A geração dos pós-Millennials evidencia características “quase inatas” de grande destreza no que respeita ao domínio de todos os temas que se relacionem com o “online” e encontra-se, ao contrário das gerações imediatamente anteriores, com níveis de “segurança física” muito mais elevados..
Muito elevados porque, na sua maioria, encontram-se num processo de “auto-enclausura”, sem sequer sair de “casa” (casa esta que acaba por ser completamente virtual – a internet).
O fascínio da independência, tão poderoso para as gerações anteriores, tem-se mostrado menos frequente nos adolescentes de hoje, que são menos propensos a sair da casa sem os pais.
Mais sedentários do que nunca, evidenciam grande dificuldade de ligação a todo e qualquer tipo de atividade que desafie a sua (baixíssima) capacidade de sacrifício e resistência à frustração.
Nascidos entre 1995 e 2012, os membros desta geração cresceram desde sempre com smartphones, possuem uma conta do Instagram antes de começar o ensino secundário e não têm memórias de Vida, antes da internet. Esta, esteve sempre presente na sua vida e “à mão em todos os momentos, dia e noite (ao contrário dos Millenials que, apesar de serem igualmente uma “geração web”, ela não estava presente de uma forma tão invasiva nas suas vidas).
Outra das consequências mais notórias, resulta num decréscimo das competências sociais, com clara dificuldade em estabelecer relações com o adequado calor afetivo.
Por esta razão, refugiam-se tendencialmente nas “amizades virtuais”, tornando-se o contexto social real, altamente ansiogénico o que irá potenciar ainda mais as respostas de evitamento e a fuga para o “virtual” – aí, não necessitamos de nos confrontar com a “complexidade” do ser humano, uma vez que podemos ativar o “delete”, quando bem entendermos (sem que o Outro esteja à nossa frente, a reclamar).
De notar, contudo, que este não é um comportamento exclusivo destes miúdos – de facto, tendencialmente, tem-se observado a alteração da própria DINÂMICA FAMILIAR, onde, se fosse possível colocar uma pequena câmara de vídeo, em muitos lares seriam observados muitos comportamentos de alienação, onde as pessoas, maioritariamente “co-habitam”.
Sem qualquer juízo de valor, o que se OBSERVA é, muito frequentemente, UMA COMPLETA IMERSÃO DAS PRÓPRIAS FIGURAS PARENTAIS, num zapping infindável entre diferentes redes sociais, numa busca incessante de aceder a informação que, cumpre uma só função:
ANESTESIA
Anestesiar o dia de trabalho, anestesiar as frustrações que sinto, anestesiar as dificuldades que tenho na relação com o Outro – um “Outro” que é a minha própria família (que já quase desconheço, por dedicar mais tempo à “família virtual”).
Se possível fosse, fazer um exercício de “fast-foward”, facilmente nos aperceberíamos do elevadíssimo número de horas que todos acabamos por investir numa vida virtual que nos afasta… incomensuravelmente, da Vida Real.
Com uma mobilidade cada vez maior no acesso à internet (cada vez maior eficiência dos telemóveis), os estudos evidenciam que, a pessoa média passará quase duas horas (aproximadamente 116 minutos) nas redes sociais todos os dias, o que se traduz em um total de 5 anos e 4 meses durante toda a vida (de notar que, estes valores tem-se alterado rapidamente, sempre no sentido de uma cada vez maior exposição).
Os resultados da investigação, não poderiam ser mais claros:
Os adolescentes que passam mais tempo do que a média nas “atividades de ecrã”, são mais propensos a ser mais infelizes e aqueles que passam mais tempo do que a média nas atividades não visuais são mais propensos a ser felizes – não existe uma única exceção: todas as “atividades de ecrã” estão ligadas a menos felicidade, e todas as atividades não visuais estão ligadas a mais felicidade.
Com este dados, a ESCOLHA parece SIMPLES, certo?
Nem tanto.
De facto, este padrão comportamental está, muito frequentemente associado a estados depressivos e a comportamentos aditivos, pelo que, pedir a um jovem que reduza a sua exposição a este tipo de atividades, podem ser mais complicado do que parece.
Tratando-se de um comportamento aditivo (com diferentes níveis de expressão em cada um de nós), deixar de estar “refém” deste tipo de exposição pode ser tão complicado como suprir qualquer outro tipo de adição.
Contudo, os BENEFÍCIOS associados a esta ESCOLHA são variados:
- Maior foco no presente
- Maior atenção às pessoas que estão à nossa volta
- Maior capacidade em desenvolver relações com o adequado calor afetivo
- Maior capacidade de concentração e foco
- Menor ansiedade
- Menor necessidade de validação social (“likes”)
- Mais tempo para o próprio, para os outros, para o exercício
- Maior atenção ao meio envolvente
- Os dias mais longos
- Relações (connosco próprios e com os outros) mais reais…
- Afinal, Mais VIDA.
E, já se sabe:
“Primeiro estranha-se, depois entranha-se!”
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