Porque é a imagem corporal tão importante ao ponto de nos fazer odiar tantas vezes um corpo saudável, forte e capaz, mas que, por alguma razão nas nossas cabeças, não corresponde ao ideal de beleza que a maioria de nós mulheres acha que é o perfeito?
Esta é uma das questões que mais tenho colocado a mim própria e a tantas pessoas que chegam até mim na esperança de encontrarem um pouco de conforto em alguém que sabe o que é viver com um profundo ódio ao corpo. Foram 15 anos na verdade. 15 anos de dietas atrás de dieta, de uma bulimia que durou 8 anos, de exercício 7 dias por semana 2 vezes por dia, de controlar cada grama que ingeria e de muitas compulsões alimentares resultantes da frustração que eu sentia por não alcançar o padrão de beleza que eu acreditava me iria trazer a felicidade eterna.
Fui viciada em números.
Número da balança, número de roupa, número de seguidores no Instagram que acompanhavam a minha saga em busca de um corpo perfeito. Que aplaudiam o meu sucesso sempre que eu colocava uma foto da minha barriga seca sem saberem que depois de o fazer eu chorava copiosamente por me odiar e por me achar uma farsa na verdade. Foram anos de uma convivência dolorosa comigo mesma, onde os ataques de pânico, uma depressão e o constante medo de me ver ao espelho me acompanharam, até ter ficado muito doente em 2016 e ter decidido dar um basta nesta obsessão que me estava a fazer sobreviver numa vida que eu também quis acabar no passado.
Esta minha história é na verdade a história de muitas, de demasiadas mulheres.
É a história quase diária de tantas vidas que me contam o quanto lutam para perder aquela barriga, as ancas, os braços ou qualquer outra parte do corpo que detestam e que para isso começam dietas todas as segundas-feiras, treinam imenso e depois deixam-se levar pela frustração de não conseguirem o mesmo que aquela inspiração que seguem nas redes sociais e acabam a comer demasiado. Comer para apaziguar a dor de não conseguirem o “corpo perfeito”.
E o que é isto do corpo perfeito na realidade?
Foi algo que persegui anos a fio. Na verdade dentro dos meus parâmetros de beleza, eu até cheguei lá, a um corpo digno de revista, mas que me custou uma fase da vida onde eu simplesmente tinha medo de comer. Onde sair para comer com amigos e família não era opção porque não podia controlar o que ingeria. Sim, eu tive o chamado corpo perfeito que idealizei e simultaneamente tive uma das fases mais tristes da minha vida.
O nosso corpo não nos chega?
A verdade é que recebemos diariamente informação de que o nosso corpo não nos chega. As capas de revista, os filmes, a televisão, as redes sociais estão cheias de corpos esbeltos que nos dizem que se nos esforçarmos muito chegaremos lá, aquele corpo. O que até pode ser verdade, mas será que quando lá chegarmos seremos verdadeiramente felizes? Será que a felicidade cabe realmente dentro de um par de calças 36?
Não digo que não podemos ou devemos mudar. Eu sou completamente a favor de mudanças porque eu mudei. Eu pesei 80 kilos e não era feliz, mas também pesei 47 e 50 e não fui feliz, porque em nenhum dos lados me sentia eu. Porque em nenhum dos lados me sentia verdadeiramente livre.
Um corpo feliz e perfeito é um corpo feito de escolhas
E para mim, corpo perfeito é exatamente isto, um corpo que te permite ser livre, um corpo que tem marcas, que tem história, um corpo do qual tu cuidas porque o amas e não porque o queres punir por teres comido demasiado no fim de semana. Um corpo que tu alimentas com comida que te faz brilhar, não porque só podes comer coisas saudáveis para não engordar, mas porque escolhes comer de forma rica. Isto para mim é um corpo feliz e perfeito, um corpo feito de escolhas. Um corpo que abraças ao espelho e mesmo que exista alguma coisa que queiras mudar, aceitas essa mudança vinda de um lugar de paz e não de um lugar de ódio.
Está certo mudar, se o queres fazer, esquece a dieta da amiga ou da celebridade das redes sociais e procura um profissional que te ajude. Escolhe começar a caminhar, a correr ou a fazer outro tipo de exercício para aumentares a tua energia. Acima de tudo escolhe-te, não porque alguém te diz que não és suficiente por não teres a barriga lisa, mas, sim, porque tens amor suficiente para saberes que mereces o melhor.