Prioridade: ter amor próprio

Fátima Lopes // Fevereiro 1, 2019
Partilhar

Muito se fala da importância de termos amor próprio, mas nem sempre nos explicam como é que lá chegamos. Na minha experiência a ouvir histórias de vida, constato que em geral as pessoas que viveram uma infância rodeada de afecto, amor e reforço positivo, têm uma maior auto-estima e amor próprio. Já quem foi criado um pouco por sua conta, ou com pessoas incapazes de amar e cuidar, tem por norma dificuldade em valorizar-se e, no limite, amar-se.

A forma como nos vemos e nos avaliamos, é extremamente importante para aquilo que vivemos.

Uma pessoa que ache sempre que é pouco capaz, que não tem valor suficiente para isto ou para aquilo, que não é suficientemente bonita, suficientemente inteligente, está a criar todas as condições para criar situações onde confirme esta auto-imagem.

Provavelmente tem todas estas virtudes e muitas mais, mas a sua incapacidade de as ver pela insegurança que sente, compromete a abertura das portas que deseja. Não é que elas não se venham a abrir. Pode é levar muito mais tempo, porque não acredita que é capaz. E, como acredito que tudo começa nos nossos pensamentos, nas nossas crenças e nos nossos padrões, se não os alterarmos teremos muitas dificuldades em mudar o rumo da nossa vida.

Como é que se começa a fortalecer o nosso amor próprio?

Como é que isto se inverte? Primeiro, pensando numa frase batida, mas muito válida: se eu não gostar de mim, quem é que vai gostar? E é mesmo assim! Se quando olho para mim só vejo defeitos, como é que quero ter a luz e o brilho que atrai os outros? A nossa auto imagem é muito importante para aquilo que os outros nos devolvem. É claro que podemos criar uma capa e apresentarmo-nos sempre como as pessoas mais confiantes, mais cheias de amor próprio, mesmo não o sentindo. Só que isso tem uma factura muito pesada: um vazio que traz sofrimento. Porque quando nos encontramos a sós connosco, continuamos a ver-nos pequeninos, desamparados e mal amados.

Depois de refletir sobre a tal frase, proponho um exercício simples:

  1. Pegue numa folha e escreva tudo o que gosta em si. Seja, no mínimo, tão generoso como é com os outros quando os avalia ou olha para eles. Deixe a imagem física para o fim. Comece pelo seu interior. Acha que é honesto, verdadeiro, bom amigo, sensível, carinhoso, empenhado naquilo que aceita, flexível, paciente… e tantas outras características que poderia aqui enunciar? Escreva cada uma delas, deixando umas linhas livres.
  2. Pense agora em situações em que demonstrou ter essas características. Registe-as bem na sua memória e também no papel. Lembre-se do impacto que cada uma delas teve em si e nos outros. Vai precisar de tempo porque é mesmo importante escrever tudo o que esta auto avaliação e memória lhe trazem.
  3. Passe então para a parte física. Escreva tudo o que gosta em si. Valorize, olhe com olhos de amor.
  4. Agora, noutra folha, escreva o que não gosta em si. Impulsividade, falta de sensibilidade, dificuldade em ouvir o outro… e tudo o que a introspecção lhe mostrar.
  5. Lembre-se de situações onde tenha vivido estes lados que considera menos bons da sua personalidade. Que ensinamentos consegue retirar daí? Se fosse hoje o que faria de diferente? Só esta possibilidade já prova que na altura dos acontecimentos fez o que pôde, com os recursos, experiência e ensinamentos que tinha.

O tempo traz aprendizagens e são elas que nos permitem fazer melhor no dia seguinte.

É por isso que não vale a pena permanecer zangado com a pessoa que era naquele ano, naquele dia, porque era fruto do que a vida lhe tinha ensinado até então. Hoje é outra pessoa, porque o tempo tem esta virtude de nos ir enriquecendo. Então aceite a pessoa que era, valorize-a e perdoe-a, se for caso disso. Só assim a poderá amar, porque reconhece a sua condição humana. E a nossa condição humana pressupõe falhar e errar. A perfeição não existe. Por isso seja tolerante consigo, valorize o seu empenho, o seu crescimento e isso fará aumentar o seu amor próprio. Quanto à imagem física, não se deixe escravizar pela imagem. Mude aquilo que o incomoda verdadeiramente, se para si for fundamental e estiver ao seu alcance. Mas lembre-se: se se aceitar amar como é, os outros corresponderão de igual modo.

Nota: Fotografia por Verónica Silva.

Copyright © 2023 Simply Flow. Todos os direitos reservados.

Este site utiliza cookies para melhorar a sua experiência. Aceitar Saber mais