Há pessoas que são feitas de uma massa diferente. Pessoas que parecem ter tido o privilégio de nascer com um coração talhado diretamente pelas mãos de Deus. Os seus valores são aqueles que deveriam orientar todos os seres humanos. E, se assim fosse, podem ter a certeza de que não havia fome, guerra, ou desigualdade no planeta. Falo de valores como a verdade, a justiça, a solidariedade, a partilha, a amizade, a compaixão e o amor.
Estas pessoas maiores pensam profundamente as suas decisões e os seus atos, lembrando-se sempre que estes têm implicações na vida dos outros. A palavra amor de que tanto se fala, muitas vezes gratuitamente, é o grande motor da sua vida.
O Senhor Comendador Rui Nabeiro, ou apenas Senhor Rui como era carinhosamente chamado pelas suas gentes, era um homem assim. Com uma qualidade humana ímpar, um coração nobre e generoso e uma paixão enorme pelo trabalho. Sempre disse que queria trabalhar até ao fim e conseguiu.
Construiu o seu império sempre a trabalhar muito e a fazer uma enorme ginástica para equilibrar com a sua vida familiar. A família jamais poderia ficar para trás, mas aqueles que trabalhavam para ele, ou melhor com ele, porque era assim que os via, também não. Sabia que quanto melhor tratasse das pessoas, quanto mais as estimasse, reconhecesse e valorizasse, mais elas seriam felizes. E a felicidade das pessoas era para ele um objetivo.
A verdade é que pessoas felizes são mais produtivas e têm um nível de envolvimento com as suas empresas muito maior. O Senhor Comendador sabia o nome de todos os seus funcionários, assim como as suas histórias. São inúmeros os relatos de vidas que se “concertaram”, reestruturaram ou reergueram, pela intervenção deste homem, incapaz de ser indiferente ao sofrimento.
As pessoas amavam-no e vão amá-lo sempre. Não apenas em Campo Maior, mas no país todo e no mundo.
Conhecê-lo era um privilégio. Tive a felicidade de nos termos tornado amigos, depois de uma entrevista para o programa “Conta-me como és”, na TVI. Criámos aí uma empatia que fazia com que me abraçasse como uma neta e eu o visse como um verdadeiro avô.
Era bom falar com o amigo Rui Nabeiro. Sabia ouvir e dar bons conselhos. Tinha a capacidade de nos apaziguar o coração e renovar a esperança.
Os meus últimos dois livros foram sempre apresentados em Campo Maior e no Centro Cultural. Acredito que por pedido dele, porque achava que eu merecia. Esteve sempre presente ao meu lado no palco e nalguns momentos dando-me a mão. Quando saí da TV estivemos juntos passado algum tempo. Pegou-me nas mãos, olhou-me fixamente e disse-me: “Vai correr tudo bem. A Fátima é muito trabalhadora, honesta, boa profissional e preocupa-se com as pessoas. Por isso vai dar tudo certo”. São palavras que jamais esquecerei e que me deram a certeza de que tudo iria correr realmente bem.
Não é fácil aceitar que as nossas pessoas partem da dimensão física. Do coração jamais partirão.
Mas quando penso no amigo Rui Nabeiro, e lembro-me dele muitas vezes, só desejo honrar a sua memória e procurar todos os dias ser um bocadinho melhor pessoa.
Que este ser humano de excelência leve os empresários a perceberem que quanto mais apostarem na humanização das suas empresas, na dignificação do trabalho, na valorização e reconhecimento daquilo que cada um contribui para um projeto, mais pessoas felizes terão nas suas equipas e consequentemente, mais sucesso e riqueza serão capazes de criar.