Prevenir a pneumonia

Vânia Caldeira // Novembro 9, 2023
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prevenir a pneumonia
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A pneumonia é uma infecção respiratória aguda com envolvimento pulmonar e é uma causa importante de morbilidade e mortalidade no mundo. 

A pneumonia da comunidade é uma das principais causas de hospitalização potencialmente prevenível e entre 2000 e 2009 representou 3,7% do total de internamentos na população adulta portuguesa. 

A idade é um dos mais importantes factores de risco para a doença. Após os 65 anos aumenta cerca de três vezes a incidência da mesma. 

Os fumadores e os doentes portadores de algumas comorbilidades também estão em maior risco – como a Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica (DPOC – mais frequentemente conhecida por “bronquite crónica” ou “bronquite do fumador”), a asma, a insuficiência cardíaca, a diabetes, a desnutrição, a má higiene oral, a doença renal ou hepática ou doentes com algum tipo de imunodeficiência. Além disso, doentes com compromisso da protecção da via aérea (sequelas de acidente vascular cerebral, demências, convulsões ou abuso de álcool) também vão ter maior risco de pneumonias.  

A pneumonia é uma doença infeciosa, ou seja, causada por microorganismos – maioritariamente bactérias ou vírus respiratórios. 

Frequentemente começa por ocorrer uma infecção viral com posterior sobreinfecção bacteriana, pelo que as infecções virais também são factores de risco para as pneumonias bacterianas. Entre as causas de pneumonia viral destacam-se o vírus da gripe, o SARS-CoV2, Rinovírus ou o Vírus Sincicial Respiratório. O principal agente bacteriano é o Streptococcus pneumoniae (ou pneumococo) responsável pela doença pneumocócica. 

De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), a doença pneumocócica é responsável por 1,6 milhões de mortes por ano no mundo e uma importante causa de morte prevenível. 

Graças à vacinação tem-se registado uma diminuição, quer da incidência da doença, quer da gravidade da mesma, mas continua a ser a principal causa de pneumonia bacteriana na comunidade. Em 2015, o pneumococo foi responsável por 41% dos internamentos de adultos com pneumonia em Portugal. Com a generalização da vacinação pneumocócica nos EUA o pneumococo é responsável actualmente por 15% das pneumonias, enquanto na Europa representa ainda cerca de 30% dos casos.

Quais são os sintomas?

A doença pode cursar com vários sintomas, entre os quais, os sintomas respiratórios mais comuns – a tosse com ou sem expectoração, a dificuldade respiratória e/ou a dor torácica. A grande maioria dos doentes apresenta-se com febre e existem outros sintomas sistémicos que podem associar-se como sudorese intensa, calafrios, fadiga, dores musculares, diminuição do apetite ou dor de cabeça. Nos idosos, frequentemente, é uma doença pouco sintomática, muitas vezes sem febre ou com sintomas menos habituais, como confusão mental, o que aumenta o risco de não ser precocemente identificada. 

Como é feito o diagnóstico?

A radiografia do tórax é o exame que permite confirmar a suspeita diagnóstica e contribui para avaliar a extensão da doença. É uma doença que em casos mais graves pode causar diminuição importante da oxigenação, agravamento de comorbilidades como a DPOC, a diabetes ou a doença renal crónica, e condicionar critérios de internamento. Por isso, tão importante como o seu diagnóstico precoce, é a avaliação da gravidade da doença, a decisão da necessidade de internamento e o início atempado de tratamento.

Qual é o tratamento?

O tratamento dirigido na pneumonia bacteriana consiste na realização de antibioterapia que cubra os principais agentes causadores da mesma, além da terapia de suporte (antipiréticos, analgésicos) e eventual oxigenoterapia suplementar quando necessário.

Apesar de a maioria dos doentes melhorar sem complicações, a pneumonia é uma doença grave que pode evoluir desfavoravelmente, sendo a mortalidade frequentemente associada ao aparecimento de complicações da própria pneumonia (abcesso pulmonar ou derrame pleural, agravamento da insuficiência respiratória ou sépsis) ou por eventos cardiovasculares associados (como o enfarte agudo do miocárdio ou as arritmias). A mortalidade da pneumonia adquirida na comunidade aos 30 dias é de cerca de 1% nos doentes tratados em ambulatório e até 25% no doente internado (dados dos EUA). 

A prevenção é a nossa principal arma para travar esta doença tão prevalente e as suas mortes. Entre as medidas essenciais para a prevenção encontram-se a cessação tabágica e a vacinação.

A vacinação da gripe diminui directamente o risco de pneumonia viral por Influenza e indirectamente o risco de posterior desenvolvimento de pneumonia bacteriana após a infecção viral. Esta vacinação decorre anualmente numa campanha sazonal no período do outono-inverno e visa aumentar a protecção dos doentes mais vulneráveis, que têm risco acrescido de doença grave e suas complicações. 

A vacinação contra a gripe é gratuita para todos os indivíduos com idade igual ou superior a 60 anos, grávidas, pessoas em contextos especiais (residentes, utentes e profissionais de estabelecimentos sociais, hospitalares, prisionais) e portadores de doenças de risco. A vacinação está recomendada em doentes com doença crónica respiratória, cardiovascular, renal, hepática, neuromuscular ou hematológica, doentes com imunodeficiência, entre outras. Portadores de doenças prevalentes como a asma, a DPOC, a insuficiência cardíaca, a cirrose hepática, a diabetes e a obesidade devem ser vacinados. Pode mesmo ser realizada a coadministração das vacinas contra a gripe e contra a COVID-19 de forma segura e efectiva. Todas as restantes pessoas sem vacinação gratuita poderão ser vacinadas contra a gripe mediante prescrição médica.

A vacinação pneumocócica reduz a incidência da infecção por pneumoco, mas também a sua gravidade. A introdução da vacina pneumocócica conjugada 13-valente (ou seja, que cobre 13 serotipos do pneumococo) no Plano Nacional de Vacinação foi uma medida importante para reduzir a incidência da doença, mas entretanto temos mais vacinas disponíveis que cobrem mais e diferentes serotipos, aumentando a protecção. Actualmente estão disponíveis as vacinas pneumocócicas conjugadas 15 e 20-valente e a vacina pneumocócica polissacarídea 23-valente. A vacinação pneumocócica está recomendada em todos os indivíduos com idade igual ou superior a 65 anos ou adultos com doença respiratória crónica (ex: DPOC, asma), doença cardíaca, renal ou hepática crónica, diabetes, dadores de medula óssea e imunocomprometidos (ex: HIV, doença oncológica). 

Agora que se aproxima um período de maior incidência de infecções respiratórias, nomeadamente com o pico de incidência da gripe, é aconselhável que as pessoas discutam as possibilidades de vacinação adequadas a si com o seu médico. 

É também essencial a cessação tabágica e o controlo de comorbilidades (como a diabetes). E que estejam atentas a sintomas e sinais de infecção respiratória procurando ajuda médica atempada.

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