“A oficina” é um projecto que tem por base a reciclagem de velhas peças de automóveis, motas e outras máquinas que se encontram na sucata. No fundo, trata-se de aproveitar os formatos originais dos mais variados componentes mecânicos, cortar, soldar e misturar os mesmos, dando forma a uma peça de arte que será sempre única.
O projeto “A oficina” teve o seu início de forma efetiva em 2017, porém a ideia que está na sua génese remonta à minha adolescência, altura em comecei a trabalhar como aprendiz de soldador numa oficina ligada à reparação de componentes mecânicos. Ao lidar diariamente com este tipo de materiais, cedo pude constatar que muitos dos componentes mecânicos que eram deitados fora possuíam formatos muito interessantes do ponto de vista estético. Dessa constatação ao surgimento da ideia de dar uma segunda vida àquelas peças foi um ápice.
Nessa fase ainda tive oportunidade de fazer alguns objetos utilitários, nomeadamente umas mesas e alguns candeeiros, mas o percurso de vida que se seguiu, quer na vertente pessoal, quer na vertente profissional, não permitiu desenvolver esta ideia e a mesma ficou numa gaveta durante quase três décadas.
Dar uma segunda vida às velhas peças que se encontram na sucata
Em 2017, e após um percurso de vida intenso, nomeadamente a nível profissional, ocorreu uma mudança radical nesse mesmo padrão de vida. Encerrei uma pequena empresa da qual era proprietário e uma das consequências dessa mudança foi a de passar a ter disponível o tempo e a tranquilidade de que necessitava para reativar este projecto de reciclagem e artesanato que estava pensado há tantos anos.
O primeiro passo foi contactar algumas oficinas no sentido de aferir da possibilidade de me cederem as peças que estavam na sucata, deixando que procurasse lá o que pretendia para as minhas criações. Seguidamente transformei a garagem de casa no meu atelier e a partir daí foi dar azo à imaginação.




Transformar em arte o que já ninguém quer
Comecei por me dedicar à criação de peças decorativas expondo os meus trabalhos em feiras e mercados de rua. A adesão do público frequentador desses mercados ao meu conceito de artesanato foi imediata! Com o surgimento da pandemia, os mercados de rua foram encerrados e vi-me na circunstância de divulgar os meus trabalhos apenas e só através das páginas que criei nas redes sociais (Facebook e Instagram).
Na altura pensei que o fecho dos mercados de rua tivesse como consequência o final deste projeto, mas aconteceu precisamente o contrário! O facto de as pessoas estarem confinadas e, consequentemente, passarem muito mais tempo nas redes sociais fez com que a visibilidade das minhas páginas e dos meus trabalhos tivesse aumentado substancialmente. No fundo, a pandemia acabou por ser a mola real para dar a conhecer esta arte a um leque muitíssimo mais vasto de pessoas de todos os pontos do país e até estrangeiro.
Dar vida a peças de arte únicas e personalizadas
Outra surpresa bastante agradável e que foi surgindo com o aumento de público foi a personalização dos trabalhos que me têm sido encomendados. Ou seja, se numa fase inicial deste projeto a inspiração para as minhas criações provinha apenas da minha imaginação, a partir da altura em que os meus trabalhos começaram a ter mais visibilidade começaram também a surgir pedidos de encomendas cada vez mais personalizados em que o as pessoas integram também o processo criativo nomeadamente através das ideias que dão. Neste tipo de peças são retratadas desde profissões a desportos, passando por momentos e relações da vida de cada um e até homenagens a pessoas e animais que já partiram.




Poder, através do meu trabalho e com os materiais que utilizo, evocar momentos tão marcantes da vida das pessoas que me seguem e confiam no meu trabalho é algo que nunca esperei que viesse a acontecer, sendo que, para além de ser um enorme desafio, é, acima de tudo, extremamente gratificante.




Um projeto que superou as expectativas
Atualmente, o projeto “A oficina” continua a crescer, sendo que conto agora também com a ajuda preciosa da minha esposa, quer em questões de ordem logística, quer na elaboração e design de algumas peças em que é necessário atribuir às mesmas um toque e sensibilidade que só as mulheres possuem.
Em jeito de conclusão, posso afirmar que em boa hora decidi avançar com esta ideia de transformar sucata em arte. Para além de dar o meu pequeno contributo para algo tão importante como a reciclagem, acabo também por ter o retorno de fazer algo que verdadeiramente me apaixona.


