Tudo na nossa vida se explica por grupos. Podemos ser introvertidos ou extrovertidos, mas a organização de quem somos e de como vivemos está agarrada aos grupos sociais de que fazemos parte. E isso inclui o trabalho.
Ser aceite num grupo de trabalho, dá-nos segurança psicológica, possibilidade de aprender, de ser valorizado por quem somos e pelo que produzimos e de sermos apoiados num dia mau. Fazer com que alguém não se sinta aceite no grupo, excluindo ou humilhando a pessoa, é uma forma de violência psicológica. Porque nós toleramos mal a rejeição.
É normal querer ser aceite no trabalho.
Aliás, pode inclusive ajudar-nos a perceber se estamos ou não, no sítio certo. Deixei-me dar-lhe uma imagem mais clara do que quero dizer:
Sabe quando um bebé pequeno perde de vista os pais e chora descontroladamente? É uma imagem do que sofremos quando alguém nos rejeita, na idade adulta. A grande diferença? A criança ainda não tem a certeza de que os pais voltam e, por isso, não consegue regular as emoções. Na idade adulta, já temos mais recursos para lidar com a rejeição. Esses recursos incluem a capacidade de distinguir as situações no trabalho que são um desafio, das que são um perigo. Nas situações de desafio, normalmente temos recursos, mas o nosso desejo de aceitação pode bloquear-nos. Nas situações de perigo, pelo contrário, há menos probabilidades de conseguirmos fazer a diferença e o medo da rejeição pode ser importante.
Quais as armadilhas mentais que podem surgir?
Por exemplo, quando começamos a lidar com dúvida e incerteza, num projeto, temos um desafio à nossa capacidade. Para sermos aceites, às vezes, colocamos um peso enorme sobre nós. Através de julgamentos sobre nós próprios achamos que podemos ser rejeitados. Porque fomos contratados por já termos experiência, por sermos especialistas num tema, porque temos formação, porque o nosso CV é ótimo, por causa do nosso salário, porque somos novos, porque somos velhos, porque estamos há pouco tempo na função, porque estamos há muito tempo na função. Estes julgamentos vêem-se à superfície. Por baixo, há uma camada de armadilhas mentais a alimentá-los. Armadilhas mentais como desvalorizar o positivo, ver as coisas “tudo ou nada”, perfeccionismo, pessimismo, rotulagem, que nos condicionam.
Saber pedir ajuda
De facto, o nosso grupo de trabalho, sendo saudável, é a resposta para este desafio. O conhecimento que um grupo de profissionais detém é uma coisa extraordinária e podemos encontrar conhecimento, saber-fazer e motivação nos nossos colegas. Lembre-se disso e desafie as armadilhas mentais. A aceitação não é sobre fazer tudo bem, mas sobre tomar consciência de que já faz parte do grupo e de que é apoiado. Em vez de se pressionar a agir na dúvida, peça ajuda.
Como potenciar a dinâmica com o líder?
Noutro exemplo, quero falar-lhe de quando o nosso líder nos orienta a fazer de uma determinada forma, mas nós achamos que não vai funcionar. Pode ser um desafio, também! No trabalho nós pensamos sobre o que fazemos e é perfeitamente normal que nos tornemos especialistas no nosso território. Se a dinâmica com o seu líder é saudável, apresente as suas ideias. Organize-as e apresente-as apoiadas em evidências. As mesmas armadilhas que referi há pouco podem levar-nos ao silêncio “não vale a pena”, “se calhar não estou a pensar bem”. Em vez do silêncio, escolha a sugestão.
E quando não há condições para pedir ajuda ou dar sugestões?
Bom, aqui temos o perigo! O medo da rejeição pode estar a indicar-lhe que este sítio tem mais riscos do que o aceitável. De uma forma muito genérica, a forma como o trabalho está desenhado e como é organizado, incluindo como são geridas as interações entre as pessoas vai resultar num ambiente mais ou menos saudável. Vou falar-lhe de três caminhos possíveis:
- Rompa com a norma e comece ora a pedir ajuda, ora a dar sugestões. As habilidades de comunicação aqui são fundamentais, assim como estar munido de benefícios do que diz ou das consequências negativas de não se mudarem as coisas. Se funciona? Sim. Sempre? Não. Mas se não tentar, como vai saber?
- Se já tentou e não é possível, consegue viver com isso? Se sim, ótimo! Tenha em atenção aos fatores de proteção da sua saúde e do seu desempenho. Isto é, organize bem o seu trabalho em termos de metas e de horários, para não se expor a sobrecarga e seja assertivo. Quando o trabalho e as relações não estão organizados, o ambiente é mais hostil e exige mais estratégias da nossa parte.
- Se a resposta é “não consigo estar aqui”, comece a construir uma via de saída. Ficar num sítio apenas para sermos aceites, pode-nos levar a acordar um dia exatamente no sítio oposto: sem nos identificarmos com a organização, as pessoas ou o trabalho.
A aceitação no trabalho vem com a nossa natureza.
O que é o medo da rejeição está dizer-lhe? Avalie se precisa de desafiar armadilhas mentais que o estão a bloquear. Ou, se há motivos para procurar estratégias que o protejam num local que é hostil.