordo. Falo bastante na paz interior, na capacidade que a meditação nos dá de gerir emoções, na leveza ao qual o simples acto de respirar nos pode trazer… Mas, hoje quero falar de descontrolo, de dor, de angústia, de sentimentos que causam raiva e revolta, porque sinto que estamos todos a precisar disto.

Desmistificar esta parte que é humana, que vive em nós e que faz parte da nossa condição.

Há alturas em que tu, o teu corpo, a tua mente, a tua alma, vão precisar que tu grites, vão precisar que tu explodas, que tu te descontroles, que tu mandes cá para fora o veneno que tens acumulado durante dias, semanas, meses ou quem sabe anos. É preciso falar sobre isto. É preciso que possamos aceitar que durante a nossa vida nós vamos sentir raiva, por vezes ódio, por vezes um medo desmedido, por vezes um descontrolo que parece sufocar. Isto vai acontecer. Isto também és tu e é preciso que tu te aceites com tudo o que és.

Isto também acontece a quem medita?

Acontece claro! E, deve ser falado sem tabus. Deve ser aceite sem julgamento, como aceitamos que viva em nós o amor, a compaixão, o carinho… Já basta que a nossa alma se limite pela crítica que vem do exterior, quanto mais termos de lidar, ainda, com uma crítica severa de nós para nós, porque nos parece completamente absurdo que percamos o controlo, parece-nos absurdo que chegue um dia em que o corpo pede para deixar sair as brutas emoções que se acumularam tanto, mas tanto tempo que chega a um ponto em que precisaram sair sem filtros, numa explosão ardente e desesperante… Então deixa sair! Liberta! Aceita! Sente! Grita! Rebola! Chora! Esperneia! Dá murros em almofadas! Sente! Sente! Sente até que não fique nada, até que o cansaço ganhe, até que um poderoso e libertador vazio se apodere de ti.

Não suprimas nada que venha de dentro dessa alma que habita o teu corpo.

Tu és humano, permite-te abraçar esse lado humano a 100%, não cales a dor, não suprimas a raiva, não suprimas a angústia, não suprimas a desilusão, não suprimas nada que venha de dentro dessa alma que habita o teu corpo… Suprimir, negar, rejeitar, deixa-nos doentes e a doença traz a mesma carga destas emoções, por vezes de forma ainda mais aguda. Por isso aceita sentir já… E, de tanto sentires, de tanto te permitires, de tanto aceitares o teu todo, as emoções vão ter espaço para “falar”, vão ter espaço para cumprir o seu papel e vão, por isso, ter espaço também para desaparecer de dentro de ti, pois existiu a cura, a alquimia e a coragem de quem aceitou que ser humano é viver períodos de dor, por vezes, em absoluto descontrolo.

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