Cerca de 10% da população portuguesa sofre de doenças da tiróide e a grande maioria desconhece esta situação. Uma grande parte nem sabe o que é e para que serve esta glândula tão importante no nosso bem-estar.
O que é a tiróide?
A tiróide é uma glândula única que se situa na base do pescoço, na região anterior. A sua forma é semelhante a uma borboleta, com uma região central, denominada de istmo e 2 lobos laterais. Normalmente, a tiróide não é visível nem é palpável.
A tiróide produz, essencialmente, duas hormonas: a triidotironina (T3) e a tetraiodotironina (T4 ou tiroxina), que quando libertadas para a corrente sanguínea, atuam em quase todas as células do organismo. Ajudam o organismo a utilizar a energia e regulam a temperatura corporal, o crescimento e desenvolvimento intelectual nas crianças e permitem um normal funcionamento do cérebro, músculos, coração e outros órgãos.
Se a produção de hormonas se tornar insuficiente o metabolismo desacelera – hipotiroidismo. Se houver excesso de produção o metabolismo acelera – hipertiroidismo. O hipotiroidismo é cerca de 10 vezes mais frequente que o hipertiroidismo.
Como se avalia a tiróide?
A avaliação clínica pelo seu médico assistente ou endocrinologista é um passo essencial no diagnóstico das doenças da tiróide. A avaliação dos sintomas pode ajudar a perceber que tipo de alteração está presente.
Quais os exames a fazer para avaliar a tiróide?
. Análises sanguíneas
As análises sanguíneas permitem detetar e medir os níveis de hormonas tiroideias na corrente sanguínea. Como as hormonas tiroideias são medidas no sangue, não é necessário estar em jejum para fazer essas análises.
A determinação da TSH (do inglês, thyroid-stimulating hormone) é suficiente na maioria dos casos para avaliar eventuais alterações hormonais. Os outros doseamentos serão pedidos em função de cada caso concreto.
. Ecografia
Para a avaliação de um nódulo da tiróide, a ecografia é fundamental para determinar as dimensões e as características dos nódulos.
. Citologia aspirativa com agulha fina
Por vezes, é ainda necessária a realização de uma citologia aspirativa com agulha fina, que recolhe células do nódulo para estudo microscópico.
. Cintigrafia da tiróide
Em situações mais específicas deverá ser realizada uma cintigrafia da tiróide.
Quais são as doenças mais frequentes da tiróide?
As doenças da tiróide afetam sobretudo as mulheres e a sua prevalência aumenta com a idade.
Pela frequência da patologia da tiróide no sexo feminino e o papel fundamental das hormonas tiroideias no desenvolvimento e crescimento do feto, é muito importante divulgar estas doenças e educar as mulheres em idade fértil para a avaliação da função tiroideia previamente à gravidez, sobretudo quando há história pessoal ou familiar destas doenças.
. Hipotiroidismo
Ocorre quando há uma quantidade insuficiente de hormonas produzidas pela tiróide na corrente sanguínea. Este défice compromete o normal funcionamento do organismo.
O hipotiroidismo é uma patologia que se manifesta lentamente e os seus sinais e sintomas podem ser inespecíficos. Os que estão mais vezes presentes são: cansaço, maior sensibilidade ao frio, queda de cabelo, pele seca, aumento de peso, edemas, fraqueza muscular, depressão, obstipação, irregularidades menstruais e infertilidade. Estes sintomas nem sempre são valorizados pelo doente e o seu diagnóstico é muitas vezes tardio.
. Hipertiroidismo
Ocorre quando há um excesso das hormonas tiroideias, o organismo encontra-se “acelerado”.
Existe hipertiroidismo quando a glândula tiróide produz hormonas em quantidades excessivas, levando a um “aceleramento” do organismo. Os sintomas mais frequentes são: emagrecimento associado ao aumento do apetite, diarreia, palpitações, aumento da sudorese, o tremor, a irritabilidade e insónias. As irregularidades menstruais e a infertilidade também estar presentes. Esta situação deve ser rapidamente tratada pois pode cursar com arritmias que podem ser fatais.
. Doenças autoimunes
Acontecem quando o organismo não reconhece a tiróide como parte integrante e começa a defender-se dela, através de anticorpos dirigidos contra a glândula tiróide, que a podem estimular ou destruir, sendo a causa mais frequente de hipotiroidismo e hipertiroidismo. São exemplo de doenças autoimunes: a Doença de Graves (hipertiroidismo) e a Tiroidite de Hashimoto (hipotirodismo).
. Bócio
Ocorre quando a tiróide está aumentada, de forma difusa ou nodular.
O termo bócio refere-se simplesmente ao crescimento anormal da glândula tiróide. Em primeiro lugar, é importante referir que esse crescimento não é necessariamente sinónimo de mau funcionamento da tiróide, mas que a disfunção da tiróide pode coexistir.
O bócio quando volumoso pode estar associado a sintomas compressivos sobre estruturas próximas da tiróide, provocando alterações da voz ou rouquidão e tosse irritativa, dificuldade em respirar e em comer.
. Nódulos na tiróide
Nódulos quase sempre indolores, na zona do pescoço. A grande maioria é benigna, sendo que apenas cerca de 5% destes são malignos, ou seja, cancro da tiróide.
Não há uma causa isolada que se possa identificar como sendo a responsável pelo aparecimento de nódulos (Bócio Nodular ou Nódulos da Tiróide). A idade avançada, o sexo feminino, história familiar de nódulos da tiróide, irradiação prévia da cabeça e do pescoço, e deficiência de iodo são factores associados ao aparecimento de nódulos.
Existem vários tipos de nódulos, mas a principal preocupação perante um nódulo é saber se se trata de um nódulo que produz hormonas de forma autónoma, pelo que o seu risco de malignidade é quase nulo ou se é um nódulo maligno, o que ocorre em cerca de 4 a 6,5% dos casos.
Após a caracterização dos nódulos por ecografia e eventual realização de citologia, para caracterização das suas células, dependendo do resultado, os nódulos poderão ter indicação para vigilância ou cirurgia, ou eventualmente outras técnicas. Os sintomas associados, questões estéticas e a preferência do doente tem que ser consideradas.