Quem nunca morreu de amor?

Eduardo Sá // Fevereiro 28, 2018
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O amor é uma chatice. O amor não é fácil. Fomos todos mal educados para o amor.

Na verdade, fomos todos mal-educados para o amor. E iludidos, até. Porque o amor nunca é sempre cor-de-rosa! Mas, seja pelo que for, somos desmazelados – demasiado desmazelados – para com o amor. às vezes, vivemo-lo com gestos de “Amo-te, mas não te desejo”. Como se fosse possível ter-se intimidade sem se ser íntimo. Às vezes, confundimo-lo, demais, com a sexualidade. Quase sempre, esperamos que ele nos procure. Ou que nos “caia no colo”, de forma acidental ou distraída. Mesmo quando mal o olhamos nos olhos. E nos colocamos diante do amor dum jeito pouco humilde, pouco amável, pouco amante e… preguiçoso.

Por mais que muitos amores pareçam, a quem os desconheça, mais ou menos improváveis, todo o amor, para ser amor, tem de ser… provável. Provável de ter em si o seu quê de alguma insegurança que ora o torna compreensível ora o faz contraditável. Provável de, em todos os momentos, ser preciso sentir-lhe o paladar. E provável de nos pôr à prova e de nos dar provas. Por mais que não pareça, todo o amor é uma prova. De vida!

O amor, para ser amor, precisa de gestos. Necessita de surpresas. Mas precisa, sobretudo, de palavras. Daí que esperar que alguém penetre do nevoeiro dos nossos silêncios para que, repetidamente, nos pergunte: “O que é que se passa”… talvez não seja amor. Mas um mal-entendido. E quando, já em desespero, nos lamuriamos que se perde no tempo a última vez que alguém muito nosso nos convidou para um jantar, e essa pessoa nos responde: “Que não seja por isso… Jantamos hoje, pois claro”, aquilo que se passa talvez não seja amor mas um… peso. No “estômago”… E quando ousamos ser surpreendidos por um programa de fim-de-semana e a melhor surpresa que nos reservam será dizerem-nos: “Fim de semana a dois? Boa ideia!!! Marca tu…”, aquilo que se passa não é amor, mas uma passividade sufocante. E quando esperamos que alguém que nos diga que nos ama e temos, como resposta: “Eu também…”. Ou, mais simplesmente, “Tu sabes…”, aquilo que se passa não é amor. É um escombro que nasce onde devia haver uma janela.

O amor nunca nos procura. Pode parecer que sim; eu sei. Mas não. Primeiro, vem tudo aquilo que se trabalha para o amor. Só depois, a paixão. E a seguir, claro, a ousadia de o desejar, a ânsia de lutar por ele e a capacidade de o saber esperar.

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