Planos para o futuro? Não! Planos para o presente

Fátima Lopes // Julho 20, 2020
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Resolvi escrever sobre fazer planos, porque aquilo que sinto e percebo à minha volta da maior parte das pessoas, é que fazer planos para o futuro é quase que uma perda de tempo. Isto porque ninguém sabe onde é que está o futuro, nem o que é que ele nos pode trazer, nem se quer vislumbramos o que representa. Passaram a existir muitas incertezas, muitas dúvidas, muitas questões e o ser humano precisa de informação para se poder organizar e para poder fazer uma coisa que, por norma gostamos: controlar. Com informação nós achamos que conseguimos controlar melhor, que conseguimos programar, que conseguimos orientar melhor a nossa vida. E, neste momento, aquilo que nos está a faltar é, precisamente, informação.

Há uma grande incerteza relativamente ao dia de amanhã.

Eu não disse daqui a um mês, nem daqui a três. Não disse daqui a um ano, nem daqui a cinco. Eu disse que há uma grande incerteza em relação ao dia de amanhã. Tudo se altera em 24h. E, por isso, as pessoas têm muita dificuldade em fazer planos para o futuro.

Passámos a ter de saber viver só o presente.

E isso é uma coisa que nem sempre nos é fácil. Muitas vezes pensamos: “Ok, vamos fazer planos para o dia de hoje”, mas no sentido de uma organização da nossa vida e gestão do nosso dia-a-dia. Não é propriamente com o objectivo de fazer planos que nos permitam viver plenamente o dia, por termos a noção de que o dia de amanhã é um grande ponto de interrogação.

E isto até pode parecer uma pequena mudança, mas é uma mudança gigante.

Uma coisa é eu não fazer planos para o dia de hoje porque sei que, pelas minhas expectativas, amanhã aparentemente será um dia melhor, um dia diferente. Outra coisa é como não tenho planos para amanhã, não posso fazer do dia de hoje um simplesmente existir, nem posso fazer do dia de hoje um dia de cumprir simples tarefas, porque este dia pode ser bem mais valioso e ter muito mais importância do que eu achava. Este dia não pode ser apenas mais um dia. Ele tem de ter qualquer coisa de especial, exactamente, porque amanhã eu não sei o que vai ser. E esta mudança é importantíssima.

Eu deixei de fazer planos para o futuro.

Programei os dias de descanso deste Verão, mas não tenho absolutamente a certeza se serão exactamente como eu os pensei. Em relação aos restantes dias de férias, não pensei em nada. Não sei quando irei usufruir desses dias de férias, nem se será possível ir a algum lado, não sei se ficarei por casa com os meus filhos. E o facto de não saber nada, faz com que aceite as coisas como elas são para evitar entrar em níveis de ansiedade que retirem o sabor ao dia de hoje, que eu quero saborear. Faz com que eu olhe de outra maneira para o que se passa e tenha vontade de fazer bons planos para o dia de hoje, para o agora, para o presente.

O que é que hoje eu posso fazer de diferente para que este seja um dia de especial?

E cada vez mais sinto necessidade de chegar ao final do dia, fazer uma retrospectiva desse dia e ver tudo o que tenho de agradecer. E quando começo a enumerar tudo aquilo pelo qual estou grata nesse dia, eu percebo que não foi apenas mais um dia. Se calhar foi mesmo um dia bom, um dia especial. Até me podem dizer que foi um dia igual ao de ontem, que estou a agradecer novamente por ter saúde, por os meus filhos terem saúde, por os meus pais terem saúde, por ter trabalho, por ter estado com alguém de quem gosto muito, por ter recebido um telefonema de uma amiga. Ok, mas se isso também aconteceu no dia de hoje deixa de ser especial? Lá porque aconteceu ontem, não quer dizer que hoje já não seja especial e por isso eu agradeço na mesma.

A vida tem de ser saboreada no momento.

Este olhar para o dia pensando que para o dia de hoje é que temos de ter um plano, faz toda a diferença e traz-nos para a vida o sabor que ela deve ter. Porque a vida tem de ser saboreada no momento. Não se pode deixar o saborear da vida para um dia lá para a frente. Não! Não é lá para a frente. É hoje. É agora. Porque é aqui e agora que eu me encontro.

Nota: Fotografia por Verónica Silva

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