Qual o impacto da diabetes na saúde ocular?

Eugénio Leite // Novembro 14, 2023
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retinopatia diabética saúde ocular diabetes
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“Sou diabético. Que cuidados devo ter com a minha visão e que situações devo evitar para prevenir problemas oculares?” Estas são algumas dúvidas que afetam a maioria das pessoas com diabetes. Mas, afinal qual é o impacto desta doença na saúde ocular dos pacientes?

A retinopatia diabética é uma complicação da diabetes que atinge cerca de 75% das pessoas com a doença e é responsável por 4,8% dos casos de cegueira no mundo. 

A retinopatia pode também ser hipertensiva, relativa a pressão arterial elevada que afeta a circulação. Pode ainda ocorrer a retinopatia miópica, geralmente devido a alta miopia. Uma complicação séria decorrente da retinopatia é o edema macular. É possível tratar nos estágios iniciais, porém a perda de visão pode ser irreversível em alguns casos.

Consultar um oftalmologista é o primeiro passo. 

O primeiro passo, básico e de enorme importância, é consultar um oftalmologista, para examinar os seus olhos e definir a periodicidade de controlo de acordo com o grau da sua retinopatia diabética, mesmo que a acuidade visual seja aparentemente boa. Detetar problemas oculares o mais cedo possível e iniciar rapidamente o seu tratamento irá prevenir problemas mais graves no futuro. 

Questione o seu oftalmologista sobre a possível existência de cataratas ou glaucoma. Se pretende engravidar em breve ou se está grávida e é diabética, consulte um oftalmologista durante o primeiro trimestre da gestação. 

A retina tem uma rede de minúsculos vasos sanguíneos que são facilmente danificáveis com glicemias altas e particularmente variáveis (alta e baixas, alternantes) assim como pode coexistir uma pressão arterial elevada por uns longos períodos o que agravará as lesões destes vasos sanguíneos.

Manter a glicemia e pressão arterial o mais próximo do padrão de normalidade possível é essencial para evitar a retinopatia diabética. 

A retinopatia diabética é uma das três principais causas de cegueira irreversível e o descontrolo metabólico é a principal causa de agravamento desta problemática. Logo ter um excelente controlo metabólico da glicémia é peça básica no controlo do aparecimento e/ou evolução da retinopatia diabética, mas não esquecer também a importância de fatores agravantes como a tensão arterial, gorduras do sangue (colesterol, lipídios, triglicerídeos). Realçar ainda que é benéfico manter uma vida saudável com a prática de exercício físico de forma regular. 

“A retinopatia diabética tem tratamento?” 

O tratamento da retinopatia diabética é difícil e complexo, pois há múltiplos fatores que intervêm para que resulte. O atraso no tratamento é a causa mais relevante para que o tratamento não seja tão eficaz. O controlo de fatores agravantes, como, o controlo metabólico da glicemia, pressão arterial, perda de peso, perfil lipídico-colestrol-triglicerídeos, ou função renal, é crucial para a eficácia do tratamento. No entanto, em casos mais graves outros tipos de estratégias mais agressivas serão necessárias.

A retinopatia diabética é classificada em vários graus de gravidade (de 1 a 5). Assim, consoante o nível de complicações maior será a complexidade da intervenção necessária. 

Nos estádios mais precoces, como, por exemplo, nos doentes sem retinopatia diabética aparente, com retinopatia diabética não proliferativa mínima (grau 1), ou em que não seja possível quantificar qualquer sinal de retinopatia diabética (grau 2) é necessária apenas vigilância periódica frequente. Nestes casos, uma gestão correta do controlo metabólico da diabetes poderá ajudar a prevenir o avanço de complicações a nível ocular. 

Por outro lado, nos estádios mais avançados, como na retinopatia diabética proliferativa (grau 3), na avançada, com ou sem edema macular diabético (grau 4), ou na retinopatia diabética proliferativa avançada com hemovítreo (presença de sangue no interior do olho, no humor vítreo), descolamento de retina tracional ou edema macular diabético crónico com uma resposta ineficaz (grau 5) são necessárias intervenções mais agressivas em complexidade e invasivas. Para estes doentes, existem três tipos principais de tratamento da retinopatia diabética:  

  • Terapia de fotocoagulação com laser – Atua sobre os novos vasos sanguíneos desenvolvidos na parte anterior do olho, como resultado do avanço da RD. Estes, por serem mais fracos, causam facilmente hemorragias. Este tratamento está aconselhado em doentes com retinopatia diabética proliferativa de alto-risco e, em alguns casos, retinopatia diabética não proliferativa grave. Os sistemas laser mais recentes são mais precisos, permitindo uma redução da formação de lesões na retina e provocam menos inflamação. Entre as possíveis complicações contam-se, por exemplo, uma redução da visão periférica noturna, ver um padrão provocado pelo laser por alguns meses ou um pequeno ponto no centro do campo de visão. Não esquecer que é uma técnica destrutiva logo criando zonas cegas de visão;
  • Injeção intraocular de fármacos – Entre os medicamentos indicados para o tratamento da retinopatia diabética e do edema macular diabético, os mais importantes são os agentes anti-fator de crescimento endotelial vascular (vascular endothelial growth factor, VEGF), seguido de corticosteróides. Os fármacos anti-VEGF são administrados por injeção intra vítrea (administração na cavidade vítrea) e bloqueiam a ação do VEGF. O VEGF é um mediador bioquímico do organismo que estimula o crescimento anormal de vasos sanguíneos. Estão, por isso, indicados no tratamento da retinopatia diabética proliferativa e edema macular diabético que ameaça o centro da mácula. Geralmente, o tratamento é iniciado com bólus inicial de 3 doses, sendo 1 vez por mês, e, que depois é ajustada à evolução da retinopatia diabética, podendo mesmo cessar ou passar a uma administração menos frequente. Algumas pessoas com edema macular diabético, todavia, têm melhores resultados com injeções intra vítreas de corticosteróides. Existem atualmente disponíveis implantes que libertam de forma prolongada corticosteróides e que podem ter benefícios potenciais duráveis em olhos sujeitos a cirurgia vítreo-retiniana;
  • Cirurgia – Em casos mais graves, em que existe uma quantidade importante de sangue acumulado no olho ou tecido cicatricial extenso, que poderá causar ou já causou deslocamento da retina, será possivelmente necessário recorrer a cirurgia vítreo-retiniana. Nesta é removido parte do humor vítreo do olho (substância transparente, tipo «gelatina» que preenche o espaço atrás das lentes do olho), qualquer tecido cicatricial e usar laser para prevenir a deterioração da retina.

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