Outubro, o mês do Cancro da Mama – O que podemos fazer?

João Mouta // Outubro 30, 2018
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Todos os anos, em Outubro, celebramos o mês do cancro da mama, ocasião que aproveitamos para educar e consciencializar para esta doença tão importante na nossa sociedade. Se pensarmos que aproximadamente 1 em cada 8 mulheres no Mundo virá a ter um diagnóstico de cancro da mama ao longo da vida, e que esta doença afecta predominantemente mulheres, nos anos em que são mais produtivas e assumem mais responsabilidades profissionais, familiares e sociais, facilmente compreendemos que o cancro da mama é um verdadeiro problema de saúde pública. Aproximadamente 1 em cada 100 casos, porém, ocorre em homens – o que faz com que o cancro da mama nos diga ainda mais respeito a todos.

O cancro da mama é o mais frequente entre as mulheres portuguesas.

Dados recentes da Organização Mundial de Saúde (2018) mostram que o cancro da mama é o segundo cancro mais frequente em todo o Mundo (apenas atrás do cancro do pulmão); todos os anos são diagnosticados mais de 2 milhões de novos casos no Mundo (12% de todos os cancros). O cancro da mama é o quinto mais letal, causando mais de 600.000 mortes anuais em todo o Mundo (7% de todas as mortes por cancro). É o cancro mais frequente entre as mulheres, responsável nestas por quase 1 em cada 4 casos de cancro. Em Portugal, é o segundo mais frequente (quase 7000 novos casos por ano, apenas atrás do cancro colorrectal), e o quinto mais letal (responsável por aproximadamente 1750 mortes por ano). Neste momento, mais de 25.000 mulheres em Portugal vivem com alguma forma de cancro da mama.

A aposta na prevenção permite evitar a ocorrência de alguns cancros da mama.

Nos nossos dias, são frequentes as menções a formas hereditárias de cancro da mama ou ao aumento da incidência em mulheres muito jovens. Sendo estes dois temas importantes, é fundamental saber que as formas hereditárias são responsáveis por uma minoria dos casos, e que o cancro da mama é relativamente raro nas mulheres com menos de 40 anos, sendo uma doença muito relacionada com o envelhecimento. A maioria dos casos de cancro da mama são esporádicos, e ocorrem como fruto do acaso. Alguns factores de risco conhecidos para cancro da mama não são modificáveis (a idade, a história familiar, a exposição a radiações, algumas doenças mamárias benignas, menarca precoce ou menopausa tardia, nuliparidade ou primeira gravidez tardia). Outros, porém, como o tabagismo, o consumo de álcool, a obesidade e sedentarismo, e a exposição a tratamentos hormonais baseados em estrogéneos, são modificáveis. O primeiro passo para a redução do risco de vir a ter cancro da mama é assim a prevençãoevite o tabaco e o álcool, faça exercício físico, mantenha uma dieta saudável, equilibrada e diversificada, e mantenha o seu peso dentro da normalidade.

A vigilância e o rastreio permitem diagnosticar cancros da mama em fases em que são curáveis.

Sabemos hoje que os resultados do tratamento do cancro da mama estão directamente relacionados com a precocidade do seu diagnóstico. Por essa razão, é de extrema importância a manutenção de uma adequada vigilância e a adesão aos programas de rastreio populacional. A vigilância clínica é realizada pelo médico assistente (médico generalista ou ginecologista, por exemplo), podendo ser complementada pela auto-vigilância, através da auto-palpação mamária regular. A vigilância é simples e pouco dispendiosa, e permite detectar alguns cancros da mama numa fase precoce. Além da presença de nódulos mamários, as mulheres devem estar atentas a outros sinais como alterações da secreção mamilar, a alterações da pele (como pele em casca de laranja, retracções, inversões do mamilo, sinais inflamatórios ou úlceras que não desapareçam, lesões descamativas) e ao aparecimento de nódulos na axila; caso surjam, devem contactar o seu médico. A vigilância deve, porém, ser complementada pela adesão aos programas de rastreio. A realização, em intervalos regulares, da mamografia e ecografia mamária permite detectar um grande número de casos numa fase em que os tumores não são sequer ainda palpáveis, possibilitando o tratamento atempado de lesões pré-malignas e malignas, e a redução da mortalidade associada ao cancro da mama. As recomendações das sociedades científicas não são consensuais, mas frequentemente recomendam a realização dos exames de rastreio com uma periodicidade anual, a partir dos 40 anos, e enquanto o estado geral de saúde o tornar razoável. Consulte o seu médico a este respeito.

O tratamento do cancro da mama é hoje em dia totalmente individualizado.

Na maioria dos casos em que é diagnosticado (>95% dos casos), o cancro da mama encontra-se em estádios precoces. O tratamento do cancro da mama deve ser realizado em Unidades de Mama, serviços hospitalares dedicados ao diagnóstico, tratamento multidisciplinar e seguimento de doentes com cancro da mama. Nestas Unidades, o doente encontra uma equipa de médicos especializados nesta patologia – cirurgiões, oncologistas, imagiologistas, anatomopatologistas, entre outros – que, juntos, farão uma proposta de tratamento individualizada a cada doente. O tratamento do cancro da mama em estádios precoces é sempre multimodal, isto é, exige que sejam empregues diferentes modalidades de tratamento. Compreende a parte do tratamento local (mama e axila), habitualmente feito com recurso a técnicas cirúrgicas, com ou sem contribuição da radioterapia, e a parte do tratamento sistémico (às vezes chamado de “preventivo”), para o qual podem ser utilizados, isoladamente ou em combinação, tratamentos de quimioterapia, hormonoterapia e modernos tratamentos biológicos dirigidos. O tratamento que cada doente realiza depende das suas características individuais, do seu risco de vir a ter uma recidiva, da extensão da sua doença, e das características biológicas do seu cancro. A probabilidade de um cancro da mama ficar curado depende também destes factores mas, de uma forma geral, podemos dizer que, nos dias de hoje, a maioria das doentes com cancro da mama em estádios iniciais pode ser curada da sua doença.

Dispomos de tratamentos cada vez mais eficazes para o cancro da mama avançado.

O cancro da mama avançado afecta uma minoria das doentes ao diagnóstico, e uma parte das mulheres inicialmente diagnosticadas com cancro da mama em estádios precoces, que vêm durante o período de seguimento a desenvolver sinais da doença noutros locais. Por definição, o cancro da mama avançado não tem cura; os principais objectivos do seu tratamento são o prolongamento e a manutenção da qualidade de vida. O tratamento do cancro da mama avançado depende de vários aspectos – o subtipo de cancro da mama, as localizações de doença, e o estado geral de saúde da doente – e pode incluir várias modalidades de tratamento (quimioterapia, hormonoterapia, tratamentos dirigidos, radioterapia, etc.). Deve sempre ser acompanhado do adequado tratamento de suporte e, sempre que possível, de cuidados paliativos instituídos precocemente. O cancro da mama avançado não é necessariamente uma sentença de morte a curto prazo; nas últimas décadas fizemos enormes progressos no tratamento do cancro da mama avançado, de tal maneira que algumas mulheres vivem muitos anos com este diagnóstico, levando uma vida familiar, profissional e social plenas, produtivas e dignas.

Cancro da mama – Muito pode ser feito!

Concluindo, o cancro da mama é um verdadeiro problema de saúde pública nos países desenvolvidos. A sua incidência está a aumentar, sobretudo em virtude da alteração dos hábitos e estilos de vida e do envelhecimento da população, tal como a quantidade de pessoas que vivem com este diagnóstico. A aposta na prevenção é fundamental, e há coisas que pode fazer todos os dias – leve um estilo de vida saudável, evitando o consumo de tabaco e de álcool em excesso, fazendo uma alimentação saudável e equilibrada, e praticando exercício físico. O diagnóstico precoce é fundamental ao sucesso do tratamento do cancro da mama – esteja atenta, adira à vigilância e aos programas de rastreio do cancro da mama. Temos feito avanços extraordinários no tratamento do cancro da mama, mas o sucesso do combate a esta doença também depende de todos nós. Cuide de si, e cuide das mulheres à sua volta.

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