A Poça da Janela

Cristina Santos Costa // Novembro 6, 2017
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Dantes era assim. Aquele caminho estreito era feito ainda que o sol estivesse a pino. Trouxas de roupa balançavam na cabeça das mulheres num equilíbrio que eu dizia mágico. As mãos delas gesticulavam ao sabor das conversas e lá no alto da cabeça os cântaros de água ou as trouxas de roupa bailavam ao sabor dos passos decididos sem nunca caírem. Nem eram motivo de preocupação já que havia que pôr a conversa em dia e a poça era já ali no virar da curva mais larga.

O vozear era persistente ao som da roupa batida na água num gesto peculiar que todas repetiam a afagar a roupa naquele tanque de água, a fazer balões até ser mergulhada com energia a largar o sabão e a deixar espumas na água.

Esfregada com a delicadeza que aquelas mãos gretadas punham nas coisas que faziam eram um ritual de brancura que faziam a inveja das menos experientes. Depois era deixar a corar em cima da cama de silvas e esperar que o luar as inundasse de luz. Pela fresca da manhã retomava-se o ritual.

Escovadas na pedra rija aquela água fria emprestava-lhes um cheiro a roupa lavada que se sentia nos estendais a rebentarem de peso.

Aquela poça foi secando por falta de uso. Com o tempo as silvas e as ervas foram tomando conta daquele tanque deixado ao abandono das risada e cantigas de outros tempos.

Tomado pelo silêncio aquele rectângulo de granito, perigoso, gigante aos meus olhos de criança, é afinal pouco mais que o espaço para uma braçada pensava eu a transformá-lo numa piscina para brincadeiras de garotos.

Os mesmos garotos que com uma sacola a guardar o farnel saíam pela manhã e ficavam a pasmar naquele campo de pasto a contarem as ovelhas …

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