Relação entre irmãos: espaço de competição ou de cooperação?

Inês Afonso Marques // Maio 31, 2023
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Quando a família cresce, e ao filho único se junta um, ou mais, irmãos, um novelo de novas dinâmicas familiares surgem. A verdade é que, à medida que as crianças crescem, e mesmo quando o Amor é imenso e partilhado por todos, as crianças “competem”, mesmo que de forma inconsciente, pela atenção e pelo afecto dos pais.

Quando uma criança cresce com irmãos (ou um irmão) há necessariamente partilha: de espaços, de pertences, de relações e afetos. Em si, não há nada de errado nisto. A questão é que muitas vezes os mais novos encaram a partilha como divisão, acompanhada de prejuízo, quando na verdade a partilha pode ser vista como uma oportunidade ampliada de experiências e aprendizagens. Cabe aos adultos conseguir que as crianças perspetivem a relação de irmãos como espaço de oportunidades e não de riscos permanentes. 

A relação entre irmãos traduz uma partilha que soma aprendizagens em todas as dimensões – social, emocional, cognitiva e motora – mas que não anula a individualidade de cada uma das crianças.

Uma criança que tem um irmão mais velho e que passa muito tempo em brincadeiras imaginativas com ele, acabará por estar a ser estimulado do ponto de vista cognitivo.

Quando dois irmãos rivalizam por um brinquedo, um lugar no sofá ou um programa de televisão estão simultaneamente a aprender a lidar com emoções desagradáveis, como a frustração por algo não acontecer como deseja – competências emocionais – e a comunicar necessidades e a negociar para chegar a um acordo – competências emocionais.

Quando uma criança pequena procura acompanhar o irmão mais velho nas suas aventuras no trampolim que têm no jardim há espaço para se desafiarem as competências motoras de ambos.

Naturalmente, os momentos de desafio e conflito surgirão, como pode acontecer em qualquer outra relação. 

Em situações de conflito, são habitualmente os irmãos mais velhos que tendem a sentir-se mais “prejudicados” porque a sua idade, associada a maturidade e a responsabilidade, lhes é apontada como a solução para todos os desentendimentos entre irmãos. 

De um modo geral, a atitude mais construtiva por parte do adulto é adotar uma postura neutra e curiosa, fazendo perguntas abertas que ajudem as crianças a descobrir caminhos rumo ao entendimento. 

O que se passou? O que vos levou a este conflito? Como se sentem e acham que o outro se está a sentir? Como pensam poder chegar a uma resolução? Como podem ficar todos satisfeitos?

O adulto deve procurar não tomar partidos, mesmo que lhe seja evidente que a razão está mais do lado de um do que de outro filho. Deve fazer perguntas que ajudem as crianças a refletir no sentido do entendimento.

Em todo o caso, a intervenção mais diretiva dos adultos é fulcral sempre que existe violência física intensa, com risco significativo associado. 

Aí é essencial que o adulto aja no sentido de interromper o comportamento desadequado, recordando que é um modelo comportamental e, por isso, nunca usando a violência como forma de interromper comportamentos de violência. O adulto deve clarificar, de forma firme, que não é admissível, sob circunstância alguma, bater, morder, dar pontapés ou reagir de qualquer outra forma com a intenção de magoar o outro. É importante que o adulto se mantenha imparcial e desafie as crianças a gerar uma solução para as suas divergências.  

Como minimizar a possibilidade da rivalidade ter oportunidade de se manifestar? 

Aqui ficam algumas sugestões:

  • Demonstre o seu apreço por cada uma das crianças e pelas suas qualidades únicas. Isto implica alguns desafios: não fazer comparações entre irmãos, proporcionar momentos de partilha com os pais individualmente e evitar qualquer manifestação de favoritismo.
  • Dê-lhes espaço. Os irmãos partilharem tempo juntos é tão importante quanto poderem viver a sua individualidade, estando sozinhos, sozinhos com os pais e sozinhos com os amigos.
  • Não alimente a ideia de que o mais velho “sabe mais ou sabe melhor” ou de que tem mais responsabilidades (como ensinar, dar o exemplo ou ser mais tolerante).
  • Em situação de conflito, procure ouvir sem julgar. Quando uma das crianças faz considerações menos positivas sobre o irmão, dê-lhe a oportunidade de “deitar cá para fora” sem limitar ou criticar aquilo que ela diz sentir.
  • Quando a discussão surge, procure observar e esperar, no sentido de perceber se as crianças se conseguem voltar a entender sem a intervenção de um adulto.
  • Lembre-se que a sua atenção deve ser dirigida para as crianças em muitos outros momentos para além das situações de briga. Privilegie dar atenção nos momentos em que há interacções positivas e adequadas, elogiando a capacidade das crianças partilharem brincadeiras e trabalharem em equipa.

Que a relação entre irmãos tenha mais espaço para a cooperação do que para a competição.

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