“Peregrinar é rezar com os pés.” Esta frase é da autoria do Padre João Luís Silva, aquele que eu apelido de “meu padre”. Mas, sobre esta frase já me debruço mais à frente.
Há 5 anos fiz a minha primeira peregrinação a pé a Fátima.
Pedi nessa altura ao Padre João Luís que fizesse o favor de me acompanhar e reunisse o grupo de peregrinos que ele entendesse ser o certo para a nossa jornada. Assim foi. Tive o privilégio de conhecer pessoas maravilhosas, algumas delas entraram na minha vida para nunca mais sair.
Tudo era novo para mim nesta primeira experiência de viver os caminhos de Fátima e ir ao encontro do colo de Nossa Senhora.
Como fizemos esta peregrinação em Outubro, no ano da celebração do centenário das aparições, havia muitos peregrinos no caminho. Isso possibilitou encontros, partilhas e ao mesmo tempo uma dinâmica muito viva.
A chegada ao Santuário é difícil de descrever. Teve um impacto gigante em mim.
Nessa altura ainda não tinha ultrapassado o problema que tinha numa perna e, por isso, caminhei com muitas dores e alguma limitação. À noite não conseguia descansar por causa das dores, mas estava decidida a terminar e quando consegui, chorei muito agarrada aos outros peregrinos.
Em Maio do ano seguinte, resolvi fazer a segunda peregrinação a pé a Fátima.
Sentia uma vontade gigante de ir agradecer a Nossa Senhora. Alguns dos peregrinos que caminhavam comigo eram os mesmos da primeira vez, outros não. Foi uma experiência totalmente diferente. Vivi mais intensamente o caminho. Tivemos tempo para caminhar, rir, chorar, rezar, cantar e ficar simplesmente em silêncio.
O caminho é um processo.
Ainda por cima nós optamos sempre por o fazer, tanto quanto possível, pelo meio da natureza. Isso torna esta jornada ainda mais intensa e especial. Há muito tempo para estarmos só connosco e nos consultarmos. Há muito tempo para nos ouvirmos e estarmos mais disponíveis para os sinais. Porque eles existem. Sempre.
Nesta segunda peregrinação, chorei muitas vezes no caminho pela gratidão que sentia no meu coração. A chegada ao Santuário foi mais serena. Parecia que tinha deixado uma mochila pelo caminho.
Dia 10 deste mês, comecei a minha terceira peregrinação a pé ao Santuário de Fátima.
O objetivo era acompanhar o meu querido amigo Tony Carreira, nesta experiência como peregrino. Obviamente que não vou falar da experiência nem das vivências do Tony, porque isso só a ele lhe diz respeito. Vou falar, sim, de como foi para mim.
Em Janeiro a meteorologia é mais difícil. O tempo está muito frio e húmido, mas curiosamente isso revelou-se positivo. No caminho todo, não encontrámos um único peregrino. Apenas nós. Eu, o Padre João, o Tony, o Manuel, a Paula e a Célia, que ficou com a nobre tarefa de conduzir a carrinha de apoio, que nos dava o que precisávamos nos locais de paragem.
O facto de nunca nos cruzarmos com peregrinos, permitiu ainda mais esta experiência de introspeção.
Realmente o silêncio é algo extremamente valioso. Foi um caminho feito de riso, gargalhadas, choro, emoção e partilhas. Um caminho onde cada um de nós pode fazer as perguntas que desejava ao Padre João, que humildemente procurou ajudar-nos. Posso dizer que peregrinámos com o coração cheio de amor e de gratidão por estarmos a percorrer aqueles caminhos.

Como diz o Padre João, “os caminhos de Fátima são os caminhos do amor de Deus”.
Todos os dias o Padre João celebrava missa num local diferente. A missa campal é, para mim, algo indescritível. Abraçámo-nos no final, ali no meio da natureza, com os nossos corações mais serenos. Rezámos o terço todos os dias, enquanto caminhávamos.

Aprendemos com o Padre João, que “peregrinar é rezar com os pés”. E é mesmo.
A chegada ao colo gigante de Nossa Senhora, faz-nos renascer. Mesmo quando tudo parece escuro e triste, acende-se ali uma centelha de luz e esperança, que nada nem ninguém consegue apagar.

Nota: Fotografia destaque por Verónica Silva