Quando falamos em poluição ambiental normalmente lembramo-nos de reciclar, fechar a torneira quando escovamos os dentes e/ou apagar as luzes ao sair casa. Quase nunca nos lembramos do impacto gigante das nossas atividades mais básicas e necessárias. Uma dessas atividades é a alimentação, crucial para qualquer organismo vivo e que, através da produção de alimentos, representa 25% a 30% dos gases de efeito de estufa presentes na atmosfera.
Os impactos ambientais da indústria alimentar são muitos e variados.
Se a agropecuária, produção de alimentos processados e transporte são maioritariamente movidos a combustíveis fósseis, a agricultura para produção de alimentos – para além da utilização desregulada de pesticidas e desmatamento que provoca – utiliza 70% da água doce disponível no planeta para conseguir garantir os níveis de produção atuais.
Se há 15 mil anos a nossa alimentação era baseada em frutas, raízes e animais caçados – uma dieta sustentável que respeitava os ciclos da natureza – com o início da produção agrícola o caso mudou de figura, com muitas espécies a serem alvo de modificações genéticas para consumo e com a produção a aumentar para níveis descontrolados, muito superiores aos necessários.
Como um quilo de alface tem um valor calórico muito diferente a um quilo de queijo, para esta lista, em vez de considerarmos a quantidade de alimento produzido, vamos, sim, focar-nos na pegada carbónica de 100 calorias ingeridas (qual o volume de Dióxido de Carbono libertado na produção de 100 calorias fornecidas por esse alimento).
Quais os 6 alimentos mais comuns dos quais o meio o ambiente não gosta assim tanto?
1. Pão
É verdade. Por mais inofensiva que pareça, aquelas fatias de pão naquele brunch de Domingo pode não ter sido assim tão positiva para o ambiente… É que por cada 100 calorias fornecidas pelo pão comum são produzidas 50 gramas Dióxido de Carbono. Para este cálculo contribuem os grandes usos de energia e recursos na colheita e irrigação do trigo e, ainda, o uso do fertilizante sintético Nitrato de Amónio, o mais comum nesta cultura e que, sozinho, representa 43% das emissões de todo o processo de panificação.
2. Chocolate
É doce, faz bem (com alguma moderação) e não passa despercebido nas nossas ceias de Natal. Contudo, este nosso pequeno prazer é apenas mais um incómodo para o meio ambiente. Com 70% da produção de cacau concentrada na região oeste do continente africano, grande parte da sua produção é garantida a partir de trabalho infantil e desmatamento por meio de queimadas. Se por um lado a produção de um quilo de chocolate pode gastar até 24 mil litros de água, por outro, emite entre 2,9 a 4,2 Kg de Dióxido de Carbono. Na nossa escala, por cada 100 calorias são emitidas 59 gramas de gás carbónico.
3. Doces e bolos
Num acumulado entre produção, processamento e transporte de todos os componentes, estes pratos que nunca faltam em qualquer festa de aniversário surgem a meio da nossa lista. Um dos grandes contribuidores é o açúcar de cana, responsável pela perda de vários habitats de espécies, poluição, erosão e degradação do solo. Esta cultura é também responsável por utilizar mais de 18 mil litros de água por quilo de açúcar produzido. No nosso ranking entra em 4º lugar com emissões de 81 gramas de Dióxido Carbono por 100 calorias ingeridas.
4. Carne
Já é vista por muitos como a grande inimiga da sustentabilidade, seja por motivos de saúde, moral ou ambiente. Por mais tímida que seja a tendência, é possível notar-se que cada vez mais pessoas estão a reduzir o consumo deste tipo de alimentos nas suas rotinas. E, este terá de ser o caminho. Para produzir um quilo de carne é necessária a mesma quantidade de água que uma família, em média, utilizaria durante 10 meses para suprimir as suas necessidades básicas. Este valor varia entre regiões, políticas industriais e tipos de carne, com um quilo de carne bovina a gastar cerca de 15.400 litros de água e a produzir 27 kg de Dióxido de Carbono. O record mantém-se na carne de borrego, a protagonista de grande parte das nossas Páscoas, em que, por cada quilo de carne produzido, são libertados 39 kg de Dióxido de Carbono e consumidos 43.000 litros de água. As contas ficam ainda mais assustadoras quando multiplicamos a produção a nível global – dos 5 milhões de hectares de terra utilizados para produção de alimentos, 68% são exclusivos à indústria pecuária. Em média, por cada 100 calorias de carne ingeridas são emitidos 248 gramas de Dióxido de Carbono.
5. Leite
Não é novidade. A indústria do leite, para todos os vegans e informados, é uma das indústrias mais prejudiciais ao meio ambiente – tanto em termos éticos, de saúde e ambientais. Cada 100 calorias dadas pelo leite produzem 351 gramas de gás carbónico. Em termos de gastos de água, para a produção de 1 litro de leite são utilizados 880 litros de água. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU) para a Alimentação e Agricultura, uma viagem de carro de 100 km liberta tantos gases de efeito de estufa como a produção de 5 litros de leite. Para além disto, se falarmos ainda num dos seus derivados – o queijo – encontramos um dos alimentos com maior pegada ecológica, onde, por cada quilo consumido, são emitidos 13 kg de Dióxido de Carbono.
6. Ovos
Sabia que para apenas 60 gramas de ovos são utilizados 200 litros de água? No nosso ranking este alimento entra em primeiro lugar com cada 100 calorias ingeridas a gerarem 440 gramas de Dióxido de Carbono. O que explica isto? Um dos grandes fatores para estes números astronómicos está relacionado com a alimentação das aves em aviário – muitas das rações utilizadas incluem soja, uma cultura muito exigente que, por cada 450 gramas, utiliza 1000 litros de água. Em média, a pegada de Carbono da indústria é de 5 kg de Dióxido de Carbono por cada caixa de 24 ovos.
A ideia não é ser extremista.
Calma, nada disso. Contudo, ter noção do impacto que esta atividade básica, supostamente inofensiva, tem no ambiente deve ser o mote para fazer algumas pequenas alterações.
Se prefere não pensar no planeta, pense na sua saúde. Estudos dizem que os portugueses se alimentam mal – comendo mais do que as 100 gramas de carne recomendadas, com todas as eventuais doenças associadas a esse comportamento – desrespeitando a roda dos alimentos e a própria dieta mediterrânica que, por respeito geográfico, devíamos assumir de braços abertos. É esta uma das sugestões da Associação Portuguesa dos Nutricionistas para uma alimentação sustentável, seguir uma alimentação mediterrânica, preferir alimentos frescos, da época e locais – tudo isto com a mesma ótica de Repensar, Reduzir, Reutilizar e Reciclar.
Se é certo que a indústria alimentar tem muito por onde melhorar a níveis de distribuição – neste momento produzimos alimentos suficientes para as necessidades globais, mas continuamos a mandar para o lixo 1/3 de toda a comida produzida – cada um de nós deve ser um ponto-chave desta mudança.
Se cada compra nossa é um voto, cada decisão tem um impacto gigante. Começar a reduzir e a equilibrar a nossa alimentação é uma forma fácil de poupar dinheiro, gerar saúde para as pessoas que mais gostamos e contribuir para um planeta mais rico e fértil.