Depois do grande desafio que todos temos vivido com a chegada do COVID-19 às nossas vidas, acho que aquilo que precisamos, efectivamente, é de nos voltarmos a recentrar. Por isso, decidi dedicar este mês de Junho ao tema Brilhar.
Estivemos quase todos em modo sobrevivência e adaptação rápida, arranjando soluções para os vários desafios que a vida nos foi colocando devido à pandemia. Isso fez com que não tivéssemos, muitas vezes, disponibilidade para olhar para nós, nem para nos sentirmos. Eu sei que se divulgou muito a ideia de que este era um tempo de reflexão por excelência, um tempo para mergulharmos em nós e para aprofundarmos o nosso auto-conhecimento. Sim, tudo isso é verdade, mas também é verdade que foi um tempo que alterou todas as nossas dinâmicas, todas as nossas rotinas, todos aqueles procedimentos que compunham a normalidade dos nossos dias e isso exigiu-nos um grande esforço de adaptação. Consumiu-nos muita energia. Muita da nossa energia ficou efectivamente investida nesta reorganização. E quando nós nos desfocamos de nós próprios, quando não temos a possibilidade, nem o tempo, nem a disponibilidade emocional para nos dedicarmos a nós, é quase como se olhássemos para o espelho e ele não refletisse nada. Porquê? Porque muitas vezes o nosso brilho não está lá.
O que é o brilho pessoal?
O brilho é uma coisa muito nossa. É algo que não se consegue muitas vezes explicar por palavras, nem definir, nem adjetivar da forma que corresponda aquilo que sentimos e vemos. Mas uma coisa é certa, o brilho é algo único e individual.
Há pessoas que por mais que se adornem com coisas fantásticas, nunca brilham. Há pessoas que podem usar as peças mais bonitas, as maquilhagens mais vistosas, os cabelos mais na moda, mas continuam a não brilhar. Porquê? Porque elas são opacas. São opacas na sua energia. Nós olhamos para a energia à volta dessas pessoas e é como se ali não residisse nada. Como se o espaço delas terminasse, exactamente, no limite do seu corpo físico. Chamo a isso pessoas sem brilho. Porém, mesmo as pessoas sem brilho podem ganhá-lo.
Como ganhar brilho?
No dia em que essas pessoas se centrarem nelas próprias e passarem a dar-se importância, a amar-se como se devem amar, a valorizar-se como se devem valorizar, a conseguirem perceber todas as coisas boas que têm e a relativizar as menos boas, a conseguirem dar mais destaque ao caminho já feito e não aquele que ainda falta fazer, então vão conseguir despontar o tal brilho com que cada ser humano nasceu.
O nosso brilho só surge quando nós nos valorizamos.
O nosso brilho surge quando nós sabemos que estamos lá e que temos valor. Porque se nós não reconhecermos o nosso valor, o nosso brilho reage como uma lâmpada e apaga-se há medida que nos vamos desvalorizando e que nos vamos demitindo do nosso próprio poder. É como se fosse uma chama que vai progressivamente perdendo intensidade, até que desaparece. E o desaparecer é identificável naquela pessoa que não sabemos muito bem porquê, mas não nos apetece estar com ela. Não sabemos muito bem porquê, mas parece que nos cansa. São as pessoas que não têm brilho.
Brilhar e iluminar quem nos rodeia
As pessoas que têm brilho são aquelas que quando chegam enchem uma casa com a sua postura, a sua energia, a maneira como se dirigem aos outros, a forma como se movimentam e com tudo aquilo que o seu rosto diz muitas vezes sem ser necessário uma palavra. Essas são pessoas que brilham por elas próprias.
E essas pessoas têm uma luz que é delas e que é fruto daquilo que fazem para a alimentar porque essa luz não caiu do céu. Aliás, é curioso perceber que muitas vezes são as pessoas com histórias de vida duríssimas, que têm um brilho incrível. Nós ouvimos os seus relatos e os seus testemunhos e percebemos que elas transformaram a dor em crescimento, em oportunidade. E, por isso, são pessoas que brilham muito. São pessoas extremamente resilientes que sabem que a vida tem desafios, mas que é crucial viver os desafios como oportunidades de crescimento e não como barreiras intransponíveis.
As pessoas que tem brilho são pessoas tem uma luz própria e essas pessoas ninguém as pode apagar.
Pode haver quem influencie a sua luz. Pode haver quem faça, pela postura, com que o nosso próprio brilho fique meio comprometido, mas isso é transitório, tem os dias contados. Porque quem tem brilho sabe que o maior desafio é manter esse brilho vivo.
O maior desafio é manter esse brilho vivo.
E mesmo nos momentos de dor, lembrarmo-nos que é esse brilho que nos vai ajudar a sair dali. Eu não sei se vocês sabem o que é que vos faz brilhar, mas se não sabem descubram e alimentem. Há sempre alguma coisa que nos faz brilhar e, por norma, o primeiro espelho está nos nossos olhos. Estejam atentos. Os vossos olhos respondem aquilo que vocês ainda não viram.