Qual o impacto das medidas de isolamento social e do ensino não presencial nos estudantes?

Carolina Champalimaud // Abril 29, 2020
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Muito se tem falado sobre o impacto emocional deste período de quarentena, sendo que as crianças e jovens são um grupo particularmente afetado por esta situação de confinamento e isolamento social. Não só foram privados de alguns dos aspetos fundamentais para o seu bem-estar emocional e físico, como a socialização com os pares, as rotinas, as atividades desportivas, as atividades extracurriculares, o contacto com o espaço exterior como também foram privados do ensino presencial. No caso dos adolescentes muitos rituais de passagem foram também suspensos, desde as festas e as viagens de finalistas, as provas de final de curso do ensino artístico como do ensino profissional ou a queima das fitas no ensino superior.

De um momento para o outro, crianças e jovens foram colocados em quarentena, com recurso a plataformas e tecnologias que até há pouco tempo desconheciam. E, sim, são muito hábeis no que toca a descarregar e utilizar apps e jogos do seu interesse, mas têm também uma grande iliteracia no que diz respeito ao uso de emails, por exemplo. Os alunos do 1.º e 2.º ciclos são ainda dependentes do adulto, pelo menos numa fase inicial, para se organizarem e se habituarem a estas novas plataformas e para muitos este período está a ser o primeiro contacto com as tecnologias. Isto tem trazido um stress enorme nas famílias, com um impacto significativo na nova gestão da dinâmica familiar. O que mais ouvimos nestes dias foram pais exaustos e sobrecarregados, pois não só tinham que manter a sua atividade profissional em teletrabalho ou mesmo presencialmente, como também fazer todo o trabalho doméstico e ainda apoiar os filhos nas tarefas escolares e ainda na gestão das rotinas diárias.

O ensino tradicional foi forçado a reinventar-se para conseguir dar resposta a esta situação excecional.

A escola até 13 de março de 2020 era ainda, na maioria dos casos, muito tradicional e quase sem recurso a tecnologias. Em pouco menos de um mês, viu-se obrigada a se reinventar para conseguir dar resposta a esta situação excecional.

O ministério da educação decidiu manter os exames nacionais de 11.º e 12.º ano, para, assim, perturbar o menos possível o processo de candidatura ao ensino superior. De fora ficaram os exames de 9.º ano, as provas de aferição, os exames a nível de escola e os exames de secundário para os alunos que não pretendam aceder ao ensino superior.

Em geral, esta medida constituiu um alívio para a maior parte dos jovens, que viram os exames reduzidos a um, e em alguns casos a nenhum. Para outros, esta situação causou imenso nervosismo e até um sentimento de injustiça, uma vez que “as regras de jogo foram alteradas já muito perto da meta”. Por exemplo, já não têm oportunidade de recorrer ao exame para fazer melhoria da nota interna. O exame só conta assim como prova de ingresso para acesso ao ensino superior, logo todo o cálculo da média do secundário sofreu alterações.

Não estando prevista a passagem administrativa dos estudantes, este 3.º período será seguramente uma oportunidade para alguns alunos melhorarem o seu desempenho. O tipo de tarefas propostas pelos professores passa muito mais por atribuição de tarefas, apresentações orais e menos testes, verificando-se, assim, um maior enfoque numa avaliação mais qualitativa.

A 18 de maio está previsto o regresso à escola para os alunos do 11.º e 12.º anos que se candidataram para os exames nacionais. Esta medida pretende reduzir o contacto social ao mínimo possível e garantir as devidas condições de segurança, mas levanta algumas questões aos jovens:

  • “Será mesmo seguro voltarmos à escola?”
  • “Se a frequência destas aulas preparatórias presenciais não são de carácter obrigatório e se posso manter apenas regime não presencial, não ficarei em desvantagem face aos meus colegas que optem por aulas presenciais?”
  • “Porque não se pode manter apenas o ensino à distância?”

Para lidar com este 3.º período completamente atípico em tempos de quarentena deixo algumas sugestões para os jovens e suas famílias.

Estratégias para lidar com o ensino não presencial:

  • Ser assíduo nas aulas síncronas;
  • Realizar os trabalhos sugeridos pelos professores nas sessões assíncronas e entregá-los nas datas previstas;
  • Os pais devem apoiar os filhos no uso das plataformas e assegurar que estas são seguras.

Estratégias para manter um estilo de vida saudável:

  • Fazer exercício físico regularmente (2 a 3 vezes por semana). Estar a estudar não é desculpa para interromper a prática de atividade física. São antes atividades que ajudam a descomprimir e a libertar o stress;
  • Dormir bem e não fazer diretas. A privação de sono interfere nas capacidades de aprendizagem, memorização, resolução de problemas e ainda no seu estado emocional, uma vez que pode estar a contribuir para um acréscimo nos níveis de irritabilidade;
  • Comer de forma saudável;
  • Evitar substâncias que aumentam os níveis de ansiedade: cafeína, açúcar e nicotina.

Estratégias para implementar hábitos de estudo regulares:

  • Criar um horário de estudo regular;
  • Estabelecer um plano de estudo que se distribua ao longo do período escolar em vez de estudar apenas nas vésperas das avaliações.
  • Estudar em blocos de 30 a 45 minutos e fazer pausas de 5 minutos para um lanche ligeiro ou mexer o corpo;
  • Fazer uma gestão saudável do tempo;
  • Rever regularmente ideias-chave e fórmulas;
  • Conhecer os tópicos do teste ou exame;
  • Fazer revisões e assinalar dúvidas;
  • Executar exercícios diversos e treinar exames de anos anteriores.

E, por fim, algumas estratégias também para os pais:

  • Ser empático e procurar validar as frustrações que os seus filhos estão a experienciar nesta fase, como o cancelamento de eventos importantes nas suas vidas, a impossibilidade de estar fisicamente presente com os seus amigos e a todas as novas exigências que o ensino à distância lhes trouxe;
  • Manter as rotinas. Criar tempos definidos para o estudo e para o lazer. Promover consistência e previsibilidade nas rotinas, por exemplo refeições, tempo de atividade física e de lazer. Procurar implementar uma boa higiene de sono;
  • Permitir que o jovem se mantenha em contacto com os amigos e colegas através das redes sociais. É importante garantir que o jovem consiga ter privacidade e algum tempo para si próprio;
  • Desconectar por períodos de 30 minutos a 1 hora, preferencialmente no exterior, é essencial para manterem a sua saúde física e mental.  Podem fazer passeios a pé ou de bicicleta, praticar desporto ou estar em contacto com a natureza. De preferência sem recorrer às tecnologias. Se o tempo não permitir sair de casa procurar manter atividade através da dança, yoga ou treino desportivo, muitos destes recursos tem vindo a ser disponibilizados gratuitamente por diversas entidades;
  • Promover momentos de partilha em família, jogos de tabuleiro, noites de cinema, ou até mesmo videojogos;
  • Monitorizar o acesso às notícias. De preferência assistam em conjunto com os jovens e ajudem-nos a selecionar as notícias com informação factual e limitar o tempo a que estão expostos aos media. Evitar ligar as notícias nos períodos das refeições;
  • Assegurar que agora estamos perante uma nova normalidade. Toda a família tem que se tornar flexível para lidar com os desafios colocados a cada dia;
  • Estar atento aos sinais de mau estar emocional. Se necessário procurar apoio psicológico.

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