A educação nos dias de hoje é uma tarefa verdadeiramente complexa, exigente. Como poderemos ter sucesso contando apenas com a intuição e com o instinto?
Apenas intuição e instinto não chegam?!
Precisamos ter ideias muito claras sobre o que podemos esperar de um filho em cada idade, sobre como se constroem (boas) relações humanas e, não menos importante, sobre NÓS mesmos. Precisamos de quebrar o ciclo da vergonha, do castigo, da culpa e da crítica que caracterizavam os métodos mais autoritários e encontrar alternativas, aprendendo a inspirar os nossos filhos.
A intuição é apenas o conhecimento directo da verdade. Não envolve nenhum raciocínio consciente nem um conhecimento analítico. E o instinto é apenas um movimento inato de sobrevivência e conservação da espécie. Por exemplo, amamentar é, em parte, instinto, em parte intuição (e também, claro, um certo conhecimento inconsciente colectivo).
Porém, educar um filho envolve uma série de reflexões, decisões, comparações sobre o que faço, o que já fiz, o que deverei fazer e o que deveria ter feito. Educar é ser consistente, responsável, tentar fazer escolhas sensatas, pensar sobre as acções e as suas consequências, criar limites. É também saber gerir as frustrações do filho, motivá-lo, dar o exemplo, enfim, inspirar. Educar é liderar, liderar é inspirar!
Oiço muitas vezes afirmações como “os grandes líderes já nascem assim”, “já se nasce pai”, “já se nasce mãe”… Não concordo com isso.
O que sei – e que é 100% verdade – é que os “melhores pais” são criados, são resultado de um esforço consciente. Algumas pessoas pensam que os pais mais felizes e bem-sucedidos tiveram muita sorte ou nasceram com características que lhes facilitaram a vida. Sinceramente, não acredito.
Conheço pessoas “comuns” das mais variadas origens que são pais e líderes verdadeiramente incomuns e que são felizes mesmo em tempos de atribulação! Uma outra verdade é que os líderes mais incríveis e inspiradores que conheço não têm níveis de coragem superiores aos da maioria das pessoas: simplesmente procuraram aprender mais sobre si mesmos e sobre liderança intencional.
Esses pais incríveis sabem, por exemplo, que “disciplina” é uma palavra ambígua. Pensa-se habitualmente que “disciplina” e “castigo” são sinónimos. Não são. A palavra “disciplina” deriva do Latim “discipulus” (“aquele que aprende”, “aquele que segue”, “seguidor da verdade”). Isto é, disciplinar é ensinar, instruir, orientar, educar, treinar. Gradualmente, foram sendo adicionados – infelizmente – outros significados, como “estabelecimento da ordem” ou “castigo”.
Um pai deve ser o primeiro influencer do seu filho.
Precisa de satisfazer a sua sede de curiosidade e de independência (aquilo a que chamo “poder pessoal”). Essa curiosidade e essa necessidade de independência não devem ser interpretadas como maus comportamentos nem provocações. Disciplinar um filho não é castigá-lo quando se porta mal (o único objectivo do castigo é levar o filho a obedecer e apenas funciona no momento; não tem valor a longo-prazo nem ensina nenhuma competência).
Tudo no papel de pai tem a ver com liderança.
Liderar significa orientar, mostrar um caminho, uma visão clara de futuro, ter um propósito. Significa também exercer a democracia: respeito mútuo, regras bem estabelecidas, liberdade com responsabilidade e tempo e espaço para todos exercerem o seu poder e os seus talentos.
Ai a democracia, a democracia!
O estilo democrático pressupõe amor e disciplina, carinho e firmeza, espaço para os mais novos poderem exercer o seu poder, mas também limites com regras. O método democrático, em oposição ao método autoritário ou autocrático – que supõe a aplicação de prémios e castigos – usa, em alternativa, o encorajamento, a busca de soluções, a escuta, a negociação positiva. A democracia promove a cooperação, o diálogo, a responsabilidade partilhada de todos os elementos da equipa (família, escola, nação). Embora pais e filhos, líderes e seguidores, mestres e discípulos não tenham que ter os mesmos conhecimentos, as mesmas responsabilidades e os mesmos direitos, existe algo que tem que ser igual para todos: a dignidade e o respeito.
A liderança democrática produz filhos responsáveis, pois tanto no método autoritário (onde o responsável é sempre o adulto) como no permissivo (onde nem sequer existe responsável), um filho não tem, habitualmente, espaço para treinar a sua própria responsabilidade, competência tão importante para o seu crescimento e para a sua felicidade!
Por isso, se quer inspirar o seu filho, não conte apenas com a intuição, o instinto, o saber colectivo nem os palpites que ouve en passant.
Os grandes líderes não nascem, fazem-se. O segredo é que se preparam para tal. Sabem como aumentar o seu auto conhecimento…e é isso que o leitor também quer. Vamos continuar a falar mais sobre isso… Nunca houve um momento tão crítico para se preparar e saber o que fazer…do que agora.
Até breve!