Piloto automático

José Santos // Abril 4, 2017
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Tenho falado um pouco sobre a vida secreta dos nossos neurónios. Secreta para todos, porque apesar da muita investigação que se faz hoje em dia sobre o cérebro, ainda se sabem muito pouco sobre como funciona o nosso “computador quântico”

Julguei pertinente falar um pouco sobre uma parte em especial: o chamado sistema nervoso autónomo (automático).

Ele é o grande responsável pela nossa capacidade de controlar “tudo” ao mesmo tempo – respirar, bater o coração, fazer a digestão, regular a tensão arterial entre muitos outras tarefas intermináveis que se fazem de forma automática e sobre as quais temos pouco controlo real.

Este sistema está dividido em duas grandes áreas: o sistema nervoso simpático e o para simpático.

O simpático é assim chamado porque os seus gânglios nervosos, estão ao lado da coluna vertebral e por isso os primeiros cientistas e médicos gregos o acharam mais “simpático” – na altura não sabiam que ele é o nosso “acelerador” e que a sua função é essencialmente prepara-nos para lutar ou fugir.

O parasimpático está dividido em duas porções: uma cefálica, na cabeça e outra sagrada, com os seus gânglios na parte pélvica do corpo. Este é maioritariamente o nosso “travão” – responsável pelo relaxamento e digestão.

Como a maior parte das nossas actividades diárias modernas, carregam mais no “acelerador” do que no “travão” – hoje andamos todos demasiados acelerados, com pouco espaço e tempo para o relaxamento e a digestão – o que nos provoca muitos sintomas relacionados com sono, problemas digestivos, incapacidade de relaxar e acima de tudo sintomas de hiperactividade simpática: tensão muscular, coração acelerado, problemas respiratórios e acima de tudo cada vez mais problemas relacionados com o sistema imunitário: infecções, alergias e doenças mais graves como doenças auto imunes e mesmo o cancro. Falta-nós o travão que regula o normal funcionamento do nosso corpo.

Como é que pode carregar no travão?

O principal nervo parasimpatico é o nervo vago ou pneumogástrico – também chamado 10o par craniano, por ser um de 12 nervos que saem e entram directamente no a cada lado do nosso cérebro. Para colocar o pé no travão precisamos por um lado de o tirar do acelerador e estimular este nervo ou pelo menos a área cefálica de onde ele nasce.

Para desacelerar eu devo fazer fazer exercício físico de intensidade pelo menos moderada durante um mínimo de vinte minutos (por exemplo caminhar a um passo que consiga conversar, mas não cantar) e para travar posso usar técnicas de respiração que usem o diafragma – um músculo poderoso que é o principal músculo inspiratório e que separa o tórax onde estão os pulmões e coração do abdómen onde estão os intestinos. O diafragma é enervado pelo nervo frénico que nasce da região cervical alta e vai portanto ter influência no parasimpatico (o travão). O nervo vago é estimulável através do sistema digestivo e respiratório, mas também aparece na nossa superfície corporal dentro da orelha (na pele da concha) e pode ser estimulado – é assim em geral que os bebes fazem para se acalmar – chucham ou comem e esfregam as orelhas!

Existem outras formas de modelar o nosso funcionamento automático mas tal como num carro, não devemos tentar carregar no acelerador e travão ao mesmo tempo. Daí que comer para acalmar tem um efeito apenas temporário…

Vamos desacelerar?

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